5 de março de 2012

"Onico...quê?" ... Ou o hábito de roer as unhas

A mãe do Francisco esperava ansiosa pela consulta de devolução com a psicóloga que tinha avaliado o filho. Tinha procurado um psicólogo a fim de perceber o que se estava a passar com o Francisco, desde os 5 anos que roía as unhas e parece que tinha piorado, agora já pouco restava das unhas e peles e além de ser inestético este comportamento era motivo de chamada de atenção constante por parte de terceiros e constituía um veículo de introdução de germes no organismo (através da boca) o que representa perigo para a saúde. Assim que entrou não se conteve e perguntou: - Então, o que se passa com o meu filho? A psicóloga responde que o Francisco é uma criança muito ansiosa e a onicofagia é uma das estratégias que assumiu para conseguir dominar um pouco a ansiedade. – Onico...quê? – Pergunta a mãe.
Onicofagia é o hábito de roer as unhas das mãos ou dos pés durante períodos de nervosismo, ansiedade, stress, fome ou tédio. Em geral, o hábito de roer unhas inicia-se por volta dos 4/5 anos (entrada na escola) e é comum prolongar-se pela vida adulta.
O que acontece é que a criança é confrontada com exigências da vida familiar e/ou escolar (por exemplo o ensino escolar demasiado precoce) para as quais a sua estrutura psicomotora ainda não se encontra devidamente preparada. A ansiedade que daí advêm, provoca na criança a necessidade de encontrar uma estratégia para lidar com ela. A onicofagia surge portanto como um sintoma reactivo de compensação da instabilidade, ou seja, a criança rói as unhas (ou toma qualquer outro hábito equivalente) para tentar dar atenção aos problemas que lhe são postos.
No geral a onicofagia desaparece ou diminui com a idade. No entanto há casos em que se prolonga devido às características do indivíduo ou circunstâncias externas que podem agravar (como por exemplo a utilização de algumas punições mais agressivas que aumentam a ansiedade).
Para deixar de roer as unhas ou alterar algum hábito é necessário que a pessoa em questão (criança ou adulto) perceba os motivos e esteja motivada para o combater. É importante conversar sobre o comportamento e definir as suas consequências, para que o indivíduo integre a necessidade de abandonar o hábito. Só a partir deste momento, em que o indivíduo reconhece a necessidade de abandonar o comportamento é que é possível avançar para a aplicação de estratégias.
As técnicas de dissuasão são várias e passam pelo tratamento da ansiedade que está subjacente ao comportamento indesejado, por técnicas de alteração de comportamento, por exemplo para um indivíduo do sexo feminino, pintar as unhas com uma cor visível que o faça recordar, no momento em que vai roer, que não o deve fazer pois irá desarranjar o visual; a colocação de unhas postiças pode também ajudar à inibição deste comportamento; são também utilizadas técnicas de aversão (colocar nas unhas um produto de sabor desagradável), técnicas de alteração de comportamento (a ser realizadas por psicólogos especializados) e até certos fármacos (apenas quando o quadro clínico assim indicar e por médicos especialistas).
Este comportamento, como outros que derivam da ansiedade, podem e devem ser alterados sempre tendo em conta as consequências e com acompanhamento de um técnico especializado.