Eu não sei nada sobre adolescentes. Nada. E o mais engraçado é que acho que esse é que é o truque. Conheço muitos adolescentes e alguns já os conheço há muito tempo… E são como os bombons. Nunca sabemos qual é o recheio.
Os próprios adolescentes também não se conhecem. Eles também andam desorientados. E digo mais, o adolescente que achar que se conhece perfeitamente tem um de dois males: ou está doente ou ainda não viveu a adolescência.
A adolescência não dá para controlar com paninhos quentes. É uma guerra interior. Uma guerra para testar os limites. Do corpo e da mente. Os nossos limites e os dos outros (pais, professores e, porque não, da polícia).
O problema é que, na adolescência, os aspectos evolutivos e patológicos coexistem e podem confundir-se. Para se desenvolver o adolescente precisa de arriscar. O adolescente doente é aquele que não arrisca, mas também aquele que arrisca sem controlo. E a linha entre o risco evolutivo e o risco patológico é muito ténue.
Nasio (2002) fala das crises que fazem crescer a criança e as duas últimas crises situam-se na adolescência. O primeiro amor (13-15 anos) e a saída de casa (18-25). No final de cada crise o jovem faz um balanço dos ganhos e das perdas.
Estas crises/desafios permitem ao jovem lapidar uma personalidade, e ultimar pormenores para a vida adulta. Como tal, os ganhos deverão ser a autonomia, a identidade sexual, social e profissional. O jovem irá guardar da infância, a alegria de criar, a amizade, o espírito crítico. Neste modelo, o maior risco que existe para o adolescente é o de pouco ou nada poder aproveitar da infância, ou não guardar o suficiente para os desafios da vida.
A imaturidade é a parte preciosa da cena adolescente. Contém os traços mais estimulantes: o pensamento criativo, sentimentos novos e refrescantes, ideais para uma nova forma de viver. E a sociedade precisa disso. Precisa que alguém sem responsabilidades assumidas levante problemas, sacuda as mentes e os poderes instalados. E ouse transgredir, nesse sentido. Para tal são necessários que os tais adultos confiantes e responsáveis. Que não abdiquem, eles próprios, das suas responsabilidades parentais, em troca duma convivência semi-saudável com os filhos. Quando as responsabilidades parentais, as decisões fundamentais são transferidas para os adolescentes (que não estão preparados para tal), obrigamo-los a um envelhecimento precoce e a uma falsa maturidade. Devemos, portanto, resistir com todas as forças a transferir-lhes responsabilidades que não lhes competem, ainda que eles as exijam todos os dias. Assim, nesta condição, podemos assistir aquilo que de mais belo tem a adolescência, que é a sua imaturidade e o facto de estar livre de responsabilidades. O verdadeiro triunfo é conseguir atingir esta maturidade de uma forma natural, com regras, e que esse novo adulto constitua um cais para outras crianças e adolescentes futuros.
Muitos pais recorrem a nós, psicólogos, porque querem formas, ideias para ajudar os filhos. Não há muitas formas de ajudar os adolescentes. Os pais devem, sim, tentar sobreviver a uma fase em que também eles serão postos à prova e em que precisam de ter uma absoluta confiança na sua capacidade parental e na sua maturidade. É normal que sejam assaltados por inseguranças donde, a importância de adultos confiantes, dialogantes, e bem resolvidos.
Temos uma sociedade que se esforça por respeitar a infância e devemos estender esse desafio também à adolescência. Não podemos continuar a colocar os nossos adolescentes na rua e atirá-los para a marginalidade.
Um dos mais interessantes e libertadores movimentos do século XX foi fruto da rebeldia adolescente. O Maio de 68. Estamos todos, em dívida para com eles.
Por isso é bom que os jovens modifiquem a sociedade e ensinem aos adultos a viver de uma forma nova. E que onde quer que esteja presente o desafio de um jovem, que possa estar um adulto à altura desse desafio. E isso não é necessariamente agradável. Mas é crucial…