4 de dezembro de 2015

Os Sons em Tom de Brincadeira


Brincar com as palavras, articular sons,
imprimindo-lhes determinada cadência,
é sensibilizar a criança para a língua materna.”
Lourdes Custódio


As crianças conseguem desafiar-nos diariamente a participar nas suas brincadeiras preferidas. E nós temos tempo de brincar com elas? Será que estamos disponíveis para lhes dar a atenção de que precisam? Como é que uma simples brincadeira pode ser fundamental para o seu desenvolvimento? Hoje em dia o tempo que dispomos para as acompanhar é mais reduzido e, por isso, cada momento de partilha deve ser enriquecedor trazendo novas aprendizagens.
É logo desde o período intra-uterino que o bebé começa a desenvolver os seus sentidos: audição, visão, paladar, tato e olfato. Então, é já nesta altura que ouve os diferentes sons que o rodeia e começa a estabelecer contacto com o mundo exterior. Após o nascimento, com a exposição a uma ou várias línguas, a criança adquire e desenvolve a linguagem e a fala. Durante o desenvolvimento passa por diferentes etapas e, cabe-nos estimulá-la da forma que mais gosta: a brincar.
Nos primeiros meses de vida cante para o bebé, use brinquedos musicais, use diferentes expressões faciais, imite os sons dos animais, os sons dos transportes e use gestos para representar um objeto ou uma pessoa, incentivando-o também a usar. É por volta do primeiro ano de vida que o bebé diz as suas primeiras palavras. Nesta fase utilize livros ou construa o seu próprio livro com diferentes ilustrações da casa, dos animais, dos transportes. Use diferentes onomatopeias: “Como faz o pato? Qua qua qua. E o carro? Brrr brrr”. A partir dos 3 anos de idade a criança deve ser compreendida no seio familiar e pelas outras pessoas, sendo normal que ainda realize algumas trocas de sons ao falar. Porém não se esqueça de dar sempre o modelo correto da palavra, podendo repeti-la dividindo por sílabas e com tempo a criança vai sendo capaz de se corrigir. Nesta fase incentive o seu filho a contar histórias com apoio de imagens, explorando o conteúdo dos livros. Imaginem uma peça de teatro e utilizem disfarces e bonecos para representar as personagens. Aos 5 anos brinquem com as rimas, as lengalengas, os trava-línguas, as cantilenas, repetindo e ajudando a criança a memorizar.
Estas, entre muitas outras brincadeiras, são fundamentais no desenvolvimento dos mais pequenos. Não esquecendo que todos têm as suas características próprias, podendo apresentar algumas variações nas etapas de desenvolvimento da linguagem.
Acima de tudo, devemos tentar todos os dias disponibilizar algum tempo para falar com a criança, para lhe dar a atenção que precisa, para deixar que esta seja ouvida e conte as suas aventuras. É importante os mais pequenos saberem e terem a oportunidade de explorar o mundo que os rodeia, pois só assim conseguem ser crianças saudáveis envoltas num ambiente enriquecedor. 

5 de novembro de 2015

Procurar um Sentido

*

 “Se penetrássemos o sentido da vida
seríamos menos miseráveis.”
Florbela Espanca


A principal forma de sobreviver ao sofrimento é dando-lhe um sentido. Todas as vidas são em determinado momento marcadas pela dor. Apesar disso nem todas as pessoas desenvolvem doenças mentais derivadas desses traumas.
É relativamente fácil detectar os factores que podem ter levado uma pessoa a deprimir-se ou a desenvolver outra doença mental. Se conhecermos ou dedicarmos algum tempo a conversar com essa pessoa, saberemos explicar com relativa clareza aquilo que a levou àquele ponto. A própria pessoa normalmente também o sabe.
O verdadeiro desafio para quem apoia não é o diagnóstico, mas sim o caminho da recuperação. Sobre isso sabemos todos pouco. Por isso, procuramos nas ciências psicológicas, compreender os meandros não só da doença mas também da saúde. O que leva a que uma pessoa, perante inúmeros problemas não desenvolva a depressão óbvia?
Essa questão foi colocada de forma muito pertinente por aqueles que estudaram os sobreviventes dos campos de concentração, exemplo paradigmático de outros tantos horrores da nossa história.
Como é que seres humanos que viveram em condições de degradação total da sua dignidade conseguiram sobreviver? Como é que foi possível para alguns não desenvolverem doenças mentais crónicas?
Vitor Frankl viveu enquanto psicanalista uma experiência única. Sobreviveu a Auschwitz, e contou-nos como o fez, no seu livro "O homem em busca de um sentido", que escreveu em 9 dias. Em determinado momento conta-nos que se imaginou anos depois de sair do campo a dar palestras sobre aquilo que tinha vivido e a ensinar os seus alunos sobre a terapia por ele desenvolvida. Em suma, encontrou no seu sofrimento um significado. Uma missão. Compreendeu-se que o sentido da vida é uma das necessidades do ser humano.
Este é um dos marcos da psicologia humanista -existencialista. Se na dor mais profunda, compreendermos o sentido da nossa existência é quase certo que poderemos sobreviver. Para alguns, a religião cumpre essa função de dar um sentido à vida de cada um. Porém esse sentimento tem de ser alimentado a partir do interior. Para cada um é necessário que a vida faça sentido, seja coerente, compreensível e tanto quanto possível significante.
Por vezes encontramos pessoas em crise existencial. Não estão necessariamente doentes, mas estão insatisfeitas sem motivo aparente. Teriam tudo, aos nossos olhos, para serem felizes. Saúde, família, trabalho, casa e carro mas, no entanto, não estão bem. Não conseguem encontrar um motivo para viver.
Já aqui o escrevemos que não basta com ter. É necessário procurar esse motivo dentro de nós, na nossa história e no nosso presente e, por vezes, recomeçar tudo de novo.

Só assim é se explica que milhões de pessoas atravessem meio mundo a pé, com os filhos ao colo. Só assim é possível levantarmo-nos depois de perdermos tudo, incluindo, a nossa família. Só assim teremos uma hipótese de sobreviver.

* Ilustração feita por João Estevão – Projecto Escolhas Vivas (VRSA) 

2 de outubro de 2015

Vou para o 1º ano. E agora?




“Para uma criança, a forma
como os seus pais e educadores 
lhe falam é um indicador daquilo 
que sentem por ela.”
Haim Ginott

“Agora começa a sério!”. É com esta frase que muitos pais encaram a passagem dos filhos do pré-escolar para o primeiro ciclo. A passagem da “brincadeira” para o “trabalho sério”, esquecendo muitas vezes a importância que o pré-escolar tem para o amadurecimento das crianças e para o desenvolvimento de competências que são essenciais para prepará-los para estes momentos de mudança que fazem parte do processo chamado “crescer”.
Com o aproximar do primeiro dia de escola, a ansiedade de muitos pais aumenta, pensam primeiro no aluno e só depois na criança, criam expectativas do bom aluno, querem que o seu filho seja “dos melhores” e estas situações quando não devidamente geridas podem ser um entrave para uma boa adaptação e integração dos seus filhos na escola. 
Os filhos facilmente percecionam as angustias e receios dos pais. Isto irá gerar-lhes mais insegurança face à mudança de escola e entrada no 1º ano, levando a uma consequente diminuição do desempenho escolar, e à diminuição da auto-estima derivada do sentimento de falhanço perante os pais. A maior parte das crianças normalmente entusiasma-se com a ida para a “escola dos crescidos”, sendo necessário que a família utilize este entusiasmo de forma adequada não transformando este ritual de passagem num processo aparentemente difícil e complexo. 
Em primeiro lugar é fundamental que toda a família incentive a ida para a escola falando dos aspetos positivos (os novos amigos, a nova professora, as atividades novas) evitando grandes explicações. É importante evitar o discurso que vão ter que ser crescidas, que agora têm que se portar bem, que não podem brincar na sala, ou mesmo tratá-las por “coitadinhas” por terem que acordar cedo ou terem muitos trabalhos a fazer. O mesmo se aplica à atribuição de recompensas por irem à escola.
Para além de todas estas alterações no quotidiano das crianças, o início desta nova etapa implica também alterações na dinâmica familiar. A começar pelas rotinas. Sabemos da importância que as rotinas têm para as crianças e, neste caso poderão ser readaptadas por exemplo duas semanas antes do início da escola, para que a mudança de horários não se faça de uma forma brusca, começando gradualmente a acordá-la e deitá-la um pouco mais cedo, tentando que se deite sempre cedo e por volta da mesma hora e, evitando a televisão no momento de dormir.
A rotina deverá ser organizada de forma a que a criança acorde com o tempo necessário para que a ida para a escola seja feita de forma calma, sem pressas e cumprindo os horários de entrada. Escolher a roupa e arrumar a mochila deverão ser tarefas efetuadas na noite anterior, evitando assim pressas e faltas de material na escola. Deverá haver tempo para que a criança e os pais tomem um pequeno-almoço equilibrado, para que a criança se mantenha saudável e nutrida e sejam garantidos os bons níveis de concentração na sala de aula. Se for necessário levar o lanche incentive a criança a ajudar na sua preparação. A higiene, o descanso e a alimentação contribuem para um bom desenvolvimento global.
É ainda fundamental que os pais participem no dia-a-dia da escola: acompanhar o calendário escolar, participar nas reuniões, verificar a caderneta do aluno. 
Os pais não devem ficar ansiosos com os conhecimentos adquiridos e devem evitar comparações com os amigos, colegas ou irmãos. Cada criança tem o seu próprio ritmo e aprender a ler e a escrever leva o seu tempo.
Pedir para ver os livros e os cadernos ajuda a criança a ser responsável e a cuidar do material. Conversar sobre como foi o dia na escola poderá ajudar a consolidar as aprendizagens e novas descobertas, partilhar as alegrias e tristezas, construir uma relação de confiança. Falem com vossos filhos com calma e ternura. Quando algo corre mal, façam para que o vosso filho sinta que vai ter a ajuda dos pais e que todos juntos vão ser capazes de ultrapassar as dificuldades.
Partilhar o crescimento dos nossos filhos, e ter noção real das suas características e capacidades, é essencial para os ajudar na transição para o 1º ano. A experiência dos pais, associada ao amor e atenção que dão aos seus filhos, são a melhor arma para os ajudar nos processos de mudança e no seu desenvolvimento.

2 de setembro de 2015

Morde, bebé morde!


“Só é possível ensinar uma criança a amar amando-a”  
Johann Wolfgang von Goethe

As crianças pequenas tendem a, em algum momento, morder. Morder objetos, morder outras crianças, morder adultos. Este comportamento, apesar de muito frequente deixa muitos pais e cuidadores preocupados e constrangidos.  Então porque é que isto acontece?
Não é ainda totalmente claro o porquê deste comportamento. Nos adultos, o ato morder outros indivíduos reveste-se de principalmente de duas formas: prazer, que ocorre em relações de intimidade e agressão, presente em situações de grande tensão como por exemplo desportos de contato quando o atleta encontra-se em sob grande pressão. Em crianças pequenas o morder está muito relacionado com a dificuldade que estas têm em expressar-se com recurso a formas mais adequadas, como a linguagem. Morder é uma ação que pode ajudar a aliviar a tensão de uma criança frustrada e se, com este comportamento a criança conseguir alguma reação no outro então é provável que volte a repetir o ato.

Os motivos principais que levam as crianças pequenas a morder prendem-se com:
1. Sentimentos e sensações difíceis de lidar como: frustração, solidão, ciúme, necessidade de atenção e afeto, cansaço; 
2. Necessidade de gastar energias em brincadeiras mais ativas;
3. Incómodo causado pelo nascimento dos dentes;
4. Fome;
5. Imitação de outras crianças ou como resposta a ambientes hostis.

Morder é uma agressão externa que surge com frequência entre o 1º ano e o 3º de vida e faz parte do desenvolvimento da criança, apesar de haver muitas crianças que nunca mordem. Entre estas idades, a criança começa a entender que tem vontade própria e começa a procurar outras alternativas para se expressar que não o choro. A linguagem é ainda muito rudimentar ou inexistente e morder, por vezes, é a única solução que se lhes ocorre. Com frequência esta ação surge na presença de outras crianças da mesma idade. Geralmente crianças que estão ao cuidado de outras pessoas que não os seus cuidadores costumam apresentar mais este comportamento. 

Apesar de ser frequente e, na maioria das situações não ser alvo de preocupação acrescida, fato é que, se a sua criança morde, pode e deve tentar resolver a situação. Quer para o conforto da mesma quer para conforto de quem com ela lida.  

Se a sua criança morde deve tentar contê-la no momento. Não permita que o faça. Tente aproximar-se rapidamente e afaste-a do alvo da dentada e tente compreender e conversar sobre o que a criança estará a sentir naquele momento, permitindo-lhe substituir por uma ação mais adequada (por exemplo brincar, correr, pintar…).

Se a criança continuar a morder, experimente refletir sobre quais serão os motivos que a levam a ter tal comportamento. Se estiver integrada em creche pergunte à educadora quando é que aconteceu, de que forma e quais as opiniões dela sobre a situação. Tente rever a hora antes do comportamento e observe o dia da sua criança (o que fez quando, como, com quem) e finalmente reveja a sua semana. Se ao fazer esta reflexão perceber que pode não estar a ter suficiente tempo de qualidade consigo, que precisa de mais atividade ao ar livre, ou precisa de um pouco mais de atenção então tente colmatar estas necessidades básicas. Sim, são necessidades que a sua criança tem, tal como comer e beber. Elas necessitam de tempo com os pais e da atenção que estes lhe podem dar. Se por outro lado, ao fazer a reflexão perceber que o que a criança está a sentir é consequência do nascimento dos dentes e esta será a forma que encontrou para aliviar o incómodo nas gengivas tente dar-lhe algo adequado para morder e sempre que ele tentar morder-lhe, dê-lhe o objeto em substituição. 

Se o que estiver a acontecer é que a criança está a sentir-se frustrada com os amigos tente evitar durante algum tempo este contacto e volte a tentar uns dias/semanas mais tarde. De início, eles precisam de atenção individualizada e de alguém que esteja atento às suas necessidades e desejos e um grupo de outras crianças pode não ser o local ideal para a sua criança. 

Se estiver com fome alimente-a. Se o seu problema residir na imitação de outros comportamentos ou em ambiente hostil, tente afastar-se destas fontes de hostilidade e proporcionar à criança um ambiente estável, seguro e harmonioso. 

Se a criança continuar a persistir no comportamento, existem outros sintomas associados e/ou se tem a sensação que algo não está bem com ela, deve procurar um profissional para tentar avaliar melhor a situação e dar uma resposta adequada.

6 de agosto de 2015

Laços não são nós



“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; 
repugna-la-íamos se a tivéssemos. 
O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.”
Fernando Pessoa

Com o passar dos anos vamos sendo sujeitos a mudanças, estas são compreendidas pela sociedade através de alterações da cultura, da economia, da natureza e até da educação. O que de facto nos fica é a comparação com o antigamente e uma grande vontade de compor estas mudanças no sentido de as equilibrar e evoluir nesse processo. Por cá, em especial, na educação, o modelo que vigorou até às vésperas do 25 de Abril foi marcadamente rígido ao nível da disciplina, no entanto após esta data foram evidenciadas mudanças que abriram espaço para uma maior partilha e comunicação. Com este artigo pretendo trazer-vos um momento de reflexão acerca da modificação de paradigma comportamental dos pais e a sua implicação na relação existente com a escola. É com pesar que percebo uma enorme dificuldade nos pais dos dias de hoje em lidar com as aventuras e desventuras que os filhos experienciam dentro do território escolar. Nesta viragem de século tornou-se ainda mais expressiva uma postura parental dirigida para uma exagerada democracia. Muitos dos pais de hoje foram no passado filhos que viveram num “antigamente predominantemente autoritário”, e ao quererem distanciar-se dessa posição acabam por ter dificuldade em entender as diferenças entre o que é a autoridade e o autoritarismo. Deslizam, portanto, ao recear de forma amplificada uma recaída pelo lado do autoritarismo e acabam por se perder numa demarcada oferta de liberdade que a determinado ponto conduz as suas crianças num sentido descontrolado de domínio e de carência de limites. É neste momento que assistimos a crianças com uma voz de comando superior à voz dos pais e que acabam por também reflectir essa postura na escola. Não é à toa que antigamente os pais eram autoritários; hoje, são os filhos. Dantes, os professores eram heróis dos alunos; hoje, são vítimas deles. Diz-se que os jovens de hoje não sabem ser contrariados. No entanto, tal como afirma o colega Doutor Eduardo Sá: “Os pais, hoje, sabem mais da escola num ano lectivo do que alguns dos nossos pais em todo o nosso percurso educativo!”.  Esta  extrema preocupação e algum descontrolo paternal acaba por conduzir estes pais para uma postura extremamente rígida e crítica relativamente aos restantes agentes educativos. Os professores acabam, também, por ter imensa dificuldade em gerir estes comportamentos, tanto os provenientes dos alunos como o dos seus progenitores. Actualmente conquistámos uma flexibilidade sem limites no que se refere à acusação propriamente dita e este “apontar o dedo” surge nas duas direcções, tanto de pais para professores como o contrário. Porque sempre ouvimos que a escola não é só um local que nos transmite aprendizagens escolares mas é também um espaço que nos ajuda a crescer como cidadãos e nos educa e transmite formas de comportamento adequado e equilibrado. Portanto as famílias projectam nas escolas as suas apoquentações de medo, de falta de tempo, disponibilidade para amar, proteger e educar, e acreditam que estas preocupações devem ser do encargo da escola. Por vezes, e não querendo ser taxativo, o envolvimento de alguns professores também se encontra comprometido, pois hoje são uma classe social que sofre em excesso erros cometidos pelos “senhores do poder”, e portanto essa desmotivação empurra-os para preocupações que se estendem a horizontes afastados da sua profissão. Ora vejamos, a quantidade de alunos por turma hoje em dia é abismal, no entanto o professor, deve cumprir um enorme número de tarefas e para além disso ainda tem de vigiá-las, acaba por não conseguir fazer chegar a cada menino o mais importante, o amor. Porque não se ama aos pares e muito menos às dezenas! A atenção, apoio e o carinho essencial para uma adequada transmissão de valores diminui e estes alunos acabam por simpatizar cada vez menos com os seus professores e vice-versa. A relação deste alunos com a escola e a educação sai penalizada, a criação de laços com os seus agentes educativos dentro do recinto escolar também se torna reduzida e contraproducente no seu processo natural de aprendizagem.
Não existem dúvidas de que os pais são os primeiros educadores da criança, ao longo da sua escolaridade, continuam a ser os principais responsáveis pela sua educação e bem-estar. No entanto não nos podemos esquecer que os professores são parceiros fundamentais na assunção dessa responsabilidade. Como parceiros, a união de esforços, partilha de objectivos e reconhecimento da existência de um mesmo bem comum para os alunos tornasse elementar, e como é lógico uma rivalidade entre estes agentes é algo que impede a união de esforços e a partilha de objectivos, tendo graves prejuízos para o aluno. É fundamental que se perceba que uma relação pouco razoável entre pais, alunos e escola não irá fazer com que as crianças entendam a educação de forma positiva e se desenvolvam cognitiva e comportamentalmente de forma mais equilibrada. Hoje em dia existe cada vez mais a necessidade de a escola estar em perfeita sintonia com a família. A escola é uma instituição que vem complementar a família e dar sentido ao processo de aprendizagem do aluno. É, portanto, essencial que a família e escola se unam na criação de uma “aliança” com vista a conseguirem ajudar educandos e consequentemente alunos a tornarem-se cidadãos ativos, equilibrados e capazes de agir na sociedade dos nossos dias.
O simples facto de nos preocupar-mos e termos dúvidas são a base para nos considerar-mos bons pais, pois só o colocar dúvidas indica que se está a ponderar na melhor forma de resolver uma situação que pode vir a impedir uma adequada relação com o seu filho. O ser pai não é mais do que uma caminhada na qual só temos a certeza do ponto de partida, na qual queremos muito que os nossos filhos sejam felizes e nos amem. Não tem mal em ter dúvidas e pedir ajuda. Não se preocupe, ninguém se diploma na tarefa de educar. Não existe um protocolo de conduta adaptado a todas crianças, cada pessoa é um ser único e essa individualidade deve ser respeitada. No entanto não se encontra sozinho nesta caminhada, o trabalho em parceria com a escola é fundamental para um equilibrado desenvolvimento do seu filho. Preocupe-se, interesse-se mas reflita um pouco mais acerca da sua comunicação e diálogo com o seu filho bem como com os agentes que vivenciam experiências diárias com os mesmos. A criação de laços fortes com a escola apenas pode beneficiar o correto desenvolvimento do seu filho como aluno e futuramente como cidadão. Apesar de não existirem pais, professores ou filhos perfeitos sabemos que uma união entre os três aproxima-os a todos de um apropriado desenvolvimento pessoal.

1 de julho de 2015

A Verdade é Amor *



*Virgílio Ferreira

A partir do momento em que nos tornamos pais, ou avós, ou tios, ou padrinhos a nossa principal prioridade é proteger as crianças que amamos. Procuramos a todo o custo evitar que caiam, que tropecem… que se magoem. Procuramos evitar a todo o custo que tenham medo, que se sintam tristes ou sozinhos… que se magoem. Para isso seguramos-lhes a mão, desviamo-nos dos obstáculos e seguramos os seus passos mais inseguros. Para isso damos beijinhos, estamos presentes, protegemos... e mentimos. Por vezes mentimos. Por vezes achamos que para proteger as nossas crianças do sofrimento o melhor é que não saibam o que está a acontecer, que não conheçam a realidade mais dolorosa por que a família está a passar, porque são crianças e não queremos que sofram. Eles não entenderiam. Se não lhes contarmos eles não perceberão e, por conseguinte, não sofrerão. Mas a verdade é que a verdade é única forma de os protegermos e de lhes proporcionarmos um ambiente seguro para crescerem. 
Se os pais chegam à dolorosa conclusão que o seu casamento já não os faz felizes, o primeiro instinto é esperar. O melhor para o nosso filho é que os pais estejam juntos para apoiá-los no seu crescimento. Mas a criança percebe que os pais já não são os mesmos, percebe que os pais não estão felizes e não estão disponíveis para si. A criança sente que estão em sofrimento e quererá perceber o que está a acontecer. Elas vão perguntar, vão querer perceber que tensão é esta que sentem na sua família. 
Quando alguém de quem gostamos morre o primeiro passo é afastar a criança de tudo que tenha a ver com o luto que os adultos fazem. Não nos deverá ver chorar, não deverá estar presente no funeral, não deveremos falar da pessoa que faleceu e tentaremos a todo o custo que a criança não sinta, não sofra com a morte de quem ama. Mas a criança vai ver-nos tristes, vai, provavelmente, ver-nos vestir de outra cor, vai também ela sentir saudades de quem partiu, vai querer entender o que sente. 
As dúvidas surgirão, as perguntas de resposta difícil ou quase impossível vão aparecer de repente e não saberemos que fazer. Como poderemos nós dizer a verdade a uma criança? O que deveremos responder a questões que, nós sabemos, estão relacionadas com momentos menos bons das suas vidas? Como ampará-los nestas aprendizagens?
Com a verdade. 
Com a noção de que em momentos difíceis toda a família precisa de ajuda, de amparo, de carinho e solidariedade. Precisamos da sensação de conforto e segurança que a verdade, que a partilha, que a união nos proporciona. A verdade de sentimentos, de palavras e ações. Claro que uma verdade adaptada à capacidade de compreensão que a idade da criança permite, mas a verdade que nos una enquanto família. 
Comunicar com tranquilidade, com cuidado, com carinho e com amor a verdade que as crianças possam compreender e que necessitam para se sentirem seguras e amparadas pelas pessoas que ama. Na verdade os pais estão a separar-se. Na verdade decidiram que seria melhor para eles viverem separados um do outro. Mas a verdade é que nunca deixarão de amar a criança, que nunca deixarão de fazer parte da sua vida e que a acompanharão em todas as fases do seu desenvolvimento. A verdade é que a culpa não é da criança nem terá que “escolher” um progenitor em detrimento do outro. Ambos amá-la-ão como antes e estarão sempre disponíveis para conversarem e responder às perguntas que a criança tiver. A verdade é que a organização das suas vidas vai mudar e que todos terão que adaptar-se à nossa realidade, mas unidos em torno do amor que sentem uns pelos outros conseguirão perceber a melhor forma de avançar. Em família e unidos. É importante que a criança não se sinta excluída das decisões e acontecimentos do quotidiano da sua família, que se sinta importante, relevante, membro efectivo da família e isso atinge-se com a partilha do que sentimos, pensamos e planeamos para nós e para as crianças que amamos. 
Infelizmente também é verdade que perderemos pessoas que amamos ao longo da nossa vida. As crianças perceberão quando o avô ou o tio ou o amigo chegado da família falecer e perceberão a nossa profunda tristeza. Também elas a sentirão. Também sentirão saudades, também quererão voltar a vê-los, também não saberão o que fazer nestas ocasiões. Não podemos impedi-las de se despedirem das pessoas que amam, querendo a todo o custo que não tenham contacto com a dor dessa perda. É preciso compreender que permitir que as crianças experienciem a dor, a dúvida, a perda significa dotá-los da capacidade para lidarem com esses sentimentos na idade adulta. 
É através da verdade que lhes daremos confiança para lidarem com os seus sentimentos e pensamentos ao longo das suas vidas. A verdade é que aquela pessoa que amamos faleceu e temos que explicar isso à criança. Na verdade não voltaremos a ver aquela pessoa, ou a falar com ela ou saltar-lhe para o colo para ouvir as suas histórias ou receber os seus carinhos. A verdade é que (de acordo com aquilo em que cada família acredita) aquela pessoa tornar-se-á numa estrela que brilha no céu ou irá para junto de Deus ou fará parte da Natureza. A verdade é que não estará connosco fisicamente, mas permanecerá eterna nos nossos corações. 
A verdade é que a criança, como nós, poderá querer despedir-se de quem ama e poderemos ponderar, caso a criança o solicite, em proporcionar-lhe esse momento. Talvez possamos permitir que vá ao velório (não ao enterro), explicando que será um momento em que as pessoas estarão tristes, poderão estar a chorar e que é normal que a criança se sinta triste também. Explicar-lhe que o avô ou o tio parecerá que está a dormir, mas na verdade, e infelizmente, ele não poderá voltar a brincar consigo, não voltarão a conversar nem a ir passear ao jardim. Aquela pessoa ficará guardada no seu coração e na sua memória, envolta pelo amor que os unia. A verdade é que não o esqueceremos, não deixaremos de falar naquela pessoa nem nos bons momentos que passámos em família. A verdade é que fará sempre parte da nossa família e das memórias que vamos construindo e que vão definindo a pessoa em que nos tornamos. 
Virgílio Ferreira escreveu um dia que a “verdade é amor (…) porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pode esquecer”. A verdade do amor, da união, duma partilha sincera do que sentimos e de quem somos.
É na infância que se projetam os adultos e é na família que aprendemos a relacionar-nos com o mundo, com os outros e connosco. O amor será a pedra basilar do nosso crescimento, mas uma comunicação cuidada, tranquila e que consiga acompanhar as dúvidas que cada idade nos coloca será a expressão desse amor em cada pedacinho das histórias que vamos escrevendo.
A verdade é amor...

9 de junho de 2015

Uma Equipa em Crescimento


Sempre foi objectivo do NEIP a construção de caminhos que visem abarcar a eficácia e a qualidade das intervenções prestadas à comunidade. Sabemos assim da importância dos múltiplos factores envolvidos nestas intervenções e de uma visão global e integral, seja na prevenção, no diagnóstico ou na intervenção/tratamento.
Ao contrário da visão isolada de cada técnico, que possuem um olhar para o problema de acordo com a sua experiência e área de actuação, uma equipa multidisciplinar poderá sempre construir uma resposta mais integradora à situação em questão. 

De forma a reforçar isto, contamos neste momento na nossa Equipa com uma Técnica de Intervenção Social e uma Técnica de Terapia da Fala, sempre em prol de uma eficácia interventiva! 

“Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso, e trabalhar em conjunto é a vitória.”
Henry Ford

2 de junho de 2015

DIA(S) DA CRIANÇA


“As crianças precisam de ouvir até à exaustão que são amadas
 para poderem pensar em ser felizes.”
Mário Cordeiro

Afinal o que é para nós o DIA DA CRIANÇA? O que queremos e desejamos realmente que seja comemorado neste dia? Qual a noção/aprendizagem que queremos passar às nossas crianças?
É certo que a comemoração do DIA DA CRIANÇA deixou de atingir o seu real significado, passando a fazer parte de mais um dia festivo, ao qual está estritamente associada a ideia de consumo. Digamos que, na generalidade, o mais importante é que a criança receba nesta data um determinado bem material, como se esse bem conferisse a identidade e o significado ao DIA! E, afinal de contas, a criança espera realmente receber este presente, para que possa mostrá-lo e compará-lo com os seus amigos. E, nós (Pais), quase que sem escapatória, participamos de forma involuntária neste jogo do consumismo, sentindo-nos persuadidos e acurralados pela sociedade que nos rodeia. Muitas vezes, também, sentindo-nos culpados por não podermos dedicar mais tempo às nossas crianças e procurando compensar esta ausência através de bens materiais (amplamente desejados pelos mais pequenos). E esta solução, rápida e simples, funciona momentaneamente acalmando os sentimentos de culpa, embora saibamos que de nada servirá ter uma coisa quando na verdade necessitamos de outra! Este jogo do consumismo, aparentemente fácil mas bastante complexo, gera alguma conflitualidade interna e pressão externa, principalmente quando o nosso desejo é transmitir uma directriz diferente, com outro tipo de valores, mas que temos consciência trará frustração às nossas crianças, simplesmente por estas poderem (ou não) sentir-se diferentes da maioria. E será isto mau? A diferença enriquece-nos, no mínimo ao nível do conhecimento que podemos daí adquirir, e a frustração é algo inerente ao desenvolvimento humano, portanto, parte fundamental no desenvolvimento infantil. Não lidar com diferenças e frustrações acarreta consequências graves ao nível da qualidade de vida humana, tais como maiores níveis de ansiedade, agressividade, egocentrismo, stress, entre outras. Logo, privar as nossas crianças de situações deste género, reforçando os atos de consumismo, pode não ser com certeza a melhor solução!
Consumir sem justificação, sem prudência, sem priorização, apenas pelo poder de “ter” e “ser reconhecido”, trará certamente consequências negativas no futuro, tais como instabilidade emocional, comportamentos impulsivos, dificuldade de auto controlo e auto regulação, baixa auto-estima, egocentrismo, problemas de relacionamento interpessoal, etc. E neste ponto é importante relembrar que ninguém nasce consumista, mas que aquilo a que somos sujeitos ao longo do nosso desenvolvimento tem uma importância extrema e torna-se quase que um modelo a aplicar no futuro. Perante isto, e tendo em conta que nós adultos somos responsáveis pela educação das nossas crianças, devemos definir então o que queremos valorizar!
Tendo por base que todos os pais querem o melhor para os seus filhos, com a perspetiva de os tornar cidadãos responsáveis (e aqui claro depende do que cada um entende por este conceito), mas digamos que, inteligentes, respeitadores, que valorizem a família e conquistem futuros risonhos, é então importante ensinar isto. E ensinar não é apenas dizer, é mostrar através de ações coerentes, diariamente, os valores que queremos que sejam transmitidos e salvaguardados.
Chegados a este ponto, a maior grandeza a oferecer às nossas crianças é (sem dúvida alguma) o amor, o afeto, os gestos de carinho e compreensão. Encher o “depósito emocional” das nossas crianças com afetividade é uma aposta na criação de adultos emocionalmente saudáveis, equilibrados e felizes. Devemos assim, e como nos refere o pediatra Mário Cordeiro, “divertir-nos mais com coisas naturais, não dispendiosas, e ensinar as crianças a amarem a vida”. Devemos apostar em coisas simples, que causem diversão, empatia, envolvimento, afetividade e crescimento. Porque na simplicidade, na humildade, no contacto diário e nas ações não intencionais, se desenvolvem inúmeras capacidades e laços afetivos eternos, que potencializam o bem-estar da criança e a capacidade desta se desenvolver de forma única (além de nos reconfortar a nós adultos!). “Otimizar a convivência no ambiente familiar é assim uma das melhores contribuições que podemos fazer para o equilíbrio e o desenvolvimento pessoal de todos e de cada um dos membros da família” (Ballenato, 2009, p. 24).
E é este o desafio que queria deixar para o(s) DIA(S) DA CRIANÇA, o desafio de ponderar entre a oferta de um bem material ou uma interação familiar gratuita, enriquecedora e única…  sem receios, sem grandes planificações, apenas com toda a disponibilidade e amor! Dedique este dia (e se possível todos os outros) exclusivamente aos mais pequenos e experimente desfrutar de momentos simples, tais como: inverter papéis (por umas horas seja você a criança!), brincar ao faz-de-conta e mascarar-se de acordo com as sugestões dos mais pequenos, fazer um bolo e deixar-se “chafurdar” de farinha, ou se preferir, desfrutar da natureza e realizar um pic-nic, uma corrida (de sacos, de bicicletas, ou seja lá do que for!), o mais importante é que desfrute em plenitude do momento de interação. Ah! E não se esqueça que para tudo funcionar é crucial minimizar os fatores externos, portanto, sugiro umas dicas: desligue o telemóvel e o tablet (se não conseguir, coloque em modo silêncio), desligue a televisão da corrente elétrica (para que não caia em tentações), desligue a campainha e viva o momento… tentando descobrir porque é tão importante, gratificante e enriquecedor dedicar tempo de qualidade às crianças.
Aproveite… o mundo não para por um dia e, certamente, a imaginação avançará e a afetividade também! Desfrute…

18 de maio de 2015

A procura da felicidade na relação pais-filhos





"As emoções sentem-se; os sentimentos vivem-se; 
os gestos explicitam o que dentro de nós se passa; 
o traço perpetua o que vivenciamos 
no limite do que condescendemos em mostrar.”
João dos Santos, 1991


Este artigo pretende ser um convite à reflexão sobre a importante e extraordinária tarefa que é a parentalidade, não tendo como pretensão ser uma receita milagrosa para pais ou filhos.
Nos últimos tempos temos vindo a assistir a uma mudança na forma de encarar a tarefa da parentalidade pelos pais, e, apesar de todas as dificuldades inerentes ao seu dia-a-dia vemos cada vez mais mães e pais envolvidos, reciprocamente, nas várias tarefas relacionadas com a prestação de cuidados aos seus filhos. Pode dizer-se que os pais estão cada vez mais preocupados e empenhados com o bem-estar dos seus filhos. 

O culminar desta dinâmica relacional pode traduzir-se num único conceito: Felicidade. Esta procura da felicidade na relação pais-filhos pode ser entendida como uma busca saudável, daquilo que de melhor os pais podem dar e exigir aos seus filhos, nas várias fases do seu desenvolvimento, sendo o seu desejo que venham a ser pessoas mais equilibradas, competentes e saudáveis. 

A tarefa da parentalidade é um processo dinâmico, individual que assenta num padrão de comunicação e de relação que subsiste por toda a vida, o qual sofre também a influência das gerações anteriores, uma vez que esta tarefa evoca nos pais a ligação e as vivências que tiveram no passado com os seus próprios pais.

Embora a tarefa de ser mãe ou pai seja a mais compensadora e gratificante de todas, por vezes, apresenta-se como sendo uma tarefa difícil, cansativa, frustrante, repleta de dúvidas e de preocupações. Quem já não se zangou e gritou com o seu filho, mas depois sentiu o coração ficar apertadinho e pequenino, arrependendo-se do que disse ou fez, mas perante aquela situação não conheceu, ou encontrou, outra forma de agir. A boa notícia é que existem formas simples de lidar com estas situações e o melhor de tudo é que estas competências podem ser aprendidas e, mais uma vez, reforço que não vai encontrar neste artigo nenhuma receita mágica para resolver os seus problemas.

Apresento-lhe a chamada Parentalidade Positiva, que não sendo um estilo de vida, é uma filosofia que promove a relação pais-filhos com base no respeito mútuo, onde a educação da criança é encarada de forma construtiva, com firmeza, mas também com muita empatia e generosidade. Este movimento empático de pais para filhos não implica o apagamento dos primeiros em relação aos segundos (mal seria se assim fosse), mas visa um olhar para o filho como uma criança em crescimento que precisa e espera dos seus pais uma posição compreensiva de amor paternal, amplo e indivisível.

Uma criança que é educada com base na Parentalidade Positiva é uma criança que compreende e integra as regras e limites que existem na sua vida, porque percebe o interesse dessas mesmas regras e não necessita de ter os pais ao seu lado para as executar. É uma criança disciplinada porque é incentivada a pensar, a escutar-se e a escutar os outros, porque ela própria é escutada. É uma criança que entende mais facilmente que a sua felicidade depende unicamente de si e não procura justificações ou culpados quando as coisas correm mal. É uma criança que tem uma boa auto-imagem e quer continuar a tê-la. É uma criança que começa a desenvolver uma inteligência emocional e uma auto-estima equilibradas. Em suma, são crianças mais seguras, mais resilientes e desenvolvem-se de forma mais tranquila, tornando a relação pais-filhos mais coesa e saudável.

Mas não quero deixar de ressalvar que nesta tarefa de Ser Mãe ou Ser Pai, Ser feliz é fundamental. Mas ser feliz não significa que tudo correrá sempre bem, tal como gostaríamos ou desejaríamos, “ser feliz é conseguir diariamente um equilíbrio precário, sempre diverso e renovado, entre o melhor e o pior, a luz e o escuro, a alegria e a tristeza” (Pedro Strecht, 2015).

Não querendo reportar-me a regras pré-estabelecidas, pois como já o disse, a tarefa da parentalidade é um processo dinâmico e acima de tudo singular, é importante mencionar que a primeira premissa da Parentalidade Positiva é muito simples e ímpar – mas simultaneamente muito verdadeira – podendo resumir-se a esta pequena fórmula: Pais Felizes = Crianças Felizes.

É comum os pais esquecerem-se da sua própria felicidade, tendo como preocupação apenas a felicidade dos seus filhos. É fundamental que não se esqueçam que ambas estão e estarão sempre em relação. 

Cabe aos pais encontrar estratégias simples e concretas, adequadas à sua dinâmica familiar, para conseguir educar crianças resilientes, positivas e felizes (as quais serão os adultos equilibrados, competentes e saudáveis de amanhã), sem renunciar à sua autoridade de pais, procurando equilibrar a tarefa da parentalidade com amor, empatia, generosidade, carinho e respeito. O mais importante é perceberem o porquê de uma birra, de um choro – aprendendo a falar com os seus filhos, tendo em conta não só o que dizem, mas fundamentalmente quando e como o dizem. 

7 de abril de 2015

Hiperactividade Infantil



Não é um problema de moda, 
nem uma questão de imaturidade 
ou de má-educação”
Ana Rodrigues e Nuno Lobo Antunes


“…O Tiago tem 8 anos de idade e frequenta o 3º ano de escolaridade. Foi expulso três vezes da sala de aula na mesma semana. O professor refere que é muito agressivo com os colegas. Nunca está calado, quando não está a falar ou a gritar, faz barulho de qualquer maneira para chamar a atenção. Se tiver algo a dizer interrompe os colegas, sem esperar a sua vez. Os pais não sabem o que esperar quando vão buscá-lo à escola, pois quase todos os dias recebem queixas por parte do professor, por vezes, perguntam-se o que fizeram de errado para estarem a lidar com esta situação. Sentem-se culpados…” 

Grande parte dos pais ou tutores, questionam-se sobre a capacidade de educar os filhos, sentindo-se por vezes, inseguros nas suas competências parentais.
- “Será hiperativo?”
 - “Onde errei?”
- “Dizem que é insuportável!”
Estas são algumas das mais frequentes dúvidas que os pais das crianças com hiperatividade, enfrentam diariamente. Na sua maioria, quem lida com esta perturbação, é colocado à prova constantemente e tem a difícil tarefa de gerir os comportamentos associados a esta desordem. Afim de suprir algumas dificuldades, os pais devem tentar informar-se o melhor possível acerca da perturbação do seu filho.

Nesta tarefa, o papel dos técnicos responsáveis é determinante na “educação” de todos os agentes que interferem direta ou indiretamente no desenvolvimento destas crianças, de modo a aconselhar em aspetos como a comunicação, disciplina ou sucesso escolar.
A notícia de que os filhos podem ter uma perturbação (de qualquer ordem), nem sempre é bem recebida, e os pais para ultrapassarem esta situação de forma ponderada e organizada, devem saber reconhecer os sinais afim de se realizar uma avaliação especializada rapidamente. Por norma, este é um processo moroso que requer habituação e persistência.

O desempenho escolar dos filhos é outra das preocupações, tendo a escola um papel importante a desempenhar na procura de estratégias adequadas e exequíveis às necessidades e envolvimento dos encarregados de educação e técnicos neste processo.

 Segundo esta perturbação, pode ser identificados alguns sinais de alerta: “Não presta muita atenção aos pormenores ou comete erros por descuido nas tarefas escolares, nos trabalhos ou noutras atividades lúdicas;  dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades;  dificuldade em seguir instruções e não conclui os trabalhos escolares, as tarefas ou os deveres; distraí-se com facilidade e frequência de estímulos irrelevantes; mexe excessivamente as mãos e os pés, ou contorce-se na cadeira; na sala de aula ou noutras situações em que se espera que permaneça sentada, levanta-se muitas vezes da cadeira; corre de um lado para outro ou trepa coisas de forma excessiva e em situações em que tal é inadequado; fala muitas vezes excessivamente ; responde a questões, antes de estas terem sido concluídas; tem com frequência dificuldade em esperar a sua vez, por exemplo em situações de grupo; interrompe os outros ou incomoda-os (por exemplo, intrometendo-se em conversas ou em jogos).
Os sintomas surgem, normalmente, em simultâneo com a entrada no 1º ciclo do ensino básico, ao serem comprovadas estas manifestações em dois ou mais contextos (escola, casa ou em situações sociais).

Afim de realizar uma correta avaliação, deve ser identificadas provas evidentes de interferências no comportamento social e escolar, que alterem significativamente o funcionamento da criança, sem que sejam também diagnosticadas outras perturbações de foro psiquiátrico. É importante perceber que este é um problema do desenvolvimento de cada um, e progride com a incapacidade de focar a atenção necessária em determinadas tarefas, e em alguns casos, com episódios de excessiva impulsividade ou hiperatividade. Para chegar a um diagnóstico, é fundamental a concretização de uma avaliação que envolva necessariamente a recolha de informação com a criança, pais e professores. O diagnóstico deve ser completado com uma avaliação médica, psicológica e psicopedagógica. As terapêuticas a utilizar, serão indicadas pelos profissionais, a partir desta avaliação.


Elaborado por: Patrícia Santos

10 de março de 2015

O Tempo...Para onde vai?


“Eu sei
Que o tempo não pára
O tempo é coisa rara
E a gente só repara
Quando ele já passou...”
Mariza 


Consequência da reflexão sobre o nosso último artigo, a mesma levou-me a pensar que, diariamente, estamos carregados de "coisas" para fazer... Aliás... Muitas coisas! É uma luta não a favor do Tempo, mas sim contra ele. 
Para essa épica batalha, temos as nossas armas bem calibradas - agendas (manuscritas e eletrónicas), lembretes, alarmes, relógios, tablets... - Tudo serve em prol do objetivo de NÃO FICAR NADA POR FAZER! Uau... Que sensação maravilhosa quando colocamos um visto numa tarefa acabadinha de realizar, embora, regra assente, logo aparecem mais duas ou três novas que necessitam ser feitas no mesmo dia. 
Nada pode ficar para trás... NADA... Mas o Tempo é traiçoeiro ou, provavelmente, nós somos batoteiros quando tentamos gerir esta batalha contra ele e, com efeito, sinto que, na realidade, algo fica para trás, mesmo quando os lembretes mostram que foram todos concluídos e a nossa agenda revela um sucesso total de tarefas e atividades realizadas no dia... Surge Frustração, Ansiedade, Dúvidas, Vazio, Tristeza... E perguntamo-nos "Porque raio parece que não fiz nada???" Talvez tenhamos de repensar a essência das tarefas dos lembretes ou das atividades da nossa agenda. 
Pode estar a faltar espaço no Tempo que temos para ler aquele livro que há meses queremos acabar, brincar com o nosso filho, divertirmo-nos com os nossos amigos, namorar com a pessoa que amamos ou simplesmente conversar um bocadinho com os nossos pais. 
Que curioso e que estranho olhar para estas últimas "coisas", agora que as nomeei e as coloquei no papel, como terem que fazer parte da lista de tarefas dos nossos lembretes, todavia talvez, assim, consigamos não nos esquecer de as cumprir! Ou então, o melhor é talvez perceber, de uma vez por todas, para onde vai o Tempo de modo a encontrar um atalho que nos permita chegar primeiro... 
Pelo caminho, claro está, tentaremos fazer o máximo de coisas possível... 

4 de fevereiro de 2015

À procura da felicidade: uma visão da psicologia humanista

"As pessoas não deveriam preocupar-se tanto
 com o que irão fazer e mais com aquilo que são" 
Mestre Eckhart

Tem sido amplamente difundido que a crise económica e financeira levou a um aumento das doenças mentais, designadamente patologias de ordem depressiva e ansiosa. Aumentou, com isto, o consumo de antidepressivos e ansiolíticos, bem como o consumo de substâncias psicoativas como o álcool e outras drogas.
 A crise de valores morais e éticos tem sido apontada como estando associada a este ambiente e justificando alguns dos comportamentos violentos, quer em jovens quer em adultos, que se pensa terem vindo a agravar-se.
O trabalho de psicólogos humanistas, como Fromm ou Rogers, produzido ao longo da segunda metade do século XX, permite-nos reflectir sobre algumas destas questões à luz da psicologia.
O modelo social em que vivemos aponta como sentido fundamental da vida moderna, a procura da felicidade o que tem sido visto como sinónimo da satisfação de todos os desejos. A ideia de que colocar o prazer acima de tudo, torna-se perigosa, porque significa que as decisões que tomamos serão assentes num certo egoísmo. Este pensamento traduzido ao concreto supõe uma exploração do prazer imediato, criando pessoas mais impulsivas e com dificuldade em adiar as necessidades de curto prazo. Tornamo-nos assim e criamos os nossos filhos assim, incapazes de lhes negar algo com medo que isso os traumatize.
Nessa lógica, a forma como procuramos a felicidade, imediatista, inadiável e desenfreada, tem o efeito perverso de nunca poder atingir o objectivo, ficando sempre à mercê de uma nova necessidade.
Este modo de viver, baseado no Ter, de acordo com as teorias de Erich Fromm, manifesta-se quer na necessidade de posses materiais, mas mais gravemente na posse dos outros seres. Com ou sem posses materiais vemos todos os dias pessoas que procuram dominar o seu cônjuge, os seus filhos e até os seus animais.
Quando este sistema falha, quer porque o rendimento disponível não permite acompanhar os desejos imediatos, quer porque os que desejos imediatos de uns colidem com os de outros, deparamo-nos com a frustração e um enorme vazio, que muito rapidamente se pode transformar em violências várias, dos maus-tratos à violência doméstica.
É quando se perde a sensação de controlo que encontramos frequentemente sentimentos de raiva, medo, depressão, desamparo, desespero. Aquilo que desejamos, quando nos deparamos com a situação actual é que a crise passe para podermos recuperar rapidamente aquilo que tínhamos e voltar à vida que tínhamos.
A proposta, no entanto, poderia ser uma mudança de paradigma para uma cultura mais baseada no Ser. Aquilo que somos, enquanto pessoa com uma vivência experiencial e relacional, e não naquilo que temos ou não.
Por exemplo, ter um filho é diferente de ser pai. Quem tem um filho, estará sujeito às frustrações de quem não conseguiu dar ao filho tudo o que queria ou fazer do filho aquilo que pretendia e neste conflito, pelo menos uma das partes sairá frustrada porque o seu desejo não se concretizou. Ao invés, ser pai, ao pôr a tónica na experiência construtiva significa cuidar, amar, e ajudar a crescer, nunca envolverá perdas, mesmo que a vida crie desencontros, porque todas as experiências contribuem para enriquecer a sua história de vida. 
Este modo de estar na vida mais autêntico foca-se naquilo que se pode oferecer ao outro, na experiência de vida, na sabedoria, e como tal a pessoa define-se por aquilo que é e que tem para oferecer e não apenas por aquilo que possui ou pode controlar. Este modo de viver tem como pilares a independência, a liberdade e o sentido crítico. Como diz Carl Rogers, procurar ir para além das fachadas, para além da ideia do dever, para além do que os outros esperam, para além de agradar aos outros, procurando uma direcção para si, para uma abertura à experiência, para uma aceitação dos outros e de si mesmo.
A procura do ser humano poderá muito bem ser a felicidade, no sentido em que esta represente o bem-estar e a paz consigo próprio, com a sua história e com os que o rodeiam, e não tanto a avidez de possuir, dominar, de ser escravo dos desejos e das necessidades que lhe tentam incutir.
Por isso, e como já aqui escrevemos anteriormente, mudar a forma de viver, embora por vezes se torne imperativo, pode ser assustador, e aquilo que procuramos fazer, ao fornecermos ajuda psicológica, é que a pessoa possa alcançar uma mudança de longo prazo que lhe permita o seu bem-estar. Requer tempo e compromisso, conceitos que por diversas razões não se coadunam com o imediatismo e constante urgência que imperam na sociedade. Cabe-nos a tentativa de criar esse espaço de mudança sob pena de continuarmos a medir a nossa felicidade pelos indicadores económicos.