22 de março de 2010

Nenhuma forma de violência é legítima!



1 em cada 4 jovens é vítima de violência no namoro são as conclusões de um estudo realizado no ano passado em Portugal com jovens entre os 15 e os 25 anos. No mesmo estudo verificou-se que 20% sofria de violência emocional, 14% de violência física e 30% admitiu ter agredido o parceiro (Caridade e Machado, 2008). 

Sentimo-nos alarmados por estes dados e entendemos que este problema pode e deve ser abordado por vários ângulos. Em primeiro lugar porque a violência conjugal, ou doméstica tende a ser precedida por namoros já violentos. 

O problema da violência no namoro tem acima de tudo a ver com a capacidade de identificarmos em que consiste esta violência que é mais subtil, mas não menos grave, acima de tudo porque se desenvolve entre jovens cuja personalidade está ainda em desenvolvimento, donde, as consequências serão potencialmente mais duradouras. 

Podemos classificar a violência no namoro em três eixos principais: o do controlo (através da restrição da liberdade do outro, tentativas de afastamento do grupo de amigos, controlo do telemóvel, etc.); o do assédio sexual (os “apalpões”, a tentativa de intimidade não consentida, a difusão de rumores sobre a vivência sexual do outro); e o abuso sexual (coacção para a iniciação da vida sexual ou de práticas alternativas). Nenhuma forma de violência é legítima!

É também, absolutamente importante identificar quais os factores de risco para as vítimas e agressores. De um modo geral, a vítima pode apresentar características, tais como: uma idade inferior aos 15 anos, concordar com os papéis tradicionais de que os homens são controladores e as mulheres submissas, encontrar-se nas primeiras relações sexuais, ter sido vítima em relações anteriores, sofrido maus-tratos na infância, relações sexuais ocasionais (nº de parceiros), estatuto sócio-económico baixo, isolamento, baixa auto-estima, depressão e ansiedade. Por outro lado, os agressores apresentam, geralmente, conformidade com os papéis tradicionais, sofreram/presenciaram maus-tratos na infância, foram vítimas de abuso sexual, consomem álcool e drogas, possuem uma índole de hostilidade e impulsividade e um desconhecimento da ilegalidade do acto. Salienta-se que as vítimas, no entanto, podem também chegar a ser agressoras nalgum momento das suas vidas, ou vice-versa, uma vez que estes dois grupos apresentam algumas características em comum. No fundo, dependerá das circunstâncias e eventualmente da forma como se desenrolam as primeiras relações amorosas a decidir se estamos perante uma pessoa que será predominantemente agressora ou vítima.

Também existem factores situacionais que potenciam a violência. Situações essas, geralmente, de consumo de álcool e de droga, em que existe um conhecimento prévio da vítima, um isolamento do contexto, uma actividade sexual consentida anteriormente e uma distorção do grau de interesse da vítima. 

O impacto na vítima de violência é catastrófico: sentimentos de humilhação, ansiedade, depressão, disfunções sexuais, tentativas de suicídio, perturbação de stress pós-traumático, desordens alimentares, baixa auto-estima, auto-percepção nas relações amorosas, entre outros. Nenhuma forma de violência é legítima!

Por tudo isto, é importante prevenir e sensibilizar para a violência no namoro. Existem, no entanto, programas específicos de prevenção que se dividem em três grandes grupos sendo eles: a prevenção primária (destina-se a crianças e jovens pré-adolescentes que nunca tiveram contacto com qualquer tipo de violência), prevenção secundária (para jovens a iniciar a vida amorosa também sem contacto com violência) e prevenção terciária (para pessoas que já foram vítimas de alguma espécie de violência). Realça-se a importância de criar programas, nomeadamente, os que envolvam discussões, workshops, teatro, vídeos, estratégias de resolução de conflitos, treino de assertividade, identificação do risco, treino de comunicação com expectativas sexuais, entre outros. Esta intervenção funciona tanto ao nível da vítima como do agressor, ou seja, visa consciencializar a população juvenil da gravidade e do impacto da violência e, ao mesmo tempo, promover comportamentos não violentos nas relações íntimas, procurando diminuir a probabilidade de os jovens se tornarem, futuramente ofensores ou vítimas. Os grupos de apoio e os observatórios da comunidade escolar também são importantes para combater esta problemática da violência no namoro. 

Globalmente, sabemos hoje que a violência é um ciclo ou se quisermos uma espiral. Se temos violência doméstica, com agressor e vítima dentro do casal, temos provavelmente uma criança que assiste ou é vítima de violência também. Que por vezes é um bullie na sua escola. Escola onde os jovens que namoram hoje serão os pais de amanhã. Nenhuma forma de violência é legítima!


Reportagem SIC - "Amor do Avesso" (01-Junho-2009)


Fotografia em: Deviantart by shattered-ex

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