18 de maio de 2015

A procura da felicidade na relação pais-filhos





"As emoções sentem-se; os sentimentos vivem-se; 
os gestos explicitam o que dentro de nós se passa; 
o traço perpetua o que vivenciamos 
no limite do que condescendemos em mostrar.”
João dos Santos, 1991


Este artigo pretende ser um convite à reflexão sobre a importante e extraordinária tarefa que é a parentalidade, não tendo como pretensão ser uma receita milagrosa para pais ou filhos.
Nos últimos tempos temos vindo a assistir a uma mudança na forma de encarar a tarefa da parentalidade pelos pais, e, apesar de todas as dificuldades inerentes ao seu dia-a-dia vemos cada vez mais mães e pais envolvidos, reciprocamente, nas várias tarefas relacionadas com a prestação de cuidados aos seus filhos. Pode dizer-se que os pais estão cada vez mais preocupados e empenhados com o bem-estar dos seus filhos. 

O culminar desta dinâmica relacional pode traduzir-se num único conceito: Felicidade. Esta procura da felicidade na relação pais-filhos pode ser entendida como uma busca saudável, daquilo que de melhor os pais podem dar e exigir aos seus filhos, nas várias fases do seu desenvolvimento, sendo o seu desejo que venham a ser pessoas mais equilibradas, competentes e saudáveis. 

A tarefa da parentalidade é um processo dinâmico, individual que assenta num padrão de comunicação e de relação que subsiste por toda a vida, o qual sofre também a influência das gerações anteriores, uma vez que esta tarefa evoca nos pais a ligação e as vivências que tiveram no passado com os seus próprios pais.

Embora a tarefa de ser mãe ou pai seja a mais compensadora e gratificante de todas, por vezes, apresenta-se como sendo uma tarefa difícil, cansativa, frustrante, repleta de dúvidas e de preocupações. Quem já não se zangou e gritou com o seu filho, mas depois sentiu o coração ficar apertadinho e pequenino, arrependendo-se do que disse ou fez, mas perante aquela situação não conheceu, ou encontrou, outra forma de agir. A boa notícia é que existem formas simples de lidar com estas situações e o melhor de tudo é que estas competências podem ser aprendidas e, mais uma vez, reforço que não vai encontrar neste artigo nenhuma receita mágica para resolver os seus problemas.

Apresento-lhe a chamada Parentalidade Positiva, que não sendo um estilo de vida, é uma filosofia que promove a relação pais-filhos com base no respeito mútuo, onde a educação da criança é encarada de forma construtiva, com firmeza, mas também com muita empatia e generosidade. Este movimento empático de pais para filhos não implica o apagamento dos primeiros em relação aos segundos (mal seria se assim fosse), mas visa um olhar para o filho como uma criança em crescimento que precisa e espera dos seus pais uma posição compreensiva de amor paternal, amplo e indivisível.

Uma criança que é educada com base na Parentalidade Positiva é uma criança que compreende e integra as regras e limites que existem na sua vida, porque percebe o interesse dessas mesmas regras e não necessita de ter os pais ao seu lado para as executar. É uma criança disciplinada porque é incentivada a pensar, a escutar-se e a escutar os outros, porque ela própria é escutada. É uma criança que entende mais facilmente que a sua felicidade depende unicamente de si e não procura justificações ou culpados quando as coisas correm mal. É uma criança que tem uma boa auto-imagem e quer continuar a tê-la. É uma criança que começa a desenvolver uma inteligência emocional e uma auto-estima equilibradas. Em suma, são crianças mais seguras, mais resilientes e desenvolvem-se de forma mais tranquila, tornando a relação pais-filhos mais coesa e saudável.

Mas não quero deixar de ressalvar que nesta tarefa de Ser Mãe ou Ser Pai, Ser feliz é fundamental. Mas ser feliz não significa que tudo correrá sempre bem, tal como gostaríamos ou desejaríamos, “ser feliz é conseguir diariamente um equilíbrio precário, sempre diverso e renovado, entre o melhor e o pior, a luz e o escuro, a alegria e a tristeza” (Pedro Strecht, 2015).

Não querendo reportar-me a regras pré-estabelecidas, pois como já o disse, a tarefa da parentalidade é um processo dinâmico e acima de tudo singular, é importante mencionar que a primeira premissa da Parentalidade Positiva é muito simples e ímpar – mas simultaneamente muito verdadeira – podendo resumir-se a esta pequena fórmula: Pais Felizes = Crianças Felizes.

É comum os pais esquecerem-se da sua própria felicidade, tendo como preocupação apenas a felicidade dos seus filhos. É fundamental que não se esqueçam que ambas estão e estarão sempre em relação. 

Cabe aos pais encontrar estratégias simples e concretas, adequadas à sua dinâmica familiar, para conseguir educar crianças resilientes, positivas e felizes (as quais serão os adultos equilibrados, competentes e saudáveis de amanhã), sem renunciar à sua autoridade de pais, procurando equilibrar a tarefa da parentalidade com amor, empatia, generosidade, carinho e respeito. O mais importante é perceberem o porquê de uma birra, de um choro – aprendendo a falar com os seus filhos, tendo em conta não só o que dizem, mas fundamentalmente quando e como o dizem.