O profissional da voz é definido como “O individuo que depende de uma certa produção e/ou qualidade vocal específica para a sua sobrevivência” (Behlau et al. 2005).
Numa sociedade moderna, um terço dos trabalhadores inserem-se em profissões em que
a voz é a sua principal ferramenta de trabalho. O aparecimento de patologias vocais é
comum na generalidade, no entanto, são mais comuns em profissões com uma grande
utilização vocal como é o caso de professores e educadores de infância. Este grupo de
profissionais, utiliza a voz durante um longo período de tempo com uma grande projeção
vocal pela dimensão das salas de aulas, e na sua maioria, em salas de aula com má acústica
onde existe muito ruido de fundo.
A voz do professor tem como principal objetivo, transmitir conhecimentos aos alunos
fazendo com que eles aprendam os conteúdos programáticos, mas a voz é utilizada
também para controlar os alunos, assim como expressar sentimentos.
É através da voz que expressamos oralmente as nossas ideias e os nossos pensamentos
mas para além disso a voz é também uma das extensões mais fortes da nossa
personalidade e consegue espelhar o nosso estado emocional. É parte da identidade e
atitude de cada um de nós enquanto falantes e comunicadores.
Os professores e educadores de infância representam uma profissão com uma pesada
carga vocal. Este fator, aliado à falta de conhecimento técnico sobre o correto uso vocal,
proporciona o aparecimento de patologias vocais. Na sua maioria o desgaste vocal
aparece gradualmente, quase que impercetivelmente, em que os sintomas iniciais são
desvalorizados por não produzirem modificações percetíveis e significantes.
As queixas vocais mais comuns entre professores e educadores de infância são a
rouquidão, sensação de corpo estranho na garganta e de sequidão, cansaço durante a
produção vocal, falhas na voz, e dor e/ou ardor na garganta.
Muitos professores apenas tomam consciência da importância da voz, como ferramenta
de trabalho e na sua vida pessoal, quando começam a notar os primeiros sintomas como
os referidos anteriormente (fadiga, rouquidão, cansaço vocal...), ou até mesmo depois de
já terem instalada uma patologia vocal, como é o caso dos nódulos da prega vocal, a
patologia mais comum do professor e educador de infância, que pode ser evitada seguindo
alguns cuidados. Não só a má utilização da voz pode provocar patologia, outro fatores
como o stress, alergias, condições de trabalho inadequadas, gripes e constipações, fumo,
álcool, hábitos de falar muito alto e por um período de tempo prolongado, tem um impacto
extremamente negativo na voz.
Uma vez que na maioria das vezes, as alterações vocais nos professores e educadores de
infância, estão intimamente ligadas ao funcionamento vocal, é necessário que este grupo
de profissionais receba formação e orientação sobre o uso e funcionamento vocal, assim
como cuidados a ter durante a sua produção para manter uma voz saudável e prevenindo
possíveis patologias.
A regra básica para um profissional da voz é a hidratação, é fundamental a ingestão de
água ao longo do período de produção vocal. Os líquidos ingeridos devem estar
preferencialmente a temperatura ambiente. Segundo Wyk et al. (2016) a hidratação
melhora o desempenho vocal dos profissionais da voz. O aquecimento vocal é outro dos
hábitos que deveria ser praticado pelos professores e educadores, assim como seria
impensável para qualquer atleta iniciar a sua atividade física sem aquecer e alongar os
músculos, os professores e educadores que irão estar a utilizar a voz durante um longo
período de tempo também deveriam aquecer a voz através de técnicas específicas para
esse efeito.
Alguns hábitos diários podem ajudar a melhorar a saúde vocal sendo eles: evitar alimentos
muito gordurosos ou condimentados assim como bebidas muito quentes ou muito frias;
ter consigo sempre uma garrafa de água à temperatura ambiente; alongar a musculatura
da cintura escapular; evitar falar por longos períodos de tempo e com alta intensidade
principalmente em ambientes muito secos e com ar condicionado; evitar o consumo de
álcool e tabaco; proteger-se de correntes de ar e agasalhar-se adequadamente em dias de
frio; evitar o consumo de chocolates, leite e seus derivados antes das aulas uma vez que
estes alimentos aumentam as secreções no trato vocal, aumentando assim a necessidade
de pigarreio e comprometendo a qualidade vocal.
É importante que o professor verifique quais as mudanças que pode aplicar no seu dia-a-
dia e se necessário procurar um otorrinolaringologista e/ou um terapeuta da fala que são
os profissionais capacitados para esclarecer as suas dúvidas e ajudá-lo a encontrar
soluções para situações relacionadas com a voz, lembrando que a prevenção é sempre a
melhor opção.