22 de julho de 2014

Os Factores de Risco e Manutenção das Perturbações do Comportamento Alimentar na Adolescência


Vivemos livres numa prisão.
Daniel Sampaio

A alimentação tem uma importância fundamental para o desenvolvimento adequado das crianças e dos adolescentes. A manutenção de um padrão alimentar apropriado reflecte-se na saúde física e mental, no entanto esse padrão por vezes é desconhecido tanto para os adolescentes como para os adultos que com eles vivem.
A adolescência é um período de grande vulnerabilidade, pois o adolescente tem um profundo desejo de exercer a sua independência, procurar a sua identidade e imagem corporal ideal, tomar as suas próprias decisões, experimentar novos estilos de vida e muitas vezes negar os valores já existentes. Estes factos levam à adoção de novos padrões alimentares por vezes com motivações de independência familiar ou de influência dos seus pares ou heróis. Também nesta idade uma autoimagem satisfatória e o facto de serem vistos de forma atraente pelos outros, constitui uma prioridade. 
Os comentários desagradáveis acerca do peso e forma corporais entre pares têm um efeito directo na insatisfação corporal e na adopção de Perturbações do Comportamento Alimentar.
Estas perturbações, representados pela Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e pelas Perturbações do Comportamento Alimentar sem Outra Especificação, são transtornos frequentemente crónicos e associados a um elevado índice de morbilidade.
Caracterizam-se por uma preocupação mórbida com o peso e imagem corporal, como principal fonte de autoestima, conduzindo a um comportamento alimentar progressivamente ritualizado e provocando graves distúrbios somáticos que comprometem a saúde e põem em risco a própria vida.
Vários factores de risco têm sido implicados no desenvolvimento desta perturbação, como a adolescência, no sexo feminino, viver numa sociedade ocidental; com história familiar de PCA, alcoolismo, abuso sexual, depressão e obesidade.
As características da família (relações interpessoais, opinião sobre o corpo, hábitos alimentares, abuso de substâncias) podem também constituir importantes factores na génese e manutenção destes problemas. Em muitos casos, a família pode manter, mediatizar e complicar a evolução da doença, pelo que no seu tratamento, por vezes são usadas técnicas de terapia familiar.
Os comportamentos de dieta na família são aprendidos e podem ser adoptados pelos adolescentes que vêm a desenvolver mais tardiamente estas doenças. 
Outro factor de risco importante são os casos de Alcoolismo e de abuso de outras substâncias em familiares em primeiro grau dos indivíduos com Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa; nestes doentes os comportamentos mais frequentemente observados são os episódios bulímicos, a recorrência ao vómito, ao abuso de laxantes e outros medicamentos ao longo da doença.
Entre os fatores socioculturais é possível destacar: a cultura ocidental com as suas mudanças dietéticas, a influência dos meios de comunicação na transmissão dos actuais padrões de beleza e sucesso social e a moda.
Somos diariamente confrontados, através dos meios de comunicação social, com verdadeiros modelos estéticos, que nos impõem ou criam o desejo da procura de um enquadramento nesses padrões, podendo-se afirmar que o ideal de magreza é cobiçado por todos. No entanto, muitas vezes, os corpos perfeitos difundidos pelos media, não passam de imagens manipuladas e artificiais. 
Todos estes factores de risco podem influenciar o desenvolvimento das Perturbações do Comportamento Alimentar. Considera-se importante denunciar junto dos nossos adolescentes o ideal de magreza, minimizar a aparência como principal razão de admiração, enfatizando outras características, como a competência e o esforço, para além da aparência.
Em suma, as perturbações do comportamento alimentar devem ser entendidas como doenças que reflectem a confluência entre a psicologia individual, os determinantes biológicos, as dinâmicas familiares e os fatores socio-culturais. O entendimento, a interpretação e a compreensão dos comportamentos e atitudes disfuncionais perante o corpo e a alimentação, só farão sentido numa perspectiva multidimensional, cada um destes fatores por si só, é necessário, mas não suficiente. 


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