2 de setembro de 2015

Morde, bebé morde!


“Só é possível ensinar uma criança a amar amando-a”  
Johann Wolfgang von Goethe

As crianças pequenas tendem a, em algum momento, morder. Morder objetos, morder outras crianças, morder adultos. Este comportamento, apesar de muito frequente deixa muitos pais e cuidadores preocupados e constrangidos.  Então porque é que isto acontece?
Não é ainda totalmente claro o porquê deste comportamento. Nos adultos, o ato morder outros indivíduos reveste-se de principalmente de duas formas: prazer, que ocorre em relações de intimidade e agressão, presente em situações de grande tensão como por exemplo desportos de contato quando o atleta encontra-se em sob grande pressão. Em crianças pequenas o morder está muito relacionado com a dificuldade que estas têm em expressar-se com recurso a formas mais adequadas, como a linguagem. Morder é uma ação que pode ajudar a aliviar a tensão de uma criança frustrada e se, com este comportamento a criança conseguir alguma reação no outro então é provável que volte a repetir o ato.

Os motivos principais que levam as crianças pequenas a morder prendem-se com:
1. Sentimentos e sensações difíceis de lidar como: frustração, solidão, ciúme, necessidade de atenção e afeto, cansaço; 
2. Necessidade de gastar energias em brincadeiras mais ativas;
3. Incómodo causado pelo nascimento dos dentes;
4. Fome;
5. Imitação de outras crianças ou como resposta a ambientes hostis.

Morder é uma agressão externa que surge com frequência entre o 1º ano e o 3º de vida e faz parte do desenvolvimento da criança, apesar de haver muitas crianças que nunca mordem. Entre estas idades, a criança começa a entender que tem vontade própria e começa a procurar outras alternativas para se expressar que não o choro. A linguagem é ainda muito rudimentar ou inexistente e morder, por vezes, é a única solução que se lhes ocorre. Com frequência esta ação surge na presença de outras crianças da mesma idade. Geralmente crianças que estão ao cuidado de outras pessoas que não os seus cuidadores costumam apresentar mais este comportamento. 

Apesar de ser frequente e, na maioria das situações não ser alvo de preocupação acrescida, fato é que, se a sua criança morde, pode e deve tentar resolver a situação. Quer para o conforto da mesma quer para conforto de quem com ela lida.  

Se a sua criança morde deve tentar contê-la no momento. Não permita que o faça. Tente aproximar-se rapidamente e afaste-a do alvo da dentada e tente compreender e conversar sobre o que a criança estará a sentir naquele momento, permitindo-lhe substituir por uma ação mais adequada (por exemplo brincar, correr, pintar…).

Se a criança continuar a morder, experimente refletir sobre quais serão os motivos que a levam a ter tal comportamento. Se estiver integrada em creche pergunte à educadora quando é que aconteceu, de que forma e quais as opiniões dela sobre a situação. Tente rever a hora antes do comportamento e observe o dia da sua criança (o que fez quando, como, com quem) e finalmente reveja a sua semana. Se ao fazer esta reflexão perceber que pode não estar a ter suficiente tempo de qualidade consigo, que precisa de mais atividade ao ar livre, ou precisa de um pouco mais de atenção então tente colmatar estas necessidades básicas. Sim, são necessidades que a sua criança tem, tal como comer e beber. Elas necessitam de tempo com os pais e da atenção que estes lhe podem dar. Se por outro lado, ao fazer a reflexão perceber que o que a criança está a sentir é consequência do nascimento dos dentes e esta será a forma que encontrou para aliviar o incómodo nas gengivas tente dar-lhe algo adequado para morder e sempre que ele tentar morder-lhe, dê-lhe o objeto em substituição. 

Se o que estiver a acontecer é que a criança está a sentir-se frustrada com os amigos tente evitar durante algum tempo este contacto e volte a tentar uns dias/semanas mais tarde. De início, eles precisam de atenção individualizada e de alguém que esteja atento às suas necessidades e desejos e um grupo de outras crianças pode não ser o local ideal para a sua criança. 

Se estiver com fome alimente-a. Se o seu problema residir na imitação de outros comportamentos ou em ambiente hostil, tente afastar-se destas fontes de hostilidade e proporcionar à criança um ambiente estável, seguro e harmonioso. 

Se a criança continuar a persistir no comportamento, existem outros sintomas associados e/ou se tem a sensação que algo não está bem com ela, deve procurar um profissional para tentar avaliar melhor a situação e dar uma resposta adequada.