No passado dia 30 de Abril realizou-se na Escola
EB1 Professor Caldeira Alexandre uma Formação sobre os Medos na Infância
dirigida a uma turma do ensino pré-escolar, com o objectivo de desmistificar crenças
em relação aos medos mais frequentes na infância e fornecer estratégias que
possam de alguma forma ajudar a resolver esses medos.
O medo é umas das
emoções básicas do ser humano e é parte fundamental do instinto de
sobrevivência. Numa situação potencialmente perigosa, o cérebro prepara corpo
para dois tipos de resposta: o ataque ou a fuga. A capacidade de sentir medo é
inata. Como tal, as pessoas podem manifestar uma certa angústia em relação a algumas
situações que não tenham vivido anteriormente, mas das quais tenham tido
referência através de sinais e estímulos emitidos por interacção com o meio
envolvente. No caso particular das crianças, o medo pode ter uma repercussão
negativa na evolução da sua personalidade, podendo gerar insegurança, traumas e
fobias, o que não lhes permitirá desenvolver-se adequadamente a nível social.
Todas as crianças passam por períodos de medo. São
fases normais que as ajudam a resolver problemas de desenvolvimento. Muitas
vezes o medo serve para chamar a atenção dos pais/educadores para esses
problemas e para gerar o apoio de que as crianças necessitam. Na infância os
medos devem-se sobretudo à sua grande capacidade imaginativa e à tendência a
confundir a aparência com a realidade. Estes medos podem ser originados por uma
experiência pessoal ou por relatos de experiências negativas de outras pessoas.
À medida que a descrição do medo por parte da
criança se torna mais expressiva, mais facilmente vai atingir a imaginação dos
pais/educadores e também eles ficam cada vez mais presos ao receio da criança. Com
esta reação exagerada, conferem uma espécie de credibilidade a esse receio e
fazem com que a criança tenha mais dificuldade em dominá-lo. Se os pais/educadores
não se alarmarem e reconhecerem que os medos fazem parte de um processo de
aprendizagem, estão em melhor posição para ajudar a criança. Assim, é fundamental
conseguir apoiar as crianças no sentido de combater os seus medos, e para tal seguem-se
algumas indicações que poderão facilitar esse processo:
- Não promover o medo. Por exemplo, não é
aconselhável fazer afirmações do género “se não comeres a sopa o bicho papão
leva-te!”;
- Não proteger excessivamente;
- Incentivar a criança a falar sobre o seu
medo;
- Ouvir atentamente o que a
criança tem a dizer sobre o seu medo;
- Deve ser explicado à criança que aquilo
que agora parece assustador e angustiante pode ser dominado, e que à medida que
ela crescer aprenderá a vencer o seu
medo;
- Utilizar sempre vocabulário que a
criança seja capaz de compreender;
- A criança deve ser apoiada nos seus
esforços para descobrir formas de dominar os seus medos;
-
Pode ser
explicado que todas as crianças da sua idade têm medo;
-
Conversar
com a criança sobre os medos que tinha na idade dela e de como aprendeu a
vencê-los;
-
Qualquer
tentativa que a criança faça para dominar o medo deve ser reforçada. Poderá
voltar a referir-se a sucessos anteriores sempre que surjam novos medos.
Existem
alguns sinais de alerta na criança que devem ser tidos em conta, por exemplo:
sono irrequieto, enurese, inibição, agressividade, birras demasiado frequentes,
sonos trocados e tristeza. Caso estes se verifiquem, se for considerado que os
medos da criança começam a invadir o seu estilo de vida, se perdurarem por um
logo período de tempo (superior a seis meses), ou se afectarem a sua capacidade
de fazer amigos, será aconselhável procurar ajuda profissional. Não podemos
esquecer que estes medos podem ser a forma de a criança estar a pedir ajuda.
Por último, visto que
os medos vão-se manifestando em alturas previsíveis ao longo da infância, segue-se
um quadro resumo que especifica por idades quais os medos mais frequentes nas
crianças.
Idade
|
Medos
|
0-6 meses
|
Perda
de apoio; ruídos fortes
|
7-12 meses
|
Estranhos;
alturas; objetos inesperados, repentinos
|
1 ano
|
Separação
de um dos pais; ferimentos; estranhos
|
2 anos
|
Uma
variedade de estímulos, incluindo ruídos fortes (aspiradores, sirenes,
alarmes, camiões, trovões); animais; salas escuras; separação do pai ou da
mãe; objetos ou máquinas grandes; mudanças no ambiente pessoal; crianças
desconhecidas
|
3 anos
|
Máscaras;
escuro; animais; separação do pai ou da mãe
|
4 anos
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Separação
do pai ou da mãe; animais; escuro; ruídos (inclusive ruídos à noite)
|
5 anos
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Animais;
pessoas “más”; escuro; separação do pai ou da mãe; dano corporal
|
6 anos
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Seres
sobrenaturais (por exemplo fantasmas, bruxas); danos corporais; trovões e
relâmpagos; escuro; dormir ou ficar sozinho; separação do pai ou da mãe
|
7-8 anos
|
Seres
sobrenaturais; escuro; acontecimentos dos media (por exemplo, notícias sobre
ameaça de guerra nuclear ou rapto de crianças); ficar sozinho; dano corporal
|
9-12 anos
|
Testes
e provas escolares; apresentações escolares; danos físicos; aparência física;
trovões e relâmpagos; morte; escuro
|