21 de maio de 2008

A Casa do Avô


Saber envelhecer é obra-prima da sabedoria (Amiel).

Algumas pessoas, por mais velhas que sejam, nunca perdem a beleza; apenas a transferem do rosto para o coração (Buxbaum).


Ao longo do processo de envelhecimento, as capacidades de adaptação do ser humano vão-se atenuando, tornando-o cada vez mais sensível ao meio. Os idosos podem revelar características positivas tais como a sabedoria, um maior nível de maturidade emocional, conhecimento e experiência. Podem igualmente beneficiar de melhores capacidades para dar um maior significado à vida, maior flexibilidade frente às situações e podem eventualmente ser capazes de compensar as perdas com os ganhos. No entanto, nesta fase da vida podem surgir algumas dificuldades, nomeadamente, de isolamento, de inactividade e de desempenho. Estas podem trazer consigo uma tendência para a diminuição da auto-estima e das faculdades mentais que por sua vez podem evoluir para estados de tristeza, apatia, desmotivação e dificuldade de adaptação a novos papeis. Contudo, e apesar de muitas mazelas, dificuldades e perdas inevitáveis é importante não esquecer que o envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de toda a vida.
Ainda não é de todo conhecida a etiologia do envelhecimento. A pessoa envelhece como um todo embora os primeiros responsáveis sejam as células, os tecidos e os órgãos. Existem diversas teorias, modelos e visões que tentam explicar as causas do envelhecimento mas nenhuma delas atinge uma explicação plena: chega-se ao consenso de que se vai envelhecendo a cada dia, cada pessoa do seu modo, e por muitas causas diversificadas.
O aumento da esperança média de vida, consequência da melhoria dos cuidados de saúde resultou num aumento da proporção de pessoas idosas. No concelho de Vila Real de Santo António, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a população idosa em 2006 constituía 25% dos residentes, num total de 18341 habitantes. Perante esta situação tornou-se essencial dar respostas às necessidades vividas pela população idosa residente no concelho.
Para fazer face a esta problemática, às dificuldades existentes na terceira idade e na tentativa de oferecer aos idosos uma melhor qualidade de vida, a Câmara de Vila Real de Santo António criou um projecto denominado a Casa do Avô.
Este projecto consiste na implementação de um centro para Idosos com idades superiores aos 65 anos, com o objectivo de optimizar as potencialidades e competências deste grupo. A Casa do Avô será constituída por quatro espaços físicos – Vila Real de Santo António, Monte Gordo, Manta Rota e Corte António Martins – para poder abranger todo o concelho e assim facilitar o apoio prestado. Estarão envolvidas áreas do serviço de saúde (consultoria geriátrica, terapia ocupacional, psicologia, fisioterapia, enfermagem, podologia, massagem e educação física) do serviço de Acção Social (apoio à família, animação sócio/cultural e psicomotricidade) e do serviço cultural.
Este espaço tem como objectivo principal atenuar as dificuldades a nível pessoal, clínico, social e cultural, a fim de melhorar a sua qualidade de vida. Como? Através da realização de actividades recreativas e de lazer para ocupação dos tempos livres, participação na comunidade e socialização, assim como da prevenção de toda e qualquer deterioração das capacidades e através da fomentação das relações interpessoais entre os utentes.
O desafio deste projecto é fazer com que o envelhecimento se processe com uma maior qualidade, em todos os domínios como na saúde física e mental, na competência social, na conservação da autonomia, bem-estar e relações interpessoais, desenvolvimento pessoal e intelectual, sendo por isso também necessário o contributo psicológico.
O idoso deve ser ajudado a compreender as modificações corporais e do comportamento, tal como as mudanças cognitivas a nível da memória e da resolução de problemas. Levá-lo a compreender as mudanças tecnológicas e culturais da sociedade, a lidar com novas situações, permitir-lhe aceder a um desenvolvimento satisfatório e a descobrir novos papéis.
Deve igualmente ser compreendido e ajudado a adaptar-se ao seu dia-a-dia porque é esta adaptação que lhe permite manter-se activo em todos os níveis possíveis e levá-lo, ao mesmo tempo, a um contínuo investimento nos cuidados de saúde, desenvolvimento pessoal e social e nos seus objectivos de vida. Para tal, é importante a familiarização com o olhar dos idosos perante o mundo, uma vez que toda a intervenção (psicológica, terapêutica, educativa, social e cultural) deverá tê-lo como ponto de partida, de modo a promover o desenvolvimento das pessoas que estão a viver a última, mas não menos importante fase do ciclo de vida.