28 de maio de 2009

Riscos

 "À noite, quando estou no meu quarto, deitada na minha cama, sozinha comigo...Eu ouço os meus pensamentos, que confusos, aflitos, desesperados, buscam um silêncio harmonioso, infinito, completo. Por vezes desejo a morte, para que o tormento termine. Quase sempre peço outra vida, para que a morte não seja o fim."MA

Eu não sei nada sobre adolescentes. Nada. E o mais engraçado é que acho que esse é que é o truque. Conheço muitos adolescentes e alguns já os conheço há muito tempo… E são como os bombons. Nunca sabemos qual é o recheio.
Os próprios adolescentes também não se conhecem. Eles também andam desorientados. E digo mais, o adolescente que achar que se conhece perfeitamente tem um de dois males: ou está doente ou ainda não viveu a adolescência.
A adolescência não dá para controlar com paninhos quentes. É uma guerra interior. Uma guerra para testar os limites. Do corpo e da mente. Os nossos limites e os dos outros (pais, professores e, porque não, da polícia).
O problema é que, na adolescência, os aspectos evolutivos e patológicos coexistem e podem confundir-se. Para se desenvolver o adolescente precisa de arriscar. O adolescente doente é aquele que não arrisca, mas também aquele que arrisca sem controlo. E a linha entre o risco evolutivo e o risco patológico é muito ténue.
Nasio (2002) fala das crises que fazem crescer a criança e as duas últimas crises situam-se na adolescência. O primeiro amor (13-15 anos) e a saída de casa (18-25). No final de cada crise o jovem faz um balanço dos ganhos e das perdas.
Estas crises/desafios permitem ao jovem lapidar uma personalidade, e ultimar pormenores para a vida adulta. Como tal, os ganhos deverão ser a autonomia, a identidade sexual, social e profissional. O jovem irá guardar da infância, a alegria de criar, a amizade, o espírito crítico. Neste modelo, o maior risco que existe para o adolescente é o de pouco ou nada poder aproveitar da infância, ou não guardar o suficiente para os desafios da vida.
A imaturidade é a parte preciosa da cena adolescente. Contém os traços mais estimulantes: o pensamento criativo, sentimentos novos e refrescantes, ideais para uma nova forma de viver. E a sociedade precisa disso. Precisa que alguém sem responsabilidades assumidas levante problemas, sacuda as mentes e os poderes instalados. E ouse transgredir, nesse sentido. Para tal são necessários que os tais adultos confiantes e responsáveis. Que não abdiquem, eles próprios, das suas responsabilidades parentais, em troca duma convivência semi-saudável com os filhos. Quando as responsabilidades parentais, as decisões fundamentais são transferidas para os adolescentes (que não estão preparados para tal), obrigamo-los a um envelhecimento precoce e a uma falsa maturidade. Devemos, portanto, resistir com todas as forças a transferir-lhes responsabilidades que não lhes competem, ainda que eles as exijam todos os dias. Assim, nesta condição, podemos assistir aquilo que de mais belo tem a adolescência, que é a sua imaturidade e o facto de estar livre de responsabilidades. O verdadeiro triunfo é conseguir atingir esta maturidade de uma forma natural, com regras, e que esse novo adulto constitua um cais para outras crianças e adolescentes futuros.
Muitos pais recorrem a nós, psicólogos, porque querem formas, ideias para ajudar os filhos. Não há muitas formas de ajudar os adolescentes. Os pais devem, sim, tentar sobreviver a uma fase em que também eles serão postos à prova e em que precisam de ter uma absoluta confiança na sua capacidade parental e na sua maturidade. É normal que sejam assaltados por inseguranças donde, a importância de adultos confiantes, dialogantes, e bem resolvidos.
Temos uma sociedade que se esforça por respeitar a infância e devemos estender esse desafio também à adolescência. Não podemos continuar a colocar os nossos adolescentes na rua e atirá-los para a marginalidade.
Um dos mais interessantes e libertadores movimentos do século XX foi fruto da rebeldia adolescente. O Maio de 68. Estamos todos, em dívida para com eles.
Por isso é bom que os jovens modifiquem a sociedade e ensinem aos adultos a viver de uma forma nova. E que onde quer que esteja presente o desafio de um jovem, que possa estar um adulto à altura desse desafio. E isso não é necessariamente agradável. Mas é crucial…