4 de junho de 2013

Os Medos na Infância


No passado dia 30 de Abril realizou-se na Escola EB1 Professor Caldeira Alexandre uma Formação sobre os Medos na Infância dirigida a uma turma do ensino pré-escolar, com o objectivo de desmistificar crenças em relação aos medos mais frequentes na infância e fornecer estratégias que possam de alguma forma ajudar a resolver esses medos.
            O medo é umas das emoções básicas do ser humano e é parte fundamental do instinto de sobrevivência. Numa situação potencialmente perigosa, o cérebro prepara corpo para dois tipos de resposta: o ataque ou a fuga. A capacidade de sentir medo é inata. Como tal, as pessoas podem manifestar uma certa angústia em relação a algumas situações que não tenham vivido anteriormente, mas das quais tenham tido referência através de sinais e estímulos emitidos por interacção com o meio envolvente. No caso particular das crianças, o medo pode ter uma repercussão negativa na evolução da sua personalidade, podendo gerar insegurança, traumas e fobias, o que não lhes permitirá desenvolver-se adequadamente a nível social.
Todas as crianças passam por períodos de medo. São fases normais que as ajudam a resolver problemas de desenvolvimento. Muitas vezes o medo serve para chamar a atenção dos pais/educadores para esses problemas e para gerar o apoio de que as crianças necessitam. Na infância os medos devem-se sobretudo à sua grande capacidade imaginativa e à tendência a confundir a aparência com a realidade. Estes medos podem ser originados por uma experiência pessoal ou por relatos de experiências negativas de outras pessoas.
À medida que a descrição do medo por parte da criança se torna mais expressiva, mais facilmente vai atingir a imaginação dos pais/educadores e também eles ficam cada vez mais presos ao receio da criança. Com esta reação exagerada, conferem uma espécie de credibilidade a esse receio e fazem com que a criança tenha mais dificuldade em dominá-lo. Se os pais/educadores não se alarmarem e reconhecerem que os medos fazem parte de um processo de aprendizagem, estão em melhor posição para ajudar a criança. Assim, é fundamental conseguir apoiar as crianças no sentido de combater os seus medos, e para tal seguem-se algumas indicações que poderão facilitar esse processo:
- Não promover o medo. Por exemplo, não é aconselhável fazer afirmações do género “se não comeres a sopa o bicho papão leva-te!”;
- Não proteger excessivamente;
- Incentivar a criança a falar sobre o seu medo;
- Ouvir atentamente o que a criança tem a dizer sobre o seu medo;
- Deve ser explicado à criança que aquilo que agora parece assustador e angustiante pode ser dominado, e que à medida que ela crescer aprenderá a vencer o seu medo;
- Utilizar sempre vocabulário que a criança seja capaz de compreender;
- A criança deve ser apoiada nos seus esforços para descobrir formas de dominar os seus medos;
- Pode ser explicado que todas as crianças da sua idade têm medo;
- Conversar com a criança sobre os medos que tinha na idade dela e de como aprendeu a vencê-los;
- Qualquer tentativa que a criança faça para dominar o medo deve ser reforçada. Poderá voltar a referir-se a sucessos anteriores sempre que surjam novos medos.

Existem alguns sinais de alerta na criança que devem ser tidos em conta, por exemplo: sono irrequieto, enurese, inibição, agressividade, birras demasiado frequentes, sonos trocados e tristeza. Caso estes se verifiquem, se for considerado que os medos da criança começam a invadir o seu estilo de vida, se perdurarem por um logo período de tempo (superior a seis meses), ou se afectarem a sua capacidade de fazer amigos, será aconselhável procurar ajuda profissional. Não podemos esquecer que estes medos podem ser a forma de a criança estar a pedir ajuda.
            Por último, visto que os medos vão-se manifestando em alturas previsíveis ao longo da infância, segue-se um quadro resumo que especifica por idades quais os medos mais frequentes nas crianças.

Idade
Medos

0-6 meses
Perda de apoio; ruídos fortes
7-12 meses
Estranhos; alturas; objetos inesperados, repentinos
1 ano
Separação de um dos pais; ferimentos; estranhos
2 anos
Uma variedade de estímulos, incluindo ruídos fortes (aspiradores, sirenes, alarmes, camiões, trovões); animais; salas escuras; separação do pai ou da mãe; objetos ou máquinas grandes; mudanças no ambiente pessoal; crianças desconhecidas
3 anos
Máscaras; escuro; animais; separação do pai ou da mãe
4 anos
Separação do pai ou da mãe; animais; escuro; ruídos (inclusive ruídos à noite)
5 anos
Animais; pessoas “más”; escuro; separação do pai ou da mãe; dano corporal
6 anos
Seres sobrenaturais (por exemplo fantasmas, bruxas); danos corporais; trovões e relâmpagos; escuro; dormir ou ficar sozinho; separação do pai ou da mãe
7-8 anos
Seres sobrenaturais; escuro; acontecimentos dos media (por exemplo, notícias sobre ameaça de guerra nuclear ou rapto de crianças); ficar sozinho; dano corporal
9-12 anos
Testes e provas escolares; apresentações escolares; danos físicos; aparência física; trovões e relâmpagos; morte; escuro