18 de janeiro de 2012

Sexualidades e Adolescências


A adolescência é frequentemente definida como sendo um tempo de transição no qual ocorrem mudanças no pensamento, identidade, autonomia e independência. De entre as mudanças mais destacadas encontram-se as corporais e sexuais. 
Durante a adolescência existem mudanças significativas no tamanho, forma e funcionamento do corpo, e é precisamente nesta fase que muitos sujeitos iniciam as suas experiências sexuais interpessoais. Estas mudanças podem contribuir para alterações no auto-conceito que incluem ênfase na sexualidade, alterando o seu comportamento sexual e adquirindo um novo sentido para si próprios e para os outros. 
Por estes motivos o estabelecimento durante a adolescência e jovem idade adulta de uma sexualidade satisfatória e coerente é uma das tarefas mais importantes do ciclo vital. 
Não obstante o anterior, o desenvolvimento sexual tal como as alterações físicas, comportamentais/interpessoais que estão associadas à puberdade e adolescência são frequentemente conceptualizadas de forma estrita. Mas na verdade, o surgimento da sexualidade deve ser visto como uma forma multidimensional de desenvolvimento. Por exemplo, é possível determinar quando começa a adolescência mas não quando termina. 
As hormonas sexuais intervêm ao nível dos correspondentes receptores periféricos das mesmas levando ao desenvolvimento do organismo adulto com a consequente maturidade. Já os esteróides sexuais têm uma função organizativa e outra activadora no comportamento sexual e agressivo. Antes da puberdade, estes efeitos activadores são muito reduzidos, mas, uma vez activados, os níveis hormonais aumentam pelo menos quatro vezes ao longo dos dez primeiros meses, alcançando em apenas dois anos os níveis de um adulto. 
O mais significativo é que os substratos neuronais que actuam na agressividade são os mesmos que actuam no sexo e as conexões neuronais dentro destas áreas parecem ter uma notável semelhança. Igualmente, os mesmos esteroides que activam a agressividade, por sua vez activam o comportamento sexual. E precisamente a puberdade e os primeiros anos da adolescência constituem o período mais significativo para a aprendizagem da expressão e canalização do sexo e, ao mesmo tempo, da agressividade. 
As modificações e alterações hormonais podem provocar alterações complexas no comportamento sexual e no comportamento agressivo que se traduzem num aumento na sua frequência. No entanto, o nível de hormonas sexuais não prognostica os comportamentos ou interesses sexuais. Os principais determinantes do comportamento são os factores de desenvolvimento e os ambientais, as hormonas somente contribuem para a sua expressão. 
Estas mudanças bio-fisiológicas vão acompanhadas por um aumento da capacidade para lidar com conceitos abstractos e operações mentais formais, bem como por um aumento da capacidade para colocar-se no lugar do outro e analisar os seus pensamentos. 
Como tal, “a adolescência é uma etapa ou período da vida que se inicia com o aparecimento da puberdade, mas que se diferencia dela porque a adolescência vai mais além do mero desenvolvimento fisiológico, implicando mudanças intelectuais, emocionais, sociais, etc., que têm características diferentes das da infância e da vida adulta”. De facto é mais adequado falar de adolescências devido às diferenças culturais, de geração, étnicas, familiares, pessoais... 
Os conteúdos eróticos estão presentes na publicidade e em todo o tipo de manifestações culturais fomentando as actividades sexuais entre adolescentes, mas a sua sexualidade não é reconhecida. 
O mais problemático é que na nossa sociedade a actividade sexual está reduzida à genitalidade, procriação, casamento, vida adulta, à heterossexualidade e ao homem. Tal reflecte a incomodidade referente às questões sexuais e à erotofobia. As atitudes sociais depreciativas face às mulheres e crianças podem contribuir para que os jovens de sexo masculino as “utilizem” para satisfazer os seus desejos. 
Acrescem as dificuldades que os pais apresentam em relação à educação sexual. A grande maioria detém escassa ou nenhuma informação acerca da sexualidade ou do abuso sexual. 
A vida sexual dos adolescentes é afectada pelo consumo de produtos directamente relacionados com a sexualidade e outros que se promovem através da manipulação de conteúdos sexuais. O mesmo acontece com a indústria da cosmética e da cirurgia. 
Igualmente a figura corporal é um dos elementos fundamentais da auto-estima, que por sua vez, é um elemento essencial para uma sexualidade saudável. Os complexos que tendem a aparecer têm a sua base em imaginados defeitos físicos e por vezes afectam as relações interpessoais e a estabilidade emocional. Além disso, os modelos de beleza que a sociedade propõe vão incrementar a consciência do significado do corpo. 
Um em cada quatro adolescentes tem dificuldades em aceitar a sua figura corporal. Mas na realidade existe uma relação entre o “atractivo físico” e a aceitação social (na família, entre colegas, etc.). 
Todavia os conflitos quanto à independência e separação da família também se poderão expressar de forma sexual quando o adolescente se serve das relações sexuais para criar uma certa forma de distância familiar. 
Por conseguinte, cabe dizer que o contexto social e cultural no qual ocorrem estas mudanças (evolutivas e sociais) afecta o conceito que o adolescente tem de si mesmo de acordo com dimensões relacionadas com a sexualidade.