14 de outubro de 2008

O Perfil Psicológico e Criminal




«Se queres compreender o artista contempla a sua obra»


Todas os locais de crimes violentos contam uma história, uma história escrita pelo agressor, a vítima e as circunstâncias únicas da sua interacção. As provas comportamentais deixadas no local do crime podem fornecer dados não só sobre o próprio crime mas também sobre a pessoa responsável por ele (a sua historia pessoal e todo um conjunto de processos psicológicos, afectivos, morais e sociais que o levaram a cometer o crime).

A maior parte dos dados obtidos através do estudo do local do crime, da dinâmica do delito e da própria vítima, tomam forma e se tornam um poderoso instrumento de investigação: o perfil psicológico e criminal.

O complexo processo de elaboração de perfis psicológicos criminais, resultante de um trabalho multidisciplinar e especializado, é definido como “o conjunto de características físicas, psicológicas e sociológicas determinadas como pertencentes ao presumível autor de uma série de crimes, que permite orientar a investigação policial e facilitar a descoberta da sua identidade, detenção e a obtenção de provas que determinam a sua culpabilidade”.

Os objectivos que se pretendem atingir com a sua utilização são, fundamentalmente, quatro: (1) reduzir o número de suspeitos; (2) identificar e relacionar diferentes crimes cometidos pelo mesmo criminoso; (3) desenhar uma estratégia de investigação baseada nos resultados obtidos; e (4) elaborar técnicas de interrogatório adequadas ao detido. 

Este papel deverá ser realizado por alguém (o designado profiler), que deverá possuir conhecimentos periciais, ou seja deverá ter formação em algumas, ou em todas as áreas da investigação criminal, das ciências forenses, da vitimología e do comportamento humano. Este perito deverá ser capaz de analisar provas consistentes e válidas para a investigação criminal e, também, de emitir um parecer contendo o maior número possível de características/dados relativamente a um agressor não identificado.

Cada criminoso tem as suas próprias motivações pessoais, baseadas na sua experiência como ser humano. As motivações da conduta adoptada no local do crime devem ser consideradas tendo em conta a totalidade da conduta e não só aspectos parciais da mesma. Uma vez identificados os motivos e padrões de conduta, pode-se “reconstruir a fantasia do criminoso” e isto pode ajudar a prever os seus padrões de conduta futuros. 

É o comportamento manifestado pelo criminoso no local do crime e não o criminoso em si, que irá determinar o grau de adequação para utilizar esta técnica em cada caso concreto.

Qualquer investigação sobre um homicídio do qual se suspeite que possa ser obra de um assassino em série, começa com a análise exaustiva da cena do crime. Esta análise não se circunscreve à clássica procura de indícios, vestígios e provas forenses presente em todas as investigações de homicídio, senão que abarca outros muitos aspectos e considerações de tipo psicológico baseados nos estudos e na experiência acumulada até à data. Esta técnica baseia-se na teoria de que, na maior parte dos casos, a conduta e a personalidade do criminoso ficam reflectidas na cena do crime da mesma forma que a decoração de uma casa reflecte o carácter dos seus moradores. 

O investigador pode obter valiosíssimos dados acerca do autor dos acontecimentos procurando pautas e tratando de identificar características de personalidade do criminoso, sendo capaz de detectar e interpretar pistas e indícios que pela sua própria natureza não se prestam às tradicionais técnicas de recolha de vestígios: emoções de raiva, ódio, amor, irracionalidade, etc.

Aliando a psicologia às provas materiais obtidas no local do crime, é possível obter um perfil geral acerca do autor do crime. Este processo tem início com uma cuidada análise das provas materiais recolhidas nos locais dos crimes e, todo o tipo de informação obtida através do perfil deve estar comprovada e em consonância com estas provas. 

Actualmente, considera-se que a área do perfil psicológico e criminal obteve notoriedade no domínio do saber científico. No entanto, poucos são os que têm conhecimento sobre o trabalho que é realizado pelos profilers criminais, chegando mesmo a desacreditar o tipo de profissional que se dedica a esta área.

A imagem que usualmente associamos a um profiler criminal é a de um agente do FBI, que já escreveu centenas de livros que relatam a sua experiência enquanto “realizador de perfis”, posteriormente, estes relatos originam a criação de personagens de livros que, por sua vez são transformadas em personagens de filmes, como é o caso do mítico “Silêncio dos Inocentes” (The Silence of the Lambs). Estas personagens também deram origem a diversas séries televisivas tais como “CSI” ou “Profiler”, todos eles inseridos numa leitura anglo-saxónica no que concerne à metodologia de investigação. Desta forma, a publicação da história de “Hannibal” e, de seguida, a sua exibição em filme despertou o interesse nesta matéria.

De salientar que, simplesmente prognosticar as possíveis características do agressor, apesar de ser uma tarefa interessante, será pouco útil se o investigador não for capaz de interpretar os dados resultantes do perfil psicológico criminal, de forma a adapta-los, realçar ou apoiar-se neles para dar uma nova orientação à investigação em curso.

8 de outubro de 2008

A doença de Alzheimer



A doença de Alzheimer foi descrita, pela primeira vez, pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer em 1909. É uma doença degenerativa do cérebro que se caracteriza por uma perda das faculdades cognitivas superiores de forma contínua e irreversível. Ou seja, ocorre uma morte das células cerebrais com uma consequente atrofia do cérebro. Os sinais de alerta desta doença são: a perda de memória, dificuldade em executar as tarefas domésticas, problemas de linguagem, desorientação tanto no tempo como no espaço, fraco ou diminuído discernimento, problemas relacionados com o pensamento abstracto, troca do lugar das coisas, perda de iniciativa, alterações de humor ou de comportamento e na personalidade. À medida que a doença evolui estes doentes tornam-se incapazes de realizar tarefas incluindo as mais simples como as de higiene e de vestir. Deixam de reconhecer os rostos dos familiares, os objectos e, inclusivamente, as palavras. 

Ainda não existe uma causa determinante para esta doença e, de acordo com a comunidade científica, trata-se de uma doença geneticamente determinada, embora possa ou não, ser hereditária. Existem tratamentos farmacológicos importantes, numa fase inicial da doença, que permitem confortar o doente e retardar ao máximo a evolução da doença. Contudo chama-se à atenção para a necessidade dos doentes terem de modificar os seus comportamentos e padrões de vida de forma a possibilitar a sua adaptação à doença. Os familiares e cuidadores constituem pilares fundamentais neste processo de adaptação proporcionando, ao mesmo tempo, uma maior qualidade de vida a estes doentes. A nível da comunicação com os doentes de Alzheimer é conveniente permanecer-se calmo e quieto, falar de forma clara e pausada; devem-se evitar ruídos como, por exemplo, de rádio ou televisão; demonstrar carinho, apoio e tranquilidade, mesmo que o doente não apresente reacção às tentativas de comunicação e expressões de afecto. Deve-se igualmente verificar se possui problemas de visão, audição ou outros. É provável que o doente deixe de reconhecer a necessidade da higiene pessoal. Esta situação não deve ser encarada de forma tranquila e simplificando as tarefas, ou seja, tornar de fácil acesso e de forma ordenada os produtos de higiene, instalar pegas, tapetes anti-derrapantes, assim como outros dispositivos de apoio. Tentar evitar a lavagem parcial. Fazer uma ida ao cabeleireiro para aumentar a auto-estima do doente.

O vestuário do doente deve ser o mais simplificado possível. Este pode ser preparado pela ordem que deve ser vestido, ser restringido a 2 ou 3 conjuntos, a sapatos de enfiar, soutiens de apertar à frente, fechos de velcro (evitar os laços, fechos de correr e botões). Procurar que o doente se encontre sempre bem vestido e elogiar o seu bom aspecto. 

A memória pode ser trabalhada pedindo ao doente para participar e colaborar nas rotinas do dia-a-dia; conversarem não só sobre acontecimentos recorrentes como também de acontecimentos mais antigos com apoio, por exemplo, de fotografias e objectos; participar em actividades do seu interesse. 

É relevante lembrar a importância de dar tempo ao doente, de forma calma e tranquila, para participar nas tarefas ao seu ritmo, sem pressas nem exigências e perfeições. Incentivar continuamente através de elogios, carinho, apoio e compreensão. 

Sempre que necessário procurar apoio junto de técnicos especializados e lembrar sempre que a qualidade de vida constitui um bem-estar físico, mental e social independentemente de se ter uma doença ou não.

Alzheimer



”Tenho 72 anos, meu nome é Maria e o meu companheiro de toda uma vida faleceu há precisamente 1 ano. A dor ainda se mantém viva, mesmo quando os meus próximos mostram-se aborrecidos quando falo dele. Antes de ele falecer, eu repetia com frequência algumas histórias que me aconteciam, principalmente com ladrões, pessoas estranhas que vinham bater à porta, para com esta ou aquela desculpa surrupiarem as minhas posses que, verdade seja dita, não são muitas mas, a televisão onde vejo o folhetim todos os dias e a minha reforma são o meu sustento.

Há uns meses veio cá a minha neta almoçar, eu fico sempre contente quando ela vem, gosto quando a família está por perto as coisas assim parecem mais compostas. Ia fazer bifinhos fritos com batatas fritas, como ela comia sempre que cá vinha mas ela anda com a mania das dietas então quis fazer as coisas ao seu gosto e meti um pargo grande no forno com batatas. Ela chegou, conversamos um bocadinho e sentámo-nos à mesa. Havia qualquer coisa estranha no sabor do peixe. Eu não conseguia diferenciar o que seria… estava bem assado era um bom peixe, fresco, até que ela a medo perguntou: “Avó quantas vezes puseste sal no peixe?” Eu só me lembrei de pôr sal uma vez, mas era verdade o peixe estava salgado!

Outro dia fui à mercearia da Luísa onde vou sempre desde que abriu, quando voltei observei surpreendida que a chave não servia na minha porta, experimentei uma e outra vez, não era possível, até forcei um bocadinho desisti e sentei-me a chorar no vão das escadas, não conseguia perceber o que se estava a passar até que apareceu a minha filha com o meu genro e perguntaram-me que estava a fazer ali e porque não ia para casa. Eu disse que a chave não abria a porta foi então que eles se dirigiram ao andar acima, claro que a chave nessa porta, na minha porta, funcionou!”

O Alzheimer é uma doença degenerativa grave que afecta principalmente mas não exclusivamente indivíduos de idade avançada. A gravidade destas doenças é visível no indivíduo que gradualmente perde as suas capacidades cognitivas: como a memória que apresenta dificuldades em recordar acontecimentos anteriores e dificuldade em memorizar acontecimentos presentes. Surgem complicações ao nível da linguagem, das funções motoras, identificação de objectos e capacidade de execução de tarefas.

“Não sei o que se anda a passar mas há qualquer coisa estranha na forma como me tratam, não me deixam ficar sozinha, acompanham-me quando vou às compras até na cozinha a presença deles é constante. Eu gosto muito que eles se preocupem comigo e façam companhia se bem que parece uma companhia forçada como quando se vigia um prisioneiro. Ás vezes parece que estão a dar-me medicamentos às escondidas para eu não ver, misturados no chá. Há outras coisas estranhas, como quando acordei e estava sentada no quintal ao lado da casota do Snoopy, não sei como fui lá parar e também não contei a ninguém, com vergonha.”

A demência afecta o indivíduo mas também toda a sua dinâmica familiar. Os familiares próximos são obrigados a reconstituírem a sua vida em redor do paciente afectado. É essencial à medida que a demência avança montar um esquema de observação e apoio constante. Uma vez que os pequenos gestos do quotidiano tornam-se grandes barreiras e perigos para o paciente e para os que o rodeiam. Não é raro, mesmo no início da doença o paciente perder a noção do local onde se encontra e esquecer o lugar para onde ia. Estas situações surgem frequentemente em ambientes a que o paciente está habituado como quando vai às compras ao mercado ou ao cabeleireiro. As panelas podem ficar ao lume, torneiras abertas e uma infinidade de situações que pareceriam inofensivas não fossem as falhas nos processos cognitivos que as tornam um perigo eminente.

“Finalmente descobri o que se passa… ouvi os meus filhos a conversarem entre eles, eles pensavam que eu estava no quarto mas ouvi tudo, estavam a decidir se ficavam comigo em casa ou se haveriam de me internar num lar uma vez que essa tal Alzheimer ia ficar comigo de agora em diante. Pelos vistos tem medo de me deixar sozinha e arranjaram-me uma empregada para me fazer companhia e ajudar na limpeza da casa.”

5 de setembro de 2008

Reinventar a Doença





O título não é mau, convenhamos, foi um título proposto e por ser uma proposta podemos modificá-lo: Reiventar-mo-nos na Doença. É melhor porque reverte para a pessoa e não para a entidade que lhe é externa e estranha – a doença – é melhor porque utiliza a primeira pessoa do plural e isso inclui-nos, a nós, a mim e a si, que me lê. Porque não acontece só aos outros, porque quando falamos em doença pensamos em situações prolongadas e não acidentes, pensamos naquilo que é crónico ou tendencialmente crónico e não no agudo - aquilo que se resolve com uma qualquer intervenção ou com a morte.

No processo de adaptação à doença existem uma série de fases mas antes existe a vida sem a doença e é dessa vida que a pessoa tem de fazer o luto, o luto da saúde para finalmente aceitar a nova situação reinventando-se, claro que num equilíbrio sempre precário mas quem não tem equilíbrios precários?
Pensei então passar a mensagem num texto escrito na primeira pessoa. Mostram-se as fases, a de antes e as de depois, como um testemunho que apesar de ficcionado poderá ser sempre o nosso.

A vida é um tango.

Encontro companheiros e companheiras com quem danço. Uns com a sensualidade que a relação implica, outros com a técnica que a dança exige. Se umas vezes os passos são obrigatórios e as voltas determinadas, outras vezes damo-nos ao direito de improvisar e dançar a um compasso que é o nosso, porventura aquele que o coração dita.

É um tango, mas também é improvisação, um jazz de harmonias, umas vezes sólidas outras descontraídas. Penso ter ganho alguma maturidade no percurso, se é que se atinge alguma vez essa maravilhosa sensação de bem-estar, de trabalho cumprido, trabalho emocional e trabalho profissional. Acho que me fico por uma ansiedadezinha a criar o frenesim, avançar mais e mais, educar ainda o gosto de mais sabores, cheiros e novos olhares. Olho para ela a dormir, que ternura me faz, os cabelos dela que ainda há pouco se confundiam com os meus, espalham-se agora nos lençóis. Tudo em silêncio, apenas a respiração profunda deste amor, mas que me dá a calma e a certeza de uma presença que me acompanha e me dá paz.

Tomo o duche, gosto de sentir o meu corpo forte, os contornos bem definidos, torneados, correctos. Há uma sensualidade própria na forma como passo o gel pelos meus braços e pernas. Faço a barba e ponho um creme que me recomendaram anti-oxidante de marca, um cheiro fabuloso pouco intenso que suaviza a pele. Gosto dos meus olhos brilhantes e dos caracóis do meu cabelo. Sinto-me bem, esplêndido até depois do perfume que me assenta como uma luva e se espraia pelo corpo todo, para manter a minha presença mesmo depois de eu ter saído.

Saio, o fresco da manhã assalta-me e prepara-me para o dia. Enfio-me no carro. Ainda não é o Jaguar que desejo, mas para lá caminho. É um MG frivolamente desportivo, que segundo dizem, parece ter sido criado para mim. Adoro que olhem para mim. Sinto-me bonito. Quero que falem de mim. Que as mulheres sussurrem entre si quando passo e expulsem risinhos. Eu finjo não reparar, uma certa non-chalence fica bem.

Entro no serviço. Bendita eficiência, eficácia, perfeição. São palavras que gosto, com que me identifico e me definem. Sou um organizador nato, distribuo trabalho e arranco para uma reunião em que arraso. Almoço de trabalho. Tarde a enviar e-mails. Chego a casa às 8:00, a tempo do jantar tardio que combinámos. Arranjamo-nos juntos, gosto de a ver pintar-se. Eu com uma gravata Dior fabulosa que fica a matar com o fato cinzento claro.

O grupo que vai ao jantar é o nosso habitual com algumas surpresas, um casal giríssimo, com interesse, que acaba por nos empurrar a todos para um novo bar que abriu há pouco e onde dançámos até tarde.

Amanhã, sábado, vamos tomar o pequeno almoço numa esplanada, cada um com o seu livro e trocaremos de vez em quando olhares cúmplices e atrevidos.

Eu tenho qualidade de vida.

Estou entupido, perdido, ferido, reduzido. Estou em branco, não me lembro de nada, não sei nada, vagueio num vácuo de ignorância, de insegurança. Viajo num balão cheio de coisas feias, pútridas e más. Insufla o balão e eu entro em apneia. Não consigo respirar, sufoco atulhado na trampa que transformou a minha vida.

Estou em choque. Diabetes depois de um grande cansaço, de um emagrecimento inexplicável e de umas análises estúpidas que o médico da empresa me obrigou a fazer.

Estou-me nas tintas para isto tudo e vou viver de costas viradas. Continuo a vida como de costume, aliás, a vida não pode mudar assim de repente, isso não existe, é demasiado telenovela. Piroseira.

Vou a uma clínica qualquer, num sítio qualquer caríssimo e resolvo isto. Diabetes pró caraças!

Segundo parece, estava numa fase qualquer a que chamam negação, mas eu quero que se lixe a fase e quero também que se lixe o cão que ela comprou. Um cão? Mas porque é que ela quer um raio de um cão? Não nos falta o cão! Podiam era ir viajar ela e o cão. Não quero ninguém, não preciso de ninguém.

Eu tenho é de ir trabalhar, dar a insulina, variar os locais de injecção, contabilizar os hidratos de carbono, reduzir as gorduras, fazer quatro glicémias/dia, desporto em pílulas, obrigatório, sem graça e aturar o idiota do médico, que me azucrina os ouvidos mais o psicólogo que tem a mania que é compreensivo e empático e meigo e terno e meigo e terno e meigo e terno.

E meigo e terno e eu não quero. Eu não quero que seja meigo nem terno. Eu não quero nada porque me sinto inútil. Já nem sinto revolta. Abandono-me numa greve de razões, razões para existir, para criar, para de alguma forma ser original, razões para mudar, para crescer, para reagir a esta sensação de fatalismo irreversível, de buraco no peito. Eu sou o próprio buraco!

Tenho-me sentido mal. Depois da semana no hospital, a verdadeira sensação de inutilidade, pareço ter envelhecido dez anos. O pijama parecia-me miserável, tanto quanto eu, miserável. Apareceram alguns amigos, mas eu virava a cara para não os ver. Ela aparecia todos os dias, assim como agora, todas as manhãs, todas as noites, linda, uma beleza inatingível porque sou feio e tive-lhe raiva e sinto culpa por isso.

Há tanto tempo que não desejo, que não a desejo, nem me lembro do seu corpo, nem do meu. Também não me desejo. Perdi o apetite, tenho os infernos a matar-me o sono, os medos rudes a maltratar-me, uma dor funda no peito que acusa a impotência. A impotência de tudo. Incomodo-me. Meti baixa. Rebaixa. Rebaixa-me. Rebaixo-me. Fecho-me também. Não estou para ninguém. Não tenho qualidade de vida. Desqualifico-me.

Ontem tive uma reunião com o diabetologista, estava lá a equipa toda.

Outro tango, mais lento, mais à cautela. O psicólogo deu-me uma desanda que até andei de banda, a enfermeira criou-me um programa por objectivos a par da dietista… quer dizer, encostaram-me à parede. A parede é tudo o que está para trás: negar, revoltar-me, deprimir. Acho que nem houve grande lugar para negociações. Disseram-me que apesar de ter de adequar a diabetes à minha vida, não haveria concessões: a aposta seria minha, caso contrário eles denunciariam o contrato e eu que me desenvencilhasse sozinho.

A opção é cair no trágico ou aceitar o mágico, refazer-me, restaurar-me. Parece não haver escolha. Vamos a isto!

A primeira coisa que fiz foi comprar uma máquina fotográfica digital último modelo para tirar fotografias ao cão. Ao cão e a ela que está cada vez mais bonita. Reorganizei o serviço no escritório para me adaptar ao esquema insulínico e às prioridades alimentares. In laborum felicitas e outras tretas latinas para eu me rir delas e rir-me de mim.

Convidei-a para jantar e ofereci-lhe flores que murcharam entretanto e ela disse que só por isso só eu lhas poderia ter dado, rimo-nos a perder. Para lhe provar o contrário, fizemos amor como uns loucos. Grande homem! E grande mulher que se aguentou nestes tempos trovejados.

Os amigos reencontrados, os projectos recomeçados. A ansiedade está a um nível óptimo, o suficiente para me empurrar a fazer coisas. A depressão foi necessária para repor as ditas coisas segundo uma nova realidade. A revolta não serve de nada porque se vira contra mim.

Acabaram-se os relatórios contínuos da paixão mórbida. Lembro-me de uma frase do Pessoa que pode adaptar-se a esta relação minha com a diabetes: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” e como hoje me sinto um bocado pedante, faço mais uma citação e em inglês que é mais chique. A frase é do Konrad Lorenz e é preconizadora de uma evolução pessoal embora mantenha a dúvida para que tenhamos sempre de lutar: “Said, but not heard. Heard but not understood. Understood but not accepted. Accepted but not put into practice. Put into practice…for how long”.

Mexo-me, ajo e a dor funda do peito foi-se desenterrando e recomeça um tango, um tango a dois para uma vida reinventada.

Eu tenho qualidade de vida.

Viver no Limite: Identidade e Adolescência




A adolescência vive-se no limite. Nos limites do eu, nos limites do outro. A expandir fronteiras. O adolescente saudável é imortal. Não tem medo de morrer. Tem apenas medo de não ser visto. É o momento mais importante da construção da identidade após a primeira infância. Esta fase é decisiva e o adolescente sente-o. Sabe e sente que nesta fase pode mudar o mundo. O seu mundo. A si próprio. Por outro lado está mais sensível aos seus defeitos, às suas deficiências. É o mais vulnerável dos seres humanos. E o mais forte. O adolescente são ousa enfrentar os seus demónios internos, as suas identificações primárias, as representações que os adultos lhe impuseram, as suas obrigações e imposições.

O adolescente tem de construir um corpo novo, de sensações novas, de novos desconfortos. Um referencial diferente. Um corpo que se constrói através do outro, dos seus objectos de amor. Só a partir daí ele pode preencher esse corpo com aquilo que sobra da luta, do pouco que ele aproveita daquilo que lhe tinham dado. É aqui que ele percebe que alguns dos presentes que recebeu na infância estavam envenenados. Está na altura de purgar tudo isso. 

É nesta fase, de equilíbrios psiquícos precários, que o adolescente pode tentar refazer a sua história familiar, a criança que foi e libertar-se das cargas emocionais, das angústias, dos complexos, das dúvidas, para desabrochar numa pessoa mais sã, mais livre. Pode também deixar-se ir e repetir ad eternum aquilo que os outros repetiram nele.

Existe também o adolescente-sombra. Aquele que passa pela adolescência como quem passa por entre as gotas da chuva. Esquivando o encontro inevitável na encruzilhada entre o passado e o futuro. Está orientado, tem certezas, tem um plano para a vida. Este é o adolescente que não dá problemas aos pais, que é um aluno exemplar, que perdeu o comboio dos seus sonhos, em prol duma vida pseudo-adultizada, semi-responsável. Este adolescente está doente. Ele não é mais que o espectro de si próprio. Um adulto precoce, que se hipotecou cedo de mais.

A adolescência tem sido tratada como a zona cinzenta, desvalorizada pela sociedade, pela própria ciência psicológica. É preferível esperar que passe, como uma qualquer doença sazonal, sem lhe mexer muito, do que envolver-se nos dramas e angústias adolescentes. Hoje os nossos gabinetes enchem-se de adolescentes suficientemente saudáveis para estarem confusos, desorientados, e até deprimidos. Muitos chegam pelo seu próprio pé, com um caderno de encargos próprio e a consciência da sua necessidade do resolver. Outros vêm obrigados, empurrados pelos adultos que não lhes reconhecem um espaço físico e mental nas suas vidas, porque eles ousam pisar fora do risco. Ou porque o confronto com os seus comportamentos lhes traz o desconforto como uma aparição do passado.

Socialmente avançou-se no sentido de conceder um espaço, uma moratória psicossocial aos adolescentes. É importante que assim seja. Mas não podemos deixá-los ao abandono e esperar que eles cresçam sós. Devemos vê-los e entendê-los como seres únicos individuais e independentes de nós. Com potencial para mudarem o mundo. O seu e o nosso.

17 de julho de 2008

As Crianças e as suas Emoções…



“…antes que as crianças sejam crescidas demais para aprender sozinhas o que há para aprender, ensinemos-lhe ternamente a vida, a maior das sabedorias.” (Pedro Strecht – Quero-te Muito, Crónicas para Pais sobre Filhos, 2004, pág. 45)


As crianças durante o seu crescimento passam por várias fases do seu desenvolvimento e a cada uma dessas fases corresponde um nível de desenvolvimento cognitivo e físico. Do progresso da criança desde a mais tenra idade e até ao final da adolescência resultará a personalidade do jovem adulto, que por essa altura estará formada.

Para compreender as emoções da criança, é necessário aos pais, antes de mais, compreenderem as suas próprias emoções. Ao conseguirem identificar as suas emoções, os pais estarão mais disponíveis e sensíveis aos sentimentos dos filhos.

Naturalmente que homens e mulheres, apesar de não se manifestarem visivelmente sobre as suas emoções, e de forma a preservar os seus filhos, evitam expor alguns afectos negativos como a ira, temendo perder o controlo e por recearem que de alguma forma os seus filhos possam adquirir esses modelos na construção da sua personalidade. Optam por vezes, por omitir as emoções, e desta forma não criam a oportunidade de os seus filhos expressarem as suas, podendo estas crianças ou jovens no futuro não conseguir gerir ou enfrentar emoções negativas tornando-se mais incapacitante do que o seria se tivessem aprendido a exteriorizá-las de forma correcta.

Reconhecer e compreender as emoções dos filhos confere aos pais a possibilidade de estabelecer laços de intimidade com estes, e vice-versa. Quando a criança sente que é entendida nas suas emoções, encara os seus pais como aliados. Ora, se os pais perante uma situação que sabem que pode despoletar angústia ou nervosismo nos seus filhos dialogarem sobre o assunto perturbador no sentido de diminuir os seus medos e de os acalmar, estes quando expostos à situação poderão estar mais aptos para a enfrentar e não entrar em descontrolo.

Uma das dificuldades com que uma criança se pode deparar relativamente às suas emoções é de não as conseguir verbalizar. Quando se dá à criança a possibilidade de poder chamar as emoções pelos nomes, como o medo, a tristeza, verifica-se que tem um efeito tranquilizante. Os pais, e todos os demais educadores, podem certamente ajudar os seus educandos nesta aprendizagem.

Desta forma, sendo as emoções utilizadas diariamente, umas vezes com maior sucesso do que noutras, afirma-se daí a importância de promover desde muito cedo na infância o bom desenvolvimento e uso desta, cabendo naturalmente aos pais o papel principal e a outros familiares que partilhem de alguma forma da educação das crianças, evitando situações em que a criança se sinta sem qualquer poder e/ou sem qualquer controlo.

Diagnóstico Neuropsicológico Infantil – A sua especificidade clínica


“O cérebro não é uma ilha… é um continente que nos une e nos situa no universo total da pessoa, e isto não deve ser esquecido no exercício da neuropsicología”.
Ruano Hernández (1999)


A Neuropsicología Infantil, também denominada de Neuropsicología do Desenvolvimento, estuda as relações entre o comportamento e o cérebro em desenvolvimento. Quando nos centramos na Neuropsicología Infantil constatamos variáveis de suma transcendência que a diferenciam de ser apenas uma simples actividade estendida da do adulto. Se quisermos referir-nos a um cérebro adulto, fazemo-lo pensando numa estrutura madura e, no caso de um cérebro de criança, sabemos que se trata de um cérebro em vias de organização, onde os factores ambientais jogam um papel muito importante.

Durante a década de 1930, um inquestionável expoente da Psicologia Genética foi Piaget. Este autor investigou, entre outras funções cerebrais, as noções temporais, espaciais, a lateralidade e o desenvolvimento da escrita. A sua concepção sobre a evolução genética da criança estabelece a infância como uma etapa de crescimento vinculado ao tempo como um ciclo vital, descrevendo quatro factores responsáveis pela velocidade e duração do desenvolvimento: a maduração interna (associada à aprendizagem pela experiência); a experiência física (a acção dos objectos); a transmissão social (factor educativo que se produz pela assimilação); o equilíbrio (estabelece uma relação entre os três factores anteriormente citados num “jogo” de relações e composições para se alcançar a coerência). De facto, não podemos desconhecer o importante impulso que Piaget aporta ao conhecimento de diversos comportamentos cognitivos da criança, estudados hoje desde uma perspectiva da Neuropsicología Cognitiva.

Introduzirmo-nos na Neuropsicología Infantil comporta exigências de compreensão da organização cerebral prévia alterada, bem como das consequências posteriores trás a alteração do normal curso de desenvolvimento cerebral do sujeito com relação à sua idade. Cada criança é um caso peculiar em términos de capacidade cognitiva ou intelectual, onde avaliando-se as capacidades específicas, tanto qualitativa como quantitativamente, os resultados do perfil neuropsicológico são um caso único para cada criança avaliada.

A valoração neuropsicológica no campo infantil deve focar-se no estudo de habilidades cognoscitivas básicas identificando não só as dificuldades da criança, como também aquelas áreas em que sobressai. Na avaliação neuropsicológica infantil existem 4 áreas que diversos autores consideram como essenciais: a linguagem, a memória, a motricidade e a percepção. Contudo, a história clínica da criança é parte indispensável do processo de avaliação que proporciona dados relevantes para a correcta interpretação dos resultados obtidos através da aplicação de provas. A entrevista do neuropsicólogo com os pais e/ou com a própria criança, e a observação de outros relatórios médicos e/ou educativos, permite recolher um importante número de dados neuropsicológicos com vista à formulação de um diagnóstico e possível prognóstico (antecedentes pessoais, educativos e familiares).

De facto, podemos concluir que as considerações acerca do desenvolvimento das funções cognitivas, o processo de aquisição de competências, os fenómenos de reorganização de estruturas cerebrais através das capacidades plásticas corticais, nos proporcionam novas e interessantes interrogantes para o futuro da investigação científica neste âmbito.

14 de junho de 2008

“Era uma vez um bebé”


O bebé imaginário e o bebé real

A gravidez é um período no qual ocorrem mudanças significativas na vida de uma mulher, é a passagem do estatuto de filha à responsabilidade inerente ao papel de mãe. Enquanto filha, durante a infância, as meninas vivenciam desde muito cedo o desejo de ser mãe, que se manifesta através do jogo simbólico tão comum, como o “brincar às bonecas”.
Ao longo do seu desenvolvimento, a menina vai crescendo e ultrapassando diversas fases no seu “futuro papel de mãe”. Primeiramente, enquanto criança, acede à construção de uma imagem mental, um conjunto de desejos e expectativas que se assemelham totalmente à imagem de si mesma. Na fase da adolescência, surgem as fantasias, as qualidades e características de um bebé que vai adquirindo as suas próprias particularidades e começando aos poucos a afastar-se da ideia infantil de um clone de si mesma. Chegada à fase adulta, o bebé assume para a futura mãe, uma definição autónoma, independente do modo como essa mãe se define. Todas estas fases vão ser reactivadas e revividas durante a gravidez, na fase adulta.
Desde os primeiros dias de gravidez, é estabelecida uma relação imaginária com o feto: a representação que a mãe faz dele não é a de um embrião em formação, mas sim de um corpo imaginado já desenvolvido, com todas as atribuições que são necessárias a um corpo completo e saudável.
Podemos caracterizar três fases distintas na mente materna, que se vão alterando consoante o desenvolvimento da gravidez. São estas: o bebé edipiano, o bebé imaginário e o bebé real. O bebé edipiano resulta da própria história infantil da mãe, e é por isso considerado o mais inconsciente de todos, acarretando desejos infantis da mulher. O bebé imaginário vai sendo construído durante a gestação, sendo o bebé dos sonhos diurnos e expectativas, o produto do desejo de maternidade. Finalmente, o bebé real, o que a mulher irá segurar nos braços no dia do nascimento, sendo que as expectativas e desejos imaginados serão, ou não, correspondidos.
A mãe necessita de personificar o feto para que, na hora do parto, não se encontre com um ser completamente estranho a ela (Brazelton e Cramer, 1992). A personificação vai sendo construída com a escolha do nome do bebé, a compra das roupas, a preparação do quarto, atribuição de características aos movimentos fetais, imaginando como o filho será.
As representações sobre o bebé imaginário assumem um papel fundamental no futuro vínculo que se vai criar entre a mãe e o seu bebé: é no encontro das características inatas do bebé real, e das expectativas, características e fantasias que a grávida tinha para ela própria enquanto futura mãe e para o seu futuro filho, que um novo sujeito surge.
A imagem que a mãe cria do bebé tem como base, por um lado, os desejos e necessidades, e por outro, a percepção dos movimentos, das actividades e dos tipos de reacção que o feto vai tendo (Brazelton e Cramer, 1992). Assim, a mãe vai-se preparando para a violência da separação anatómica; a adaptação de um bebé específico; um novo relacionamento que combinará as suas próprias necessidades e fantasias às de um outro ser.
A mulher vivencia o processo de gestação de um modo peculiar: ora de uma forma feliz, expectante, segura pela concretização de um desejo arcaico, ora de um modo assustado, ansioso e receoso, pela criança que há em si, que não se sente preparada para encarar e assumir a responsabilidade que se aproxima a uma velocidade galopante: o fim dos 9 meses. Este texto refere-se exclusivamente à figura feminina, a mãe. Contudo, é de referir que o papel desempenhado pelo pai tem assumido cada vez mais preponderância, assumindo deste modo, uma importância fundamental neste projecto de criar uma nova vida. Ficará adiado um artigo dedicado exclusivamente ao tema.


“Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito.O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo,até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue,falaram pela minha boca,floresceram comigo.”
Pablo Neruda



NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica psivrsa.blogspot.com
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Fabrícia Gonçalves, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira, Susana Sousa, Teresa Moos) psivrsa@gmail.com
Divisão de Acção Social - Câmara Municipal de Vila Real de Santo António

21 de maio de 2008

A Casa do Avô


Saber envelhecer é obra-prima da sabedoria (Amiel).

Algumas pessoas, por mais velhas que sejam, nunca perdem a beleza; apenas a transferem do rosto para o coração (Buxbaum).


Ao longo do processo de envelhecimento, as capacidades de adaptação do ser humano vão-se atenuando, tornando-o cada vez mais sensível ao meio. Os idosos podem revelar características positivas tais como a sabedoria, um maior nível de maturidade emocional, conhecimento e experiência. Podem igualmente beneficiar de melhores capacidades para dar um maior significado à vida, maior flexibilidade frente às situações e podem eventualmente ser capazes de compensar as perdas com os ganhos. No entanto, nesta fase da vida podem surgir algumas dificuldades, nomeadamente, de isolamento, de inactividade e de desempenho. Estas podem trazer consigo uma tendência para a diminuição da auto-estima e das faculdades mentais que por sua vez podem evoluir para estados de tristeza, apatia, desmotivação e dificuldade de adaptação a novos papeis. Contudo, e apesar de muitas mazelas, dificuldades e perdas inevitáveis é importante não esquecer que o envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de toda a vida.
Ainda não é de todo conhecida a etiologia do envelhecimento. A pessoa envelhece como um todo embora os primeiros responsáveis sejam as células, os tecidos e os órgãos. Existem diversas teorias, modelos e visões que tentam explicar as causas do envelhecimento mas nenhuma delas atinge uma explicação plena: chega-se ao consenso de que se vai envelhecendo a cada dia, cada pessoa do seu modo, e por muitas causas diversificadas.
O aumento da esperança média de vida, consequência da melhoria dos cuidados de saúde resultou num aumento da proporção de pessoas idosas. No concelho de Vila Real de Santo António, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a população idosa em 2006 constituía 25% dos residentes, num total de 18341 habitantes. Perante esta situação tornou-se essencial dar respostas às necessidades vividas pela população idosa residente no concelho.
Para fazer face a esta problemática, às dificuldades existentes na terceira idade e na tentativa de oferecer aos idosos uma melhor qualidade de vida, a Câmara de Vila Real de Santo António criou um projecto denominado a Casa do Avô.
Este projecto consiste na implementação de um centro para Idosos com idades superiores aos 65 anos, com o objectivo de optimizar as potencialidades e competências deste grupo. A Casa do Avô será constituída por quatro espaços físicos – Vila Real de Santo António, Monte Gordo, Manta Rota e Corte António Martins – para poder abranger todo o concelho e assim facilitar o apoio prestado. Estarão envolvidas áreas do serviço de saúde (consultoria geriátrica, terapia ocupacional, psicologia, fisioterapia, enfermagem, podologia, massagem e educação física) do serviço de Acção Social (apoio à família, animação sócio/cultural e psicomotricidade) e do serviço cultural.
Este espaço tem como objectivo principal atenuar as dificuldades a nível pessoal, clínico, social e cultural, a fim de melhorar a sua qualidade de vida. Como? Através da realização de actividades recreativas e de lazer para ocupação dos tempos livres, participação na comunidade e socialização, assim como da prevenção de toda e qualquer deterioração das capacidades e através da fomentação das relações interpessoais entre os utentes.
O desafio deste projecto é fazer com que o envelhecimento se processe com uma maior qualidade, em todos os domínios como na saúde física e mental, na competência social, na conservação da autonomia, bem-estar e relações interpessoais, desenvolvimento pessoal e intelectual, sendo por isso também necessário o contributo psicológico.
O idoso deve ser ajudado a compreender as modificações corporais e do comportamento, tal como as mudanças cognitivas a nível da memória e da resolução de problemas. Levá-lo a compreender as mudanças tecnológicas e culturais da sociedade, a lidar com novas situações, permitir-lhe aceder a um desenvolvimento satisfatório e a descobrir novos papéis.
Deve igualmente ser compreendido e ajudado a adaptar-se ao seu dia-a-dia porque é esta adaptação que lhe permite manter-se activo em todos os níveis possíveis e levá-lo, ao mesmo tempo, a um contínuo investimento nos cuidados de saúde, desenvolvimento pessoal e social e nos seus objectivos de vida. Para tal, é importante a familiarização com o olhar dos idosos perante o mundo, uma vez que toda a intervenção (psicológica, terapêutica, educativa, social e cultural) deverá tê-lo como ponto de partida, de modo a promover o desenvolvimento das pessoas que estão a viver a última, mas não menos importante fase do ciclo de vida.

28 de abril de 2008

Caminhos

Já posso partir! Que os meus irmãos se despeçam de mim!
Saudações a todos; começo minha partida.
Devolvo aqui as chaves da porta e abro mão dos meus direitos na casa.
Palavras de bondade é o que peço a vocês por último.
Estivemos juntos tanto tempo mas recebi mais do que pude dar.
Eis que o dia clareou e a lâmpada que iluminava o meu canto escuro se apagou.
A ordem chegou e estou pronto para a minha viagem. (Tagore, Gitanjali, XCIII)


Eis que surge o tema de que ninguém quer falar. Eis que surge o objecto de preocupação de muitas mentes pelo mundo fora. Única certeza de um ser vivo. A morte é a palavra temida mas que é necessário usar. Porque poucos são os artigos alusivos ao tema e porque é necessário informar e ajudar quem trata e quem padece em silêncio.
Da necessidade da prestação de determinados cuidados ao longo da última caminhada terrena surge a preocupação com a intervenção fornecida. Deveremos falar com o doente sobre o assunto, deveremos mudar de assunto e procurar actividades como forma de distracção, o doente deverá ter conhecimento total acerca do que se passa consigo?
São muitas as questões que se colocam às famílias no momento em que a noticia atinge o coração familiar.
Elisabeth Kübler-Ross no seu livro Sobre a Morte e o Morrer foca algumas fases pelas quais o indivíduo passa após a recepção da notícia. Devemos entender que estas fases referem-se a aspectos psicológicos que interferem no bem-estar da pessoa, família e até mesmo no tratamento podendo, consoante a atitude positiva ou negativa do sujeito, ser um facilitador ou obstáculo ao seu tratamento. Também acontece alguns indivíduos não passarem por todas as fases saltando algumas ou ficando presos a uma delas.
Segundo Kübler-Ross a primeira fase pela qual os pacientes passam é a fase da negação da doença e o isolamento. Reacção ao choque inicial passa por não querer aceitar a doença e o que a acompanha. A segunda fase é uma fase de revolta, com a aceitação da doença surge a raiva o individuo pergunta-se porque foi ele e porquê naquele momento. Com a terceira fase surge uma nova forma de vida, o indivíduo já aceitou parcialmente a doença e vai tentar ser mais prestável aos outros, como se dessa forma o “castigo” a que foi confinado seja levantado. Com a quarta fase vem a depressão quando o indivíduo não consegue mais esconder e esconder-se da sua doença toda a sua raiva e alheamento dão lugar a um sentimento de grande perda. Com a quinta fase surge a aceitação, esta é a fase onde termina a luta, aceita-se a doença, surge finalmente uma temporada de paz e serenidade.
A doença terminal é um processo complexo que deve ser tratado com todo o cuidado e atenção. O respeito é sem dúvida, o melhor instrumento para quem lida com os indivíduos que têm de enfrentar esta notícia.
Melhor que ninguém, o indivíduo sabe como se sente e quais as formas de o fazer sentir-se melhor. Caso seja necessário, é aconselhável que as rotinas familiares sejam minimamente alteradas. Deve ser proporcionado um ambiente seguro e estável ao nível emocional e social, para isso, deve saber sempre o que está a acontecer ao seu redor de forma a que poucos sejam os momentos de ansiedade. É então necessário algum cuidado sobre a forma como, no quotidiano é encarado o facto de ter a morte sempre presente. Fingir que nada está a acontecer poderá não ser a melhor solução, pois apesar de doloroso deve ser encarado e tratado. É frequente tentarmos animá-lo, distraí-lo e incitá-lo a fazer coisas que não o façam pensar na notícia. Mas ele necessita de tempo de reflexão e tristeza. É de extrema importância que esse espaço seja facultado. Só com estes momentos de reflexão é que o individuo pode elaborar e pensar a doença e o que o espera. Assim, devemos tentar apoiá-lo com a maior naturalidade e tranquilidade possíveis.
A esperança é outro factor a ter em conta visto que acompanha a pessoa e a família até ao fim. É um factor que tem de ser bem gerido pois da mesma forma que pode ser um facilitador no tratamento, pode ser um factor de oposição, em que o indivíduo perde a esperança, fica prostrado sem vontade de lutar, toda esta situação dificulta os tratamentos necessários.
A despedida de um ente querido é sempre muito dolorosa tanto para o próprio como para a família e amigos. Assim sendo, espaço, tempo, corpo e personalidade da pessoa têm que ser respeitados. Acima de tudo, o respeito fornece o melhor caminho para gerir o sofrimento.

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica psivrsa.blogspot.com
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Fabrícia Gonçalves, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira, Susana Sousa, Teresa Moos) psivrsa@gmail.com
Divisão de Acção Social - Câmara Municipal de Vila Real de Santo António

31 de março de 2008

O PSICÓLOGO NO APOIO DIRECTO ÀS VITIMAS DE CRIMES

A intervenção, no local, e num curto espaço de tempo após o crime, de psicólogos com formação especializada na área da vitimologia e dos comportamentos desviantes, torna-se particularmente relevante, quer para a prevenção das perturbações emocionais e comportamentais, em vítimas e em testemunhas, quer para a prevenção do desgaste emocional e profissional na própria equipa técnica.
As circunstâncias do crime e a cena do crime irão determinar quando e como as primeiras respostas irão ser dadas às vítimas. Cada crime, cada cenário de crime, é diferente e requer que os membros da equipa saibam quais são as prioridades no desempenho das suas tarefas.
Por exemplo, se o crime está ainda a ser investigado, ou se as provas ainda estão a ser recolhidas, ou se a investigação de um crime precisa de ser bastante morosa, os agentes policiais e a equipa médica podem não estar preparados ou não ter as circunstâncias ideais para dar a sua atenção imediata às vítimas.
Os agentes da polícia têm a seu cargo muitas tarefas, inclusive avaliar os cuidados de saúde; determinar os factos e as circunstâncias; aconselhar/informar outros membros da equipa e reunir e distribuir informação acerca do suspeito. Enquanto psicólogos e elementos integrantes da equipa, ocupamos uma posição única na ajuda às vítimas na gestão da situação traumática imediata e no apoio para que restabeleçam a sua sensação de segurança e o controlo sobre as suas vidas.
O trauma e a experiência dolorosa dos sobreviventes podem causar disfunções emocionais e psicológicas que duram para o resto da vida da pessoa. Das três causas de morte violenta (homicídio, suicídio ou acidente), o homicídio poderá ser o que causa um impacto mais intenso.
Existem conhecimentos clínicos cientificamente comprovados, que indicam que após uma morte por homicídio, os membros da família da vítima, estão em risco de desenvolver, de forma grave e intensa, reacções psicológicas graves. Uma equipa de especialistas ao desenvolver um serviço apropriado e sensível que vá de encontro às necessidades mais urgentes desta população, só irá exacerbar as suas capacidades e aumentar as competências individuais para conseguirem lidar com eventos traumáticos.
A necessidade de uma equipa com serviços especializados, torna-se ainda mais evidente nos âmbitos da prevenção e tratamento. São necessários serviços especializados para providenciarem assistência a famílias e a outro tipo de intervenientes e/ou testemunhas, num curto espaço de tempo, logo após o crime. É positivo iniciar o trabalho psicológico no próprio local do crime, pois é lá que se encontram os “sobreviventes”, ou seja, os familiares directos e/ou amigos.

Quais seriam então os objectivos do apoio psicológico directo?- Compreender e conhecer as necessidades das vítimas de crimes;
- Dar respostas às questões que emergem durante o contacto inicial entre a equipa e as vítimas.

Quais os benefícios deste apoio psicológico directo?
- Validar a forma como as vítimas irão “lutar” na crise iminente e, mais tarde, na sua recuperação;
- A primeira resposta dada às vítimas irá influenciá-las de forma determinante, bem como na sua subsequente participação na investigação e no seu testemunho para a resolução do crime;
- As vítimas que tiverem uma experiência positiva com as “forças da lei” estarão mais aptas a relatar futuras agressões e/ou delitos.

Dessa forma, a integração de psicólogos poderá proporcionar uma ajuda imediata às vítimas, quer ao nível dos processos de gestão da “crise”/situação traumática e da reorganização emocional e cognitiva, necessários ao restabelecimento da segurança e do sentimento de controlo sobre as suas vidas - potenciando as suas capacidades e as competências individuais para lidar com eventos traumáticos -, quer ao nível do apoio ao testemunho, elemento frequentemente essencial para a prossecução da investigação criminal.

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica psivrsa.blogspot.com
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira, Teresa Moos) psivrsa@gmail.com
Divisão de Acção Social - Câmara Municipal de Vila Real de Santo António

18 de março de 2008

Medos e Medo


Costumo dizer que o nosso corpo é constituido por 70% de água e 30% de medo, isto porque o medo é parte constituinte de todos os orgãos, principalmente da pele e o resto é água. Sem qualquer desprezo pela água pois que me soa às tonalidades misteriosas dos seres aquáticos ondulantes.
De aquáticos temos pouco e de ondulantes muito menos, basta olhar os nossos congéneres, a passear-se ou apressados, seja na rua, seja nas repartições. A rigidez ou os esgares, o ritmo ou a falta dele trai-os e mostra o medo de que são feitos.
A utilidade do medo é inquestionável: propõe defesas, resguarda e principalmente oferece a oportunidade da coragem. É preciso ser-se corajoso para se ser humano.
Chegada a conclusão que medo e coragem são indissociáveis admite-se imediatamente que cada passo, cada olhar de manhã para o espelho pressupõe um acto de confronto digno de respeito porquanto representa um acto de coragem. Se o passo mostra a tenacidade do movimento contra aquilo que os outros pretendem em nós denegrir, o olhar no espelho tem de recusar as coisas negativas que dizemos a respeito de nós próprios.
De facto, sejamos nós ou os outros, urge, a cada momento, combater aquilo que nos faz mal, magoa e mete medo. E o medo principal é que deixemos de nos reconhecer, que nos tornemos qualquer coisa de outro, diferente daquilo que desejamos ou ambicionámos, sonhámos. E passemos a ser aquilo que os outros querem. E ponto final. Se calhar não é um ponto final porque mesmo na cedência, no baixar dos braços existe medo, o de não conseguirmos manter-nos à tona (deve ser esse o único aspecto aquático que temos).
Assumir a fragilidade, reconhecer os limites promete a segurança dos contornos próprios. Por outro lado, equilibrar na balança aquilo que devemos colorir de emocionalidade e o que devemos contar de peso de racionalidade, regula os nossos actos, mostra uma atitude. É a partir daquí que surgem os medos.
O que eu refiro como medos e não já medo são processos defensivos contra a angústia e asseguram uma das possíveis concretizações desta última. De facto a angústia não é palpável, não se consegue falar dela, é um toiro em pontas e ninguém, no seu juizo completo concretiza uma pega dessas.
A incapacidade de afirmação como pegador convicto leva ao surgimento da fobia que, apesar do que dizia um professor meu do terceiro ano da faculdade (as fobias podem representar algum charme – por exemplo, não se conseguir andar sozinho de elevador) pode ser francamente debilitante.
A fobia é então a exacerbação emocional dos medos concretizados num aspecto específico da realidade: espaços pequenos, espaços grandes e multidões, exposição pública, animais, e tudo o que houver passível de meter medo.
É meu hábito, quando alguém me confia uma das suas fobias, tentar sentir, por aproximação o que essa pessoa sente. Uma vez alguém na consulta falou de uma fobia a pombos o que, na altura me custou a compreender vivendo-se numa cidade como Lisboa, infestada por esse tipo de animais. Bastou-me sentar na esplanada da Brasileira no Largo do Chiado, pedir um croissant e esperar para ver quatro ou cinco pombos a degladiar-se com o meu lanche.
Toda e qualquer fobia, todo e qualquer medo é de reconhecer e respeitar, quer pelo seu aspecto angustiante, quer pelo aspecto incapacitante.
É possível, pouco a pouco, reduzir a sensibilidade à situação que provoca a fobia, é perfeitamente possível ultrapassar os medos num processo que obriga, também a pouco e pouco perceber a angústia que está por trás.
Isso permite conhecer-nos cada vez melhor. Talvez descubramos algumas coisas que nos fazem esticar um pouco os limites, gostar das nossas fragilidades e crescer de uma forma plena aceitando escolhos e obstáculos e sentindo-nos melhor por isso. Aí os passos são diferentes porque mais firmes e os olhares ao espelho mais risonhos por nos gostarmos mais.

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica psivrsa.blogspot.com
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira) psivrsa@gmail.com
Divisão de Acção Social - Câmara Municipal de Vila Real de Santo António

17 de fevereiro de 2008

Inteligência Emocional: Desconstruindo o Mito



A inteligência emocional tem merecido uma particular atenção da comunidade científica e do público em geral nos últimos 20 anos. O conceito foi amplamente difundido por Daniel Goleman na década de 90, inicialmente apenas no âmbito empresarial, estendendo-se só mais tarde a outras áreas da psicologia. Ao cair no domínio dos jornais e revistas este conceito científico tornou-se difuso e foi mistificado com finalidade comercial. Por oposição à inteligência dita clássica, ao conceito de QI e às desigualidades sociais a que estes estiveram desde cedo associados, aparecia uma nova inteligência, um QE, e uma nova esperança para todos aqueles que se consideravam prejudicados pelos conceitos clássicos de inteligência.
Um dos aspectos que tornou o conceito tão apelativo é a junção de dois termos aparentemente antagónicos (inteligência e emoção), que tradicionalmente constituem áreas distintas de análise. A primeira dúvida que surge acerca desde conceito é se ele existirá realmente, isto é, virá ele ocupar um nicho ainda não explicado ao nível do funcionamento mental do ser humano? E se assim for em que medida ele é realmente novo ou apenas um aglomerado de características e de mecanismos anteriormente explicados noutros domínios do estudo da inteligência e da personalidade? É com estas e outras questões que a comunidade científica se tem debatido, sem chegar a consensos à volta de definições para o conceito e na construção de instrumentos para a avaliação do mesmo. Neste momento a definição mais amplamente aceite é a que Mayer e Salovey propuseram em 1997, que conceberam a inteligência emocional como a aptidão para perceber, expressar e assimilar emoções, para compreender e raciocinar emocionalmente e regular a emoção no próprio e nos outros. Sabemos claramente que as emoções não são inteligentes, embora sejam inegavelmente adaptativas. Portanto, para uma regulação emocional efectivamente inteligente necessitamos claramente de ferramentas como raciocínio abstracto e estratégias para a resolução de problemas. Só muito dificilmente conseguiremos conceber este conceito como independente da inteligência ou da personalidade, ou com uma relação linear entre estes. A perspectiva de que a inteligência emocional se refere à capacidade para raciocinar com e sobre as emoções salienta a necessidade de que, para além do que ao campo emocional especificamente se refere, é necessário identificar o que melhor permite a percepção, compreensão e regulação das emoções, considerando-as facilitadoras do pensamento e como potenciais promotoras do desenvolvimento emocional e intelectual.
Em síntese muitas perguntas permanecem em aberto e muita investigação tem ainda pela frente um conceito que tem bastante potencial, mas que certamente não contém respostas mágicas ou lineares para os problemas complexos do nosso funcionamento mental quotidiano…

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica
(Dorisa Peres, Eduardo Coelho-Moos, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira) psivrsa@gmail.com

25 de janeiro de 2008

(o tão aguardado) Primeiro Artigo

Já foi publicado no Jornal do Algarve (24.01.2008), o primeiro artigo deste grupo. A nossa colaboração, em formato de crónica quinzenal vem dar início a uma série de iniciativas que este grupo se propôs realizar que oportunamente serão aqui divulgadas.

Aguardamos sugestões e comentários dos nossos leitores.

Obrigado!

Quem Somos? De onde vimos e para onde vamos...

Iniciar uma coluna que se refira a Psicologia é sempre um desafio já que falamos de comportamentos e de afectos. Sejam esses comportamentos pouco habituais e por isso chamados de “anormais” por não servirem a maioria, sejam eles banais por nos identificarem a todos, estão sempre ligados a afectos. Quer isto dizer que os comportamentos suscitam emoções e são muitas vezes, senão sempre, originados por elas – mesmo aqueles desencadeados pela impulsividade referem-se a uma qualquer emoção primária (raiva, medo, nojo, alegria, interesse) que uma situação provoque.
Então o que se propõe aqui é deixar cair a maiúscula e propor uma psicologia próxima das pessoas que nos leiam e na qual se reconheçam.
Esta iniciativa inclui-se nas actividades da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António numa perspectiva integrada do que consideramos, de facto, uma acção eficaz que integre todos os agentes sociais no sentido de um bem-estar individual e colectivo.
A psicologia constitui um vector de análise, investigação e intervenção junto da Pessoa e do Grupo, agora obrigatoriamente maiúsculas por representarem uma identidade, que está a par das intervenções reais para suprir dificuldades, ultrapassar obstáculos, impedir violentações, cumprir necessidades sejam elas básicas – alimentação, habitação, educação, cultura - , da saúde física, relativas à Justiça ou aos Direitos do Homem/ da Criança.
O presente artigo tem o objectivo de apresentar e divulgar o grupo de psicólogos da Acção Social da C.M. de VRSA, que se encontra ao dispor da comunidade para ajudar, apoiar e acompanhar todos os seus constituintes, desenvolvendo uma sociedade cada vez mais informada. O NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica, criado a 3 de Outubro de 2007, tem como finalidades promover o bem-estar psicológico e beneficiar um desenvolvimento pessoal e intelectual aprazível; implementar um serviço de intervenção prática em vários domínios (educação, família, formação de profissionais e técnicos de saúde, etc.); informar sobre diversos temas ligados à área da psicologia através de diversos meios de comunicação, e divulgar notícias relacionadas com a psicologia bem como outras que sejam relevantes para esta área...

A psicologia nos últimos 200 anos foi-se tornando irmão de direito das disciplinas humanas e é agora parceiro indiscutível das decisões que se referem à felicidade e não será ela o objectivo último de cada um de nós, não deverá ser essa a meta das instituições? O Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica da Câmara Municipal de Vila Real de Sto. António pensa que sim e é com essa directriz que se propõe um encontro semanal com o leitor, aqui necessariamente unidireccional mas que é complementado com o Blog criado para esse efeito, fórum de discussão e por isso bidireccional, onde podem partilhar e consultar opiniões e temas que correspondam a necessidades envolventes à área da Psicologia.
Tentaremos trazer para este espaço alguns assuntos que nos parecem importantes e que tentarão corresponder ao interesse da população. Agradecemos as vossas sugestões sobre temáticas a abordar, pois o que interessa é responder a questões e criar novas dúvidas.

NEIP – Núcleo de Estudos e Intervenção Psicológica
(Dorisa Peres, Patrícia Santos, Pedro Costa, Sílvia Cardoso, Sofia Ferreira, Ana Ximenes, Fabrícia Gonçalves)