2 de outubro de 2013

O papel do Psicólogo nas escolas


“Poderá o psicólogo tratar estes “alunos-problema”
e devolvê-los à sala de aula, "bem ajustados"?
Sem a escola e sem a família a resposta é "Não"!”


O papel do psicólogo nas escolas suscita muitas vezes dúvidas, tanto nos pais, como em alguns dos profissionais da área da educação, que não estão muito familiarizados com o trabalho destes técnicos. Alguns mitos e conceções desatualizadas estão na base de muitas destas dúvidas e podem chegar a influenciar a acuidade da avaliação e eficácia da intervenção psicológica.
Para tornar mais claro qual o papel destes profissionais é importante começar por falar da legislação portuguesa, onde acompanhar o percurso escolar dos alunos surge como a sua principal função. Este acompanhamento consiste na intervenção pedagógica individualizada, em situações de dificuldade; no apoio aos alunos nas escolhas vocacionais e construção do seu projeto de vida e na adequação das respostas educativas ás necessidades dos alunos.
Por norma o psicólogo educacional é visto como um profissional que intervém na área da saúde mental, em contexto escolar e na maioria das vezes nos casos de crianças com necessidades educativas especiais. Esta pode ser interpretada como uma visão redutora do seu trabalho, mas não deixa de ser uma parte importante das suas funções.
Nestes casos, o que pode o psicólogo fazer por estes alunos com necessidades educativas especiais? Poderá o psicólogo tratar estes “alunos-problema” e devolvê-los à sala de aula, "bem ajustados"?
Sem a escola e sem a família a resposta é "Não". O psicólogo não é o portador de soluções mágicas e de receitas prontas a aplicar para resolver as dificuldades enfrentadas.
Para dar resposta às necessidades educativas de um determinado aluno é importante que, desde o início do acompanhamento, o psicólogo tenha mais em conta do que apenas o comportamento e as caraterísticas dos alunos em causa.
Desde logo, o autor do pedido de avaliação destes alunos - por norma a escola – tem um papel central em todo o processo que se irá desenvolver. Contudo, os encarregados de educação dos alunos, por serem responsáveis pela criança e por definirem o seu contexto familiar, são também indissociáveis do processo inicial de avaliação.
Todos os elementos da vida do aluno são essenciais para a avaliação e para a eficácia da intervenção psicológica, pois os "alunos-problema" são apenas uma parte do problema e como tal, são também apenas uma parte da solução.
Esta forma de abordagem sistémica implica que, durante a avaliação, se procure a informação em todos os contextos em que a criança se insere e com todos os intervenientes. O objetivo passa por determinar os fatores que dão origem e mantêm o problema e encontrar fatores facilitadores e recursos que possam fazer parte da solução.
Esta avaliação por vezes gera algum mau estar nos profissionais e na família que podem considerar que as suas competências estão a ser colocadas em causa e que a sua privacidade está a ser invadida. Nestes casos pode acontecer que estes elementos respondam com alguma hostilidade ao profissional de psicologia ou então que escolham envolver-se o menos possível no processo de avaliação e intervenção.
Em parte, numa filosofia de coresponsabilidade pela intervenção terapêutica e pedagógica, é ao psicólogo que cabe inverter esta perspetiva desajustada que os intervenientes no processo possam ter.
O código ético profissional acautela esta situação na medida em que requer que o profissional de psicologia informe o seu cliente e obtenha deste o consentimento necessário para prosseguir o seu trabalho.
Tornar o conhecimento acerca destas questões mais acessível a todos é essencial para adequar as expetativas das pessoas à realidade do trabalho do psicólogo, aos seus objetivos e às suas competências e princípios éticos. Os direitos que assistem os clientes dos serviços de psicologia em questões tão importantes como a confidencialidade, a privacidade e a informação, são uma condição sine qua non para a prática do psicólogo, desde logo para criar e manter uma relação de confiança com o cliente. O conhecimento dos direitos e deveres, contemplados no código deontológico, é a forma de assegurar aos clientes que, a informação é sempre obtida pelos psicólogos não para invadir a sua privacidade mas para colmatar uma necessidade objetiva e para servir os seus interesses (dos clientes).

Estas são questões que, quando ficam por esclarecer, podem bloquear o processo de avaliação e de intervenção e, sem esquecer que é ao psicólogo que cabe esclarecê-las, é importante lembrar que um papel mais ativo das pessoas envolvidas é um fator que pode ter uma influência determinante na promoção da eficácia da intervenção e na obtenção de melhores resultados que realmente se adequem aos interesses dos clientes.