“Poderá
o psicólogo tratar estes “alunos-problema”
e
devolvê-los à sala de aula, "bem ajustados"?
Sem a
escola e sem a família a resposta é "Não"!”
O
papel do psicólogo nas escolas suscita muitas vezes dúvidas, tanto nos pais,
como em alguns dos profissionais da área da educação, que não estão muito
familiarizados com o trabalho destes técnicos. Alguns mitos e conceções
desatualizadas estão na base de muitas destas dúvidas e podem chegar a
influenciar a acuidade da avaliação e eficácia da intervenção psicológica.
Para
tornar mais claro qual o papel destes profissionais é importante começar por
falar da legislação portuguesa, onde acompanhar o percurso escolar dos alunos
surge como a sua principal função. Este acompanhamento consiste na intervenção
pedagógica individualizada, em situações de dificuldade; no apoio aos alunos
nas escolhas vocacionais e construção do seu projeto de vida e na adequação das
respostas educativas ás necessidades dos alunos.
Por
norma o psicólogo educacional é visto como um profissional que intervém na área
da saúde mental, em contexto escolar e na maioria das vezes nos casos de
crianças com necessidades educativas especiais. Esta pode ser interpretada como
uma visão redutora do seu trabalho, mas não deixa de ser uma parte importante
das suas funções.
Nestes
casos, o que pode o psicólogo fazer por estes alunos com necessidades
educativas especiais? Poderá o psicólogo tratar estes “alunos-problema” e
devolvê-los à sala de aula, "bem ajustados"?
Sem a
escola e sem a família a resposta é "Não". O psicólogo não é o
portador de soluções mágicas e de receitas prontas a aplicar para resolver as
dificuldades enfrentadas.
Para
dar resposta às necessidades educativas de um determinado aluno é importante
que, desde o início do acompanhamento, o psicólogo tenha mais em conta do que
apenas o comportamento e as caraterísticas dos alunos em causa.
Desde
logo, o autor do pedido de avaliação destes alunos - por norma a escola – tem
um papel central em todo o processo que se irá desenvolver. Contudo, os
encarregados de educação dos alunos, por serem responsáveis pela criança e por
definirem o seu contexto familiar, são também indissociáveis do processo
inicial de avaliação.
Todos
os elementos da vida do aluno são essenciais para a avaliação e para a eficácia
da intervenção psicológica, pois os "alunos-problema" são apenas uma
parte do problema e como tal, são também apenas uma parte da solução.
Esta
forma de abordagem sistémica implica que, durante a avaliação, se procure a
informação em todos os contextos em que a criança se insere e com todos os
intervenientes. O objetivo passa por determinar os fatores que dão origem e
mantêm o problema e encontrar fatores facilitadores e recursos que possam fazer
parte da solução.
Esta
avaliação por vezes gera algum mau estar nos profissionais e na família que
podem considerar que as suas competências estão a ser colocadas em causa e que
a sua privacidade está a ser invadida. Nestes casos pode acontecer que estes
elementos respondam com alguma hostilidade ao profissional de psicologia ou
então que escolham envolver-se o menos possível no processo de avaliação e
intervenção.
Em
parte, numa filosofia de coresponsabilidade pela intervenção terapêutica e
pedagógica, é ao psicólogo que cabe inverter esta perspetiva desajustada que os
intervenientes no processo possam ter.
O
código ético profissional acautela esta situação na medida em que requer que o
profissional de psicologia informe o seu cliente e obtenha deste o
consentimento necessário para prosseguir o seu trabalho.
Tornar
o conhecimento acerca destas questões mais acessível a todos é essencial para
adequar as expetativas das pessoas à realidade do trabalho do psicólogo, aos
seus objetivos e às suas competências e princípios éticos. Os direitos que
assistem os clientes dos serviços de psicologia em questões tão importantes
como a confidencialidade, a privacidade e a informação, são uma condição sine
qua non para a prática do psicólogo, desde logo para criar e manter uma relação
de confiança com o cliente. O conhecimento dos direitos e deveres, contemplados
no código deontológico, é a forma de assegurar aos clientes que, a informação é
sempre obtida pelos psicólogos não para invadir a sua privacidade mas para
colmatar uma necessidade objetiva e para servir os seus interesses (dos
clientes).
Estas
são questões que, quando ficam por esclarecer, podem bloquear o processo de
avaliação e de intervenção e, sem esquecer que é ao psicólogo que cabe
esclarecê-las, é importante lembrar que um papel mais ativo das pessoas
envolvidas é um fator que pode ter uma influência determinante na promoção da
eficácia da intervenção e na obtenção de melhores resultados que realmente se
adequem aos interesses dos clientes.