Uma elevada autoestima é, por vezes, vital para o
desenvolvimento da capacidade de resolver os desafios que a vida apresenta. Na
maioria das sociedades e culturas as pessoas que variam dos esquemas de género
convencionais são estigmatizadas sendo que as hostilidades que surgem deste
estigma podem causar desgaste emocional na criança e dificultar o desenvolvimento
saudável da sua identidade. Sem o apoio dos pais, a criança com esta
especificidade pode, inclusive, chegar a acreditar que merece ser estigmatizada.
De forma a bloquear os efeitos negativos do estigma social, os pais, devem
demonstrar uma atitude afirmativa comunicando à criança que a aceitam e a
respeitam tal como ela é.
Como
qualquer criança que precisa de amor, aceitação e compreensão, a criança com
comportamentos de género variantes porventura necessita destes sentimentos ainda
de um modo mais especial. Quanto mais críticos forem os seus pares e a
sociedade em geral, mais ela necessita do apoio e da aceitação dos de sua casa
e familiares mais próximos. De facto, as crianças são muito mais resistentes e
capazes de suportar desafios difíceis quando sentem que os seus pais estão do
seu lado numa atitude de apoio incondicional e conscientes dos seus papéis de
protetores. Muitas crianças com traços variantes de género passam por isolamento
social e sofrem maus-tratos. Em situações limite, o lar pode ser o único espaço
onde a criança se possa sentir a salvo das atitudes de censura e de
hostilidade. Desta forma, é importante criar uma atmosfera de aceitação em casa
para que ela possa expressar os seus interesses livremente. É, de facto, um
objetivo interessante começar por trabalhar a sua própria casa como um espaço
privilegiado onde esta possa sentir que pode atuar de maneira autêntica sem ter
que autocensurar-se para benefício de outrem.
No
que respeita ao enquadramento social e vivencias quotidianas de uma criança com
esta especificidade é importante incentivar atividades das quais a criança
desfrute e para as quais detém um dom natural não sendo aconselhável forçar
atividades que ela sinta como impostas. Deve-se enfatizar que cada pessoa é
única e diferente, evitando utilizar frases como “tens que brincar com bonecas”, “jogar
à bola é para os meninos”. Em vez de se utilizar generalizações que são
falsas, deve-se explicar que, ainda que a maioria das meninas (por ex.) não
estão interessadas em futebol, existem meninas que estão e isso não faz mal.
É
importante falar abertamente com a criança e com calma acerca dos seus
interesses e comportamentos fazendo com que ela reconheça que é, diferente, em termos positivos. Usar
frases como “és única” e conversando de como alguém se pode sentir ao
perceber-se diferente dos outros. No entanto, esta criança não pode sentir que
é a única no mundo a sentir-se assim. Ajudá-la a compreender que, mesmo que nem
todos a entendam ou respeitem, o gostar de coisas diferentes não é motivo para
se envergonhar, mas sim uma qualidade única e positiva. Devemos transmitir uma
mensagem construtiva e assegurar à criança que quando ela crescer vai ter
amigos que irão compartir os seus interesses. Será pois importante cultivar
amizade com outras famílias que tenham uma atitude tolerante e de aceitação de
todo o tipo de diferenças.
Este desafio também afecta outros familiares. Por
isso é importante falar com os familiares mais próximos, educadores e amigos da
família, comunicando quais são as necessidades da criança e o que se espera
deles.
As
crianças que são verbalmente ou fisicamente agredidas pelos seus pares ficam
muitas vezes assustadas ou sentem-se demasiado envergonhadas para falar do
assunto. O ideal é que a criança conte o que se passa com ela, no entanto, ela
nem sempre irá expressar o que sente. É necessário estarmos atentos a possíveis
sinais que possam indicar que ela está com problemas. Estes sinais incluem o
negar-se a ir à escola, não querer sair de casa, queixar-se de dores e sintomas
sem causa física e, chorar excessivamente ou sem motivo aparente.
Jamais
se deve culpar a criança, a si mesmo ou ao seu companheiro(a). Os
comportamentos de género variantes são o produto de como a natureza criou a
criança. Estas características não foram causadas pelos pais e não podem ser
modificadas por ninguém. De facto, ao preocupar-se em que a criança mude vai
estar a perder a oportunidade de desfrutar da própria infância da criança e,
simultaneamente, perder-se-ão a longo prazo as recompensas de uma atitude de
afirmação e aceitação por parte dos pais. De facto, a pressão social apenas
leva a que a criança esconda os seus interesses e a suprimir a sua
espontaneidade. Isto intensifica-se se a criança acreditar que deve ser
diferente do que é para ser aceite e querida pelos seus pais. Ao pressionar, os
pais comunicam que é preferível atuar de uma maneira que não é natural, do que
ser autêntico e coerente consigo mesmo.
O ser diferente não valida a intolerância baseada
em preconceitos. Não se deve reprovar a criança pela crueldade dos outros, pois
ninguém merece ser maltratado. Quando se souber de um ato de agressão dirigido
à criança é importante averiguar o que se passou e ajudar a criança a planear
como responder no futuro.