6 de novembro de 2014

Colo e Colinho - Aspectos gerais sobre a vinculação e o desenvolvimento


Uma pessoa inteligente resolve um problema, 
um sábio previne-o”
Albert Einstein

O bebé desenvolve-se sobre um suporte genético que é melhorado por uma saúde e nutrição adequadas, relações interpessoais enriquecedoras e pelas experiências vividas. Os três primeiros anos são os mais críticos do seu desenvolvimento e as suas experiências nestes anos irão marcar profundamente toda a sua personalidade e estrutura cerebral, formas de relacionamento com os outros, regulação das suas emoções e até a sua confiança em si e autonomia serão influenciados por este início de vida.
Em 1958 o psicólogo Americano Harry Harlow quis investigar sobre a natureza do amor entre o bebé e o seu cuidador. Realizou várias experiências com macaquinhos rhesus bebés, na sua experiência mais conhecida separou os macaquinhos à nascença de suas mães e colocou-os junto a dois dispositivos que substituiriam as mesmas. Uma era feita de arame e a outra era revestida a tecido felpudo. O que observou foi que os macaquinhos preferiam estar junto da “mãe” revestida a tecido felpudo do que da outra revestida a arame mesmo quando era esta ultima que provia o alimento o seu comportamento baseava-se em permanecer junto da “mãe” felpuda e por vezes ir alimentar-se na “mãe” de arame regressando de imediato. Esta experiência sugere que o amor do bebé pela mãe não se deve somente à necessidade fisiológica de alimento. O principal motivo da vinculação (laço afetivo especial entre bebé e seu cuidador) não se deve a fome ou sede. Nas experiências seguintes Harlow observou que apesar de não existir diferenças ao nível do desenvolvimento físico, os macaquinhos bebés que tinham mantido contato com “mães” felpudas beneficiavam relativamente ao seu desenvolvimento psicológico em relação aos macaquinhos que apenas tinham tido contato com as mães de arame.  
Um bebé é um ser individual que passou os primeiros 9 meses da sua vida a viver em dualidade com a mãe, precisamente no colo a ser embalado pelos movimentos da mãe e muito bem aconchegado no seu útero ouvindo a melodia do seu coração e do fluxo de oxigénio e alimento que a placenta lhe proporcionava. Este é o ambiente no qual o bebé foi concebido, tornou-se embrião e depois feto, onde se desenvolveu até ao nascimento. Quando nasce, o bebé entra em contato com o mundo novo, desconhecido até aqui e tem necessidade de continuar a ser embalado e aconchegado com o calor humano. A necessidade de contato físico humano não é um capricho do bebé, mas sim, uma necessidade fisiológica do seu desenvolvimento.  
Esta boa vinculação apenas é possível quando os pais respondem de forma adequada, positiva, carinhosa e continuada aos apelos do filho, isto significa alimentar, tratar da higiene do bebé mas também aconchegar, mimar, embalar, dar colo mas principalmente significa que o cuidador tem que ser uma pessoa confiável para o bebé respondendo adequadamente aos seus pedidos, fortalecendo com estas atividades simples, a sua confiança e futura autonomia. 
Os pais e cuidadores devem mimar os seus bebés quando estes queiram ser mimados. A atenção, mimo, colo e outros cuidados em geral devem ser dispensados sempre que exista essa necessidade por parte do bebé. Tendo sempre o cuidado de permitir à criança que também brinque sozinha de forma a perceber que é um ser individual e consequentemente, amparada pelo carinho paterno, poder desenvolver a sua independência. Para que isto aconteça os cuidadores deverão estar atentos aos pedidos (choro e outras manifestações de desconforto) do bebé, atendendo quando existe essa necessidade e quando não existe, promover a sua autonomia. Quando esta prática (entre o mimar e permitir que brinque sozinho) é realizada com equilíbrio a criança estará mais perto de se desenvolver de forma saudável e tornar-se-á a cada dia mais autónoma. 
Assim segundo os estudos realizados foi observado que o contato físico com o bebé (desde que este queira) facilita uma boa vinculação que proporciona ao bebé um melhor desenvolvimento físico e emocional que se transformará num adulto mais equilibrado e feliz. 

Mamã, eu (não) quero!


“As necessidades básicas do ser 
humano são comer e amar.”
Sigmund Freud

Na maior parte das vezes, os pais, com um grande desejo de que a criança esteja bem nutrida e saudável, fazem da hora das refeições o momento de maior tensão em casa, com ansiedades e reprovações ao comportamento da criança em relação ao alimento. Uma criança pode passar a ter “falta de apetite” se os pais forem pessoas autoritárias e ansiosas, que criam um ambiente tenso, com pressas e ameaças em vez de fazerem da hora da refeição um momento de encontro e diálogo, de tranquilidade e afetividade. Enquanto os pais obrigam e ameaçam, as crianças são capazes de continuar sentadas à mesa com a comida na boca horas a fio.
A resistência das crianças ao comer é normal. Faz parte do seu espírito de rebeldia às coisas que lhe são impostas. É nisso que consiste educá-las. Aprender que quase tudo tem um tempo e um lugar. E também maneiras. E para tal é necessário um método e um tempo de aprendizagem.
O que podemos então fazer para que as crianças tenham hábitos de alimentação corretos?
Estabelecer rotinas. As rotinas são essenciais para as crianças e as refeições devem ter um horário e um local fixo. A criança deve fazer quatro ou cinco refeições por dia e não lhe devemos permitir comer fora das horas estabelecidas. Evite totalmente os maus hábitos: nada de bolachas, nem doces para que deixem de chorar. A regularidade e a confiança são a base para criar o hábito de comer bem. Os pais devem transmitir a segurança necessária, com a repetição sempre das mesmas ações para que a criança entenda que comer o que lhe puseram no prato e no sítio adequado é a coisa mais natural do mundo. No primeiro dia é provável que não seja tudo assim, nem no segundo. Mas o importante é que os pais não hesitem nem alterem os procedimentos. A criança está a aprender e isso leva tempo.
As refeições devem ser agradáveis e feitas sempre em família, com todos os seus membros juntos e partilhar os acontecimentos do dia. Se as refeições são curtas demais as crianças podem não ter tempo suficiente para comer, principalmente quando ainda estão adquirindo as capacidades para comerem sozinhas e podem comer devagar. Por outro lado, ficar sentada por mais de 20 ou 30 minutos é, muitas vezes, difícil para a criança e a refeição pode se tornar aversiva. Devemos ter em conta que nestas idades a criança é um ser muito ativo e portanto devemos servir a comida rapidamente e motivar a criança para que não prolongue a hora da refeição. É preferível tirar-lhe o prato do que deixá-lo durante horas à sua frente.
Não entretenha as crianças com contos, brinquedos ou televisão enquanto lhe dá de comer colher a colher. A criança precisa se concentrar na atividade da refeição, sentir o sabor dos alimentos e entender a sensação de fome e de saciedade. Brincar com o alimento, mas não brincar com a alimentação. Isto é, não distrair, não enganar, não forçar, não castigar ou premiar. O aviãozinho, por exemplo, não é uma boa opção, pois é uma maneira de enganar e distrair a criança. 
As crianças gostam de ver e de tocar em tudo, por isso devemos permitir inicialmente que a criança toque na comida, brinque com a colher, suje a mesa, pois isto permite que aprenda rapidamente a comer sozinha.

Incentivando-a a fazer as coisas por si própria, estamos a conseguir aumentar o seu interesse e apetite pela comida.
As crianças precisam de tempo para aceitar um alimento novo, uma vez que todos os sabores são desconhecidos. Se recusa algo novo devemos voltar a dar-lho depois e sempre pouco a pouco, duas colheres, depois três, até que chegue o dia em que coma todo o prato.
Um erro no qual muitos pais caem é prepararem apenas alimentos que sabem que os filhos gostam ou evitar outros porque os pais também não gostam. Nenhum é pretexto para justificar os maus hábitos de alimentação nas crianças. 
No entanto, é importante que os pais que têm estas dificuldades e não conseguem gerir procurem ajuda profissional. Muitas vezes é necessário descartar se não existe alguma perturbação orgânica. Estas dificuldades na hora da refeição muitas vezes geram problemas em toda a dinâmica familiar. Educar os nossos filhos a comer bem é educar um corpo saudável e é pouco mais que uma questão de paciência. Desesperar é (a única) coisa que não costuma funcionar.