19 de dezembro de 2016

A mulher que também é Mãe!


Pode secar-se, num coração de mulher, a seiva de todos os amores:
nunca se extinguirá a do amor materno.
Júlio Dantas


Na história da humanidade, o papel da mulher tem vindo a sofrer várias mudanças, de acordo com as necessidades e interesses sociais de cada época. A mulher portuguesa, na sociedade atual, tem uma grande expressão no mercado de trabalho, e ainda assim continua a desempenhar as funções de organização do lar e a ter um papel preponderante no apoio à família.
A maternidade surge então como um dos papéis que algumas mulheres escolhem experienciar, sendo este um papel muito importante: não só para a mulher que também é mãe, como para o(s) seu(s) filho(s) e família, assim como para a sociedade e humanidade.
Se refletirmos um pouco sobre qual o papel da mulher, enquanto mãe, verificamos que a mesma tem uma importância ímpar na formação do(s) seu(s) filho(s) enquanto pessoa(s), assim como no(s) adulto(s) que se irá(ão) formar. A importância do seu papel começa a evidenciar-se desde muito cedo, pois o aparecimento e o inicio da vida psíquica no bebé começa na relação que é estabelecida com a mãe.
De acordo com o pediatra inglês Donald Winnicott, os cuidados maternos quando adequados são indissociáveis do bebé e garantia de uma boa saúde mental. Segundo este pediatra, um bebé isolado não existe – defendendo que quando encontramos uma criança encontramos os cuidados maternos. E acrescenta ainda que o rosto da mãe é o primeiro e único espelho verdadeiro da criança.
A relação mãe-bebé está assim relacionada de forma muito significativa com o processo de maturação da criança. Pode-se dizer que as primeiras experiências intersubjetivas se desenvolvem num banho de afetos. A mãe comunica os seus afetos interpretando as necessidades e desejos do bebé, utilizando as suas capacidades de empatia para entender os seus estados afetivos. A criança aprende a conhecer o ambiente e o seu conteúdo através da interação dinâmica com a sua mãe. No inicio assiste-se à chamada díade relacional (mãe-bebé) e posteriormente com a introdução do pai, passa a existir a chamada “tríade relacional de afetos” (mãe-pai-bebé), cada um com a sua função na formação do desenvolvimento psicológico e emocional da criança.
Pode-se dizer que a relação estabelecida entre a mãe e a criança será a “plataforma psíquica”, na qual a criança constrói a sua identidade social. Se existirem bons alicerces, esta construção será harmoniosa e estável, se não for bem-sucedida, a criança poderá desenvolver alguns problemas psicológicos e/ou problemas psicossomáticos. Esta relação irá ter um papel crucial naquele que será o desenvolvimento futuro da criança, e também enquanto adolescente e adulto, no que se refere ao seu mundo emocional interno e à sua capacidade em se relacionar consigo mesmo e com os outros.
O papel da mãe durante as várias fases de desenvolvimento do seu filho vai sofrendo adaptações, por forma a promover, progressivamente, a autonomia do seu filho. Não obstante, o seu papel continua a ser muito importante, ainda que, naturalmente deva ser gradualmente diferente. Algumas mães poderão sentir alguma dificuldade durante este processo, uma vez que o filho bebé que outrora dependia de si para sobreviver, vai, progressivamente, crescendo e querendo ser autónomo. Esta evolução deverá ser encarada pela mãe como um processo de crescimento adequado e positivo. Naturalmente, será sempre importante que a mãe possa estar presente nos momentos em que a sua presença, suporte e a chamada “função materna” sejam necessárias. E ao longo do processo de crescimento do filho ela vai sendo necessária inúmeras vezes.
O mais importante é o filho sentir que, sempre que precisar, independentemente da sua idade, poderá ter e encontrar na sua mãe, o amor, suporte, amparo e orientação que precisa. Caso este entendimento exista no filho, pode-se dizer que o papel da mulher enquanto mãe está a contribuir para um desenvolvimento emocional adequado, o qual terá repercussões positivas no desenvolvimento global do seu filho.
Nesta quadra natalícia gostaria de sugerir que, independentemente da idade mãe e do filho, celebrassem a relação que existe entre ambos. Pois como referi em alguns momentos durante esta pequena reflexão, é uma relação muito importante não só para o filho e para a mãe, mas também para a família, sociedade e humanidade.
O amor e o afeto que nascem da relação entre mãe e filho devem ser sempre celebrados, não só nesta quadra, mas todos os dias. É importante para a saúde mental da mãe e do filho que esse afeto não fique “guardado” dentro de cada um, mas que possa ser manifestado, adequadamente, através de palavras e gestos, pois a sua partilha e troca são fundamentais para o bem-estar psico-emocional e físico de ambos e consequentemente, para o bem-estar e “saúde” da família, sociedade e humanidade.