A mãe do
Francisco esperava ansiosa pela consulta de devolução com a psicóloga que tinha
avaliado o filho. Tinha procurado um psicólogo a fim de perceber o que se
estava a passar com o Francisco, desde os 5 anos que roía as unhas e parece que
tinha piorado, agora já pouco restava das unhas e peles e além de ser
inestético este comportamento era motivo de chamada de atenção constante por
parte de terceiros e constituía um veículo de introdução de germes no organismo
(através da boca) o que representa perigo para a saúde. Assim que entrou não se
conteve e perguntou: - Então, o que se passa com o meu filho? A psicóloga
responde que o Francisco é uma criança muito ansiosa e a onicofagia é uma das
estratégias que assumiu para conseguir dominar um pouco a ansiedade. –
Onico...quê? – Pergunta a mãe.
Onicofagia é
o hábito de roer as unhas das mãos ou dos pés durante períodos de nervosismo,
ansiedade, stress, fome ou tédio. Em geral, o hábito de roer unhas inicia-se
por volta dos 4/5 anos (entrada na escola) e é comum prolongar-se pela vida
adulta.
O que
acontece é que a criança é confrontada com exigências da vida familiar e/ou
escolar (por exemplo o ensino escolar demasiado precoce) para as quais a sua
estrutura psicomotora ainda não se encontra devidamente preparada. A ansiedade
que daí advêm, provoca na criança a necessidade de encontrar uma estratégia
para lidar com ela. A onicofagia surge portanto como um sintoma reactivo de
compensação da instabilidade, ou seja, a criança rói as unhas (ou toma qualquer
outro hábito equivalente) para tentar dar atenção aos problemas que lhe são
postos.
No geral a
onicofagia desaparece ou diminui com a idade. No entanto há casos em que se
prolonga devido às características do indivíduo ou circunstâncias externas que
podem agravar (como por exemplo a utilização de algumas punições mais
agressivas que aumentam a ansiedade).
Para deixar
de roer as unhas ou alterar algum hábito é necessário que a pessoa em questão
(criança ou adulto) perceba os motivos e esteja motivada para o combater. É
importante conversar sobre o comportamento e definir as suas consequências,
para que o indivíduo integre a necessidade de abandonar o hábito. Só a partir
deste momento, em que o indivíduo reconhece a necessidade de abandonar o
comportamento é que é possível avançar para a aplicação de estratégias.
As técnicas
de dissuasão são várias e passam pelo tratamento da ansiedade que está
subjacente ao comportamento indesejado, por técnicas de alteração de
comportamento, por exemplo para um indivíduo do sexo feminino, pintar as unhas
com uma cor visível que o faça recordar, no momento em que vai roer, que não o
deve fazer pois irá desarranjar o visual; a colocação de unhas postiças pode
também ajudar à inibição deste comportamento; são também utilizadas técnicas de
aversão (colocar nas unhas um produto de sabor desagradável), técnicas de
alteração de comportamento (a ser realizadas por psicólogos especializados) e
até certos fármacos (apenas quando o quadro clínico assim indicar e por médicos
especialistas).
Este
comportamento, como outros que derivam da ansiedade, podem e devem ser
alterados sempre tendo em conta as consequências e com acompanhamento de um
técnico especializado.