4 de fevereiro de 2014

Cuidar de quem cuida


“Não há heroísmo maior que o de amar e tratar dos outros”
Pam Brown, N . 1928


Nos passados dias 16 e 17 de Janeiro foi realizada uma formação direccionada para cuidadores informais de pessoas dependentes, com o propósito de discutir questões como o que é cuidar, que impacto tem essa tarefa no cuidador e, principalmente, formas de lidar com o stress e procurar encontrar formas de “cuidar de si”.
 Quando nos deparamos com uma situação de doença necessitamos de ajuda, de um acompanhamento especializado e de um apoio incondicional para que consigamos ultrapassar tal momento da nossa vida. No entanto, situações de doença crónica implicam cuidados adicionais, continuados e/ou paliativos, que permitam ao doente não a cura ou tratamento dos sintomas, mas a procura do bem-estar físico e psicológico no momento em que lida com as consequências da doença.
Neste sentido, se pensarmos na forma como cuidamos das pessoas que são portadoras de doenças crónicas, concluímos que em Portugal a maioria dos cuidados são efectuados no âmbito familiar. Na sua maioria os cuidadores são mulheres, entre os 45 e os 60 anos. Habitualmente são as esposas ou as filhas que assumem este papel, muitas vezes em detrimento de uma vida profissional que as preencha, e prestam este tipo de cuidados durante vários anos.
Aceitarmos cuidar de alguém que apresenta algum tipo de dependência não é algo que planeemos ou possamos antecipar. Quando surge essa necessidade podemos assumir este papel por vários motivos, sendo exemplos disso a necessidade de retribuir de alguma forma o que essa pessoa já fez por nós, ou o facto de ser habitual, para o cuidador, os cuidados serem prestados por familiares ou ainda a recusa, por parte do doente ou dos próprios cuidadores, em institucionalizar a pessoa dependente. Neste sentido, os cuidados que mais se verificam relacionam-se com as Actividades de Vida Diária, como cuidados de higiene pessoal, vestir, alimentar, mobilidade, etc. Os cuidadores auxiliam ainda em actividades como o transporte, compras, actividades domésticas, preparação  de refeições, administração e gestão financeira ou administração de medicamentos.
Devemos então reflectir na forma como este papel interfere no quotidiano de quem cuida e que consequências acarreta para a sua vida, sendo que a família tem que reorganizar-se para poder lidar com a situação, pois a prestação de cuidados implica um processo de readaptação a novos papéis, tanto por parte do cuidador como por parte do alvo dos cuidados.
Esta readaptação a um novo papel, a novas responsabilidades normalmente é acompanhada de sentimentos de elevada realização pessoal. Quem cuida procura dar o melhor de si em prol do bem-estar de quem é cuidado e quando cumpre este objectivo o cuidador sente-se útil, há uma troca mais intensa de afectos e experiências, que aproximam de forma evidente a pessoa dependente e o seu cuidador. Esta aproximação provoca orgulho pelos cuidados prestados, prazer por ver o familiar bem cuidado, sentimento de dever cumprido, etc.
Por outro lado, importa também evidenciar que ao assumir-se como cuidador principal de um familiar, quem cuida vai a curto prazo sofrer considerável desgaste físico e emocional, devido às exigências que o novo papel impõe. Assim sendo, podem surgir questões relacionadas com as dificuldades financeiras que uma doença crónica acarreta ou com as exigências de tempo e energia que o doente possa fazer. Por outro lado, o quotidiano do cuidador é alterado, sendo que muitas vezes não encontra tempo para si ou para dedicar à família e outras relações interpessoais. Do ponto de vista emocional também se podem verificar algumas alterações, como é o caso do aparecimento de sentimentos de culpa do cuidador, vergonha, baixa auto-estima e preocupação excessiva com o familiar dependente.


Como cuidar de si:

Descansar e ter uma alimentação adequada.
Procurar ter tempo livre.
Desabafar, falar dos problemas com alguém.
Praticar exercício físico.
Estar informado sobre os processos da doença de quem cuida.
Encontrar soluções para acalmar-se em momentos de maior stress.
Planear com antecedência e estar preparado para o que possa acontecer.
Experimentar várias soluções até encontrar a que resulte.
Podemos então concluir que o acto de cuidar, embora uma tarefa pesada e difícil, é um acto de humanismo, de demonstração de amor perante um familiar ou amigo que se depara com uma situação em que necessita de ajuda.