6 de março de 2013

A mentira nas crianças




“Pinóquio o que aprendeste na escola hoje?... 
…“Ahhh aprendi a ler os números 
e a contar as letras” 
... e o nariz crescia...” 

Todos os dias nos deparamos com algumas declarações que não são verdades mas e quando estas surgem na boca das nossas crianças? O que fazer? Muitos pais envergonhados perguntam sobre a mentira das suas crianças. Sem conseguir-se perceber o que fazer quando esta situação ocorre.

Por volta dos 3/4 anos a criança realiza um investimento na linguagem e percebe que pode dizer tudo. Apos esta fase a criança começa a perceber que também pode dizer o que não é verdade e que tem a capacidade de inventar uma história. É talvez o primeiro contacto que a criança tem com o seu imaginário e quando começa a perceber a diferença entre o que é real e o que é fruto da sua imaginação.

A distinção entre os dois mundos é realizada de forma progressiva, após os 6/7 anos e após a integração dos valores sociais e morais a criança já deve perceber esta diferença.

Nas crianças a mentira reveste-se de dois aspetos a ter em conta: no primeiro a mentira tal como os adultos a conhecem, ou seja, declaração verbal que não é corresponde à verdade, cujo emissor é consciente de tal facto. Por outro lado a mentira como atividade lúdica e efabulação que consiste numa afirmação errónea que se baseia na vida imaginária do sujeito.

Existem vários motivos pelos quais as crianças mentem. Ackerman and Kappelman descrevem 5 tipos de mentira nas crianças: (1) Mentira exploratória onde a criança testa o que há para descobrir no outro lado da verdade; (2) Mentira Protetora, utilizada para evitar castigos. Esta mentira em crianças pequenas reveste-se na forma de negação (“Eu não parti o boneco”) mas, à medida que a criança cresce toma formas mais sofisticadas e até premeditadas; (3) Grande mentira que consiste no exagero (4) Mentira ruidosa que consiste numa chamada de atenção. Nesta situação a criança é consciente de que o interlocutor sabe qual é a verdade mas persiste na sua história; (5) Mentira fantasiosa, que envolve aspetos do imaginário fantasmático da criança que surgem como desculpa ou para serem responsabilizados pelos seus maus atos. 

Em algum momento do seu desenvolvimento todas as crianças contam uma mentira. O problema real coloca-se quando as mentiras passam a fazer parte integrante da vida da criança que as utiliza com frequência. 

Um dos problemas da mentira nas crianças é que esta constitui um dos tijolos onde construída uma série de comportamentos problemáticos, acompanhar outros comportamentos indesejados e reduzir as hipóteses deteção destes comportamentos. Por outro lado a mentira pode também dificultar o adquirir de competências sociais importantes para o desenvolvimento saudável da criança.

Então o que fazer quando temos um pequeno Pinóquio? De seguida propomos algumas ideias sobre a melhor forma de lidar com a mentira nas crianças. 

Seja claro a definir as regras e tenha em sempre a preocupação da criança entender o porque de cada regra.

A mentira faz parte da vida e alguns adultos mentem. Tente explicar à criança que apesar dos adultos também utilizarem mentiras este comportamento não é aceitável; 

Tente conversar com a criança sempre de forma calma e não induzi-la a mentir. Realize perguntas abertas, por ex: em vez de perguntar “O que é que tu fizeste?” Tente perguntar: “O que foi que aconteceu?”; 

Tente não prometer o que não pode cumprir pois este ato permite que a criança desvalorize a mentira e torne-a num comportamento vulgar, da mesma forma os elementos de educação (pais, tios, ..) devem evitar utilizar mentiras à frente das crianças; 

Quando a criança faz alguma asneira tente compreender o seu comportamento conversando com calma e informando com clareza que aquele comportamento não é desejado, propondo sempre uma solução alternativa, se necessário ajude a criança a simular essa solução; 

Quando a criança mente tente perceber o que a levou a mentir se de facto estava confusa ou se estava consciente da mentira e porquê; 

Por vezes a falta de confiança no apoio parental e a rigidez na punição promove que as crianças tentem escapar à mesma, é recomendada uma reflexão sobre os vários momentos em que houve punição da criança o que aconteceu e se foi adequada; 
Dizer que é feio mentir e que a criança é uma mentirosa ou similar não ajuda! Tente explicar as consequências de mentir; 

Após a mentira o castigo ou conversa deverão ser sempre imediatos e, de preferência, com relação à mentira; 

Atenção quando a mentira frequente realiza-se sempre sobre o mesmo assunto ou em determinados momentos. A mentira pode esconder alguma angústia da criança que necessite de um pouco de atenção; 

Cultive o diálogo com a criança. A cada dia o diálogo deve ser promovido através da escuta atenta dos outros e da escuta atenta da conversa da criança. 

Apenas com a promoção de um estilo de vida saudável, calmo e atento o desenvolvimento infantil poderá ser saudável.