22 de julho de 2014

Gestão de Conflitos



“É melhor enfrentá-lo com habilidade pessoal do que evitá-lo”
(Chrispino, 2004)


Os conflitos não são uma situação nova, são acontecimentos normais do desenvolvimento humano. São toda a opinião divergente ou forma diferente de ver ou interpretar algum acontecimento. 

Todos nós temos personalidades diferentes, interesses diferentes e objetivos de vida diferentes. Assim, é normal que muitas vezes nos encontremos em situações de divergência.
Geralmente o conflito é encarado como um acontecimento negativo, pois é visto pela maioria das pessoas como um comportamento pouco saudável, associado à angústia, à dor e à violência, que pode afetar negativamente as relações sociais e o processo ensino e aprendizagem, supondo-se então que o melhor é evitá-lo ou eliminá-lo do nosso dia-a-dia. No entanto, os conflitos não devem ser evitados ou eliminados, pois estes possuem inúmeras vantagens. Numa perspectiva positiva, o conflito estimula o interesse e a curiosidade, transforma positivamente as relações entre os envolvidos, ajuda a equilibrar as relações sociais e a compreender o ponto de vista do outro, aumenta a cooperação entre as pessoas e ensina que a discórdia pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal e social.

A verdade é que o conflito só por si não é algo positivo ou negativo, mas é o modo como o gerimos e enfrentamos que lhe vai atribuir essa condição. Por exemplo, durante um processo de divórcio um ex-casal luta pela posse de uma casa.  Se as hipóteses de solução deste conflito se resumirem a uma competição, existindo a possiblidade de haver apenas um ganhador, vai ser negativo pois alguém vai ter de perder para o outro ganhar. Por outro lado, se as hipóteses de solução deste conflito passarem pela colaboração, é possível procurar uma solução que seja positiva para ambos, podendo haver dois ganhadores. Isto é, poderiam optar por vender o carro e dividir o lucro, sendo que assim ambos sairiam beneficiados e um não perdia face ao outro. No entanto, nem tudo o que é disputado em conflitos são bens materiais. Muitas vezes estes conflitos passam por ideias, interesses ou objetivos, que devem ser bem discutidos e negociados, recorrendo a cedências por parte de ambos os envolvidos. Ademais, estes também incluem, por diversas vezes, a disputa de filhos em situações de divórcio, o que revela a elevada importância que uma boa resolução de conflitos pode ter.

Deste modo, para que seja possível tirar algo de vantajoso destas situações e chegar a um consenso satisfatório para todos, devemos recorrer à transformação do modo como enfrentamos os conflitos, promovendo estilos mais adequados de os gerir e resolver, tornando-os em algo mais positivo e construtivo. 

Neste sentido, foi realizado um Programa de Intervenção para a Gestão dos Conflitos Escolares, numa turma do Município de Vila Real de Santo António, com o objetivo de promover métodos mais adequados de gestão e resolução de conflitos entre alunos. Para isso, numa primeira sessão, foram abordados temas como a confiança, as competências sociais e a coesão grupal, que se revelam fatores de alta importância para uma eficiente gestão de conflitos, e, numa segunda sessão, foi desenvolvido o processo de Mediação de conflitos (que se trata de um procedimento no qual os envolvidos, com a ajuda de uma terceira pessoa imparcial, analisam o conflito e desenvolvem soluções alternativas, adaptadas e satisfatórias para todos), de modo a habilitar os alunos a serem capazes de intervir e solucionar eficazmente situações de conflito interpessoal.

Finalizando, para uma gestão adequada dos conflitos é importante lembrar que não devemos remar cada um para seu lado, mas remar juntos na mesma direção, pois unidos somos mais e melhores!

Os Factores de Risco e Manutenção das Perturbações do Comportamento Alimentar na Adolescência


Vivemos livres numa prisão.
Daniel Sampaio

A alimentação tem uma importância fundamental para o desenvolvimento adequado das crianças e dos adolescentes. A manutenção de um padrão alimentar apropriado reflecte-se na saúde física e mental, no entanto esse padrão por vezes é desconhecido tanto para os adolescentes como para os adultos que com eles vivem.
A adolescência é um período de grande vulnerabilidade, pois o adolescente tem um profundo desejo de exercer a sua independência, procurar a sua identidade e imagem corporal ideal, tomar as suas próprias decisões, experimentar novos estilos de vida e muitas vezes negar os valores já existentes. Estes factos levam à adoção de novos padrões alimentares por vezes com motivações de independência familiar ou de influência dos seus pares ou heróis. Também nesta idade uma autoimagem satisfatória e o facto de serem vistos de forma atraente pelos outros, constitui uma prioridade. 
Os comentários desagradáveis acerca do peso e forma corporais entre pares têm um efeito directo na insatisfação corporal e na adopção de Perturbações do Comportamento Alimentar.
Estas perturbações, representados pela Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e pelas Perturbações do Comportamento Alimentar sem Outra Especificação, são transtornos frequentemente crónicos e associados a um elevado índice de morbilidade.
Caracterizam-se por uma preocupação mórbida com o peso e imagem corporal, como principal fonte de autoestima, conduzindo a um comportamento alimentar progressivamente ritualizado e provocando graves distúrbios somáticos que comprometem a saúde e põem em risco a própria vida.
Vários factores de risco têm sido implicados no desenvolvimento desta perturbação, como a adolescência, no sexo feminino, viver numa sociedade ocidental; com história familiar de PCA, alcoolismo, abuso sexual, depressão e obesidade.
As características da família (relações interpessoais, opinião sobre o corpo, hábitos alimentares, abuso de substâncias) podem também constituir importantes factores na génese e manutenção destes problemas. Em muitos casos, a família pode manter, mediatizar e complicar a evolução da doença, pelo que no seu tratamento, por vezes são usadas técnicas de terapia familiar.
Os comportamentos de dieta na família são aprendidos e podem ser adoptados pelos adolescentes que vêm a desenvolver mais tardiamente estas doenças. 
Outro factor de risco importante são os casos de Alcoolismo e de abuso de outras substâncias em familiares em primeiro grau dos indivíduos com Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa; nestes doentes os comportamentos mais frequentemente observados são os episódios bulímicos, a recorrência ao vómito, ao abuso de laxantes e outros medicamentos ao longo da doença.
Entre os fatores socioculturais é possível destacar: a cultura ocidental com as suas mudanças dietéticas, a influência dos meios de comunicação na transmissão dos actuais padrões de beleza e sucesso social e a moda.
Somos diariamente confrontados, através dos meios de comunicação social, com verdadeiros modelos estéticos, que nos impõem ou criam o desejo da procura de um enquadramento nesses padrões, podendo-se afirmar que o ideal de magreza é cobiçado por todos. No entanto, muitas vezes, os corpos perfeitos difundidos pelos media, não passam de imagens manipuladas e artificiais. 
Todos estes factores de risco podem influenciar o desenvolvimento das Perturbações do Comportamento Alimentar. Considera-se importante denunciar junto dos nossos adolescentes o ideal de magreza, minimizar a aparência como principal razão de admiração, enfatizando outras características, como a competência e o esforço, para além da aparência.
Em suma, as perturbações do comportamento alimentar devem ser entendidas como doenças que reflectem a confluência entre a psicologia individual, os determinantes biológicos, as dinâmicas familiares e os fatores socio-culturais. O entendimento, a interpretação e a compreensão dos comportamentos e atitudes disfuncionais perante o corpo e a alimentação, só farão sentido numa perspectiva multidimensional, cada um destes fatores por si só, é necessário, mas não suficiente. 


Psicoterpia: Tempo e Compromisso


“A única coisa que se aprende 
e realmente faz diferença no comportamento da pessoa que aprende 
é a descoberta de si mesma.” 
Carl Rogers

Hoje as pessoas estão mais sensibilizadas para a importância dos psicólogos, para a necessidade de procurar ajuda psicológica mas por vezes mostram-se decepcionadas pela intervenção proposta ou com a falta de resultados imediatos.
A psicoterapia envolve um processo de mudança da pessoa, da forma de perspectivar a vida, de se relacionar com os outros e certamente uma mudança no seu eu, de modo a que a pessoa se encontre mais próxima daquilo que deseja ser e em se sinta mais em paz consigo própria.
Tal como nesta fase do ano as pessoas procuram estratégias para apresentar um corpo elegante no Verão, muitas procuram também formas de ser mais felizes, mais amadas, mais realizadas.
No que toca ao emagrecimento, sabemos que existem todo o tipo de produtos, mais de marketing do que outra coisa, que prometem dietas milagrosas, corpos esculturais, tudo sem dor, sem esforço e sobretudo sem ter de mudar nada no que toca ao estilo de vida.
Também no que toca ao bem-estar psicológico existem também muitas promessas de soluções milagrosas, desde livros de auto-ajuda, a tratamentos express, terapias alternativas, medicamentos sem efeitos secundários, entre outros. Tanto num caso como noutro, quase todos tem duas premissas em comum: a urgência dos resultados imediatos (não há tempo a perder!) e pouco esforço envolvido (sem compromissos nem cedências).
Sabemos pela experiência que os resultados obtém-se com a combinação de vários componentes: consulta a especialistas, medicação, auto-ajuda, mas que não dispensam dois factores importantíssimos: tempo (só intervenções com a duração adequada permitem realizar alterações significativas e portanto duradouras) e compromisso com a mudança (a pessoa necessita estar empenhada de forma consistente com o esforço que é necessário para mudar).
Nesta fase, poderíamos comparar o psicólogo a personal trainer. Ele trabalha com a pessoa, semanalmente, após ter feito um estudo aprofundado das melhores estratégias para atingir os resultados propostos, acompanha os progressos, exige o esforço, motiva para a mudança e monitoriza os resultados. Mas que tem de fazer o esforço (ou o exercício!) é a própria pessoa.

Quando na consulta apresentamos ao nosso cliente aquilo a que chamamos um contrato terapêutico, que no fundo remete para o compromisso que iremos estabelecer para efectivar as mudanças necessárias, deparamos com pessoas surpresas,  pouco disponíveis para  investir o tempo necessário ou com dificuldade em iniciar o processo de mudança.
Uma vez ultrapassada esta barreira inicial, quando as pessoas que se conseguem comprometer-se e manter esse compromisso no tempo, obtém resultados, sente-se cada vez mais capazes de encarar e resolver os seus problemas, bem como tem relações mais estáveis e gratificantes com os outros. São pessoas menos surpreendidas pelos acontecimentos da sua vida, capazes de uma maior auto-analise e que mesmo em momentos difíceis, conseguem não perder de vista o seu projecto de vida. 
Mesmo depois de ter alta, muitos clientes mantém o psicólogo como uma referência para momentos determinantes da vida (casamentos, divórcios, nascimento de filhos, ou processos de luto). Outras trazem os familiares para que possam ser apoiados da mesma forma. O objectivo final, é que a pessoa consiga interiorizar um método de gerir a sua própria vida, aprendendo a reflectir, agir e relacionar-se mais de forma mais saudável.
Sabemos que são muitos aqueles que desistem antes de chegar a esta etapa, mas tal como no ginásio, arrisque a frequentá-lo por um ano inteiro e depois comparar os resultados.