Hannah Arendt
Filósofa alemã
Estudos recentes apontam para os efeitos dos
androgénios fetais na organização cerebral de um padrão sexual e, também, no
facto da testosterona afetar os neurónios cerebrais que contribuem para a
masculinização do cérebro, em áreas como o hipotálamo.
Antes
dos três anos de idade, as crianças desenvolvem interesses e preferências que
são típicas do seu género. Numa etapa seguinte, sensivelmente aos cinco ou seis
anos de idade, elas são já capazes de reconhecer os comportamentos de género,
tanto os que são típicos para cada um dos sexos como os que não são. No
entanto, algumas crianças desenvolvem-se de forma diferente, possuindo
interesses que são considerados típicos do outro sexo e, por vezes, preferem a
aparência e atuam como se fossem do outro sexo. Estas condutas designam-se por comportamentos de género variantes,
visto serem condutas que variam da expectativa social para cada género. As
crianças com comportamentos de género variantes demonstram interesses e
preferências que não se adaptam às normas culturais usualmente aceites para cada
um dos géneros.
Quando,
nalguns casos, estes comportamentos de género variantes ocorrem de forma
generalizada, marcada e persistente, pode-se concluir que o sujeito possui um padrão de comportamentos de género
variantes que se justifica no seu interesse intenso e constante há já
alguns anos. Todavia, as condutas que se observam com maior frequência têm
tendência a tornar-se cada vez menos frequentes, uma vez que a criança interage
mais com os seus pares no ambiente da escola. Esta diminuição dos comportamentos
observados pode indicar que, à medida que matura e experimenta a crítica dos
seus pares, a criança suprime algumas condutas ou dissimula para passar
desapercebida. Por volta dos cinco/seis anos de idade, as crianças começam a
ser mais influenciadas pela pressão social para se ajustarem aos esquemas de
género convencionais. Esta pressão leva-as a modificar a aparência dos seus
comportamentos para se adequar às expectativas sociais. A existência de comportamentos aparentemente diferentes não reflete necessariamente
uma mudança no estado psíquico interior da criança.
Os comportamentos de género estão principalmente
determinados pelos genes, ou seja, a predisposição genética faz com que os
comportamentos de género fiquem “impressos nos circuitos” do cérebro antes ou
pouco depois do nascimento. Obviamente o conteúdo específico dos papéis
masculinos e femininos deve ser aprendido por todas as crianças, mas aquelas
que variam nos seus comportamentos de género parecem estar biologicamente predispostas a assumir aspectos dos papéis típicos
do outro sexo.
Nesse
sentido, é importante salientar que os comportamentos de género variantes não
são causados pela forma de atuar dos pais ou por acontecimentos da infância,
nem por patologia mental ou conflito psicológico. No entanto, devido à pressão
social, estas crianças tendem a experimentar rejeição, críticas e maus-tratos,
o que predispõe o surgimento de dificuldades psicológicas.
Como
adolescente e adulto, o sujeito que desenvolve um padrão de comportamentos de género
variantes pode sentir-se emocional e fisicamente atraído por pessoas do sexo
oposto, do mesmo sexo ou de ambos os sexos. Mesmo que estas três hipóteses
sejam possíveis para qualquer criança, estudos de investigação que têm observado,
por exemplo, o desenvolvimento de meninas com comportamentos de género
variantes até à idade adulta revelam que, como adultas, a maioria delas têm uma
atração física e afetiva por pessoas do seu sexo. Por outro lado, algumas
meninas que têm rasgos identificativos de uma psique atitudinal masculina passam
a ser adultas convencionalmente femininas. Outras, mantêm na idade adulta
atitudes e interesses masculinos em maior ou menor grau.
É
importante referir que, caso subsista a pressão externa dos pais, professores e
técnicos, não é capaz de modificar as características de identidade sexual essenciais
da personalidade, uma vez que o temperamento e outras características profundas
da identidade do sujeito são preestabelecidos e visíveis numa estrutura
psíquica organizada desde a primeira infância. Além disso, esta dinâmica
profundamente antipedagógica será necessariamente interpretada pela criança /
jovem como um acumular de humilhações que, consequentemente, destruirá a
confiança em si mesma e afetará gravemente a sua autoestima.
Obs.: O presente
artigo terá continuidade na próxima edição do JBG