17 de fevereiro de 2008

Inteligência Emocional: Desconstruindo o Mito



A inteligência emocional tem merecido uma particular atenção da comunidade científica e do público em geral nos últimos 20 anos. O conceito foi amplamente difundido por Daniel Goleman na década de 90, inicialmente apenas no âmbito empresarial, estendendo-se só mais tarde a outras áreas da psicologia. Ao cair no domínio dos jornais e revistas este conceito científico tornou-se difuso e foi mistificado com finalidade comercial. Por oposição à inteligência dita clássica, ao conceito de QI e às desigualidades sociais a que estes estiveram desde cedo associados, aparecia uma nova inteligência, um QE, e uma nova esperança para todos aqueles que se consideravam prejudicados pelos conceitos clássicos de inteligência.
Um dos aspectos que tornou o conceito tão apelativo é a junção de dois termos aparentemente antagónicos (inteligência e emoção), que tradicionalmente constituem áreas distintas de análise. A primeira dúvida que surge acerca desde conceito é se ele existirá realmente, isto é, virá ele ocupar um nicho ainda não explicado ao nível do funcionamento mental do ser humano? E se assim for em que medida ele é realmente novo ou apenas um aglomerado de características e de mecanismos anteriormente explicados noutros domínios do estudo da inteligência e da personalidade? É com estas e outras questões que a comunidade científica se tem debatido, sem chegar a consensos à volta de definições para o conceito e na construção de instrumentos para a avaliação do mesmo. Neste momento a definição mais amplamente aceite é a que Mayer e Salovey propuseram em 1997, que conceberam a inteligência emocional como a aptidão para perceber, expressar e assimilar emoções, para compreender e raciocinar emocionalmente e regular a emoção no próprio e nos outros. Sabemos claramente que as emoções não são inteligentes, embora sejam inegavelmente adaptativas. Portanto, para uma regulação emocional efectivamente inteligente necessitamos claramente de ferramentas como raciocínio abstracto e estratégias para a resolução de problemas. Só muito dificilmente conseguiremos conceber este conceito como independente da inteligência ou da personalidade, ou com uma relação linear entre estes. A perspectiva de que a inteligência emocional se refere à capacidade para raciocinar com e sobre as emoções salienta a necessidade de que, para além do que ao campo emocional especificamente se refere, é necessário identificar o que melhor permite a percepção, compreensão e regulação das emoções, considerando-as facilitadoras do pensamento e como potenciais promotoras do desenvolvimento emocional e intelectual.
Em síntese muitas perguntas permanecem em aberto e muita investigação tem ainda pela frente um conceito que tem bastante potencial, mas que certamente não contém respostas mágicas ou lineares para os problemas complexos do nosso funcionamento mental quotidiano…

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira) psivrsa@gmail.com