17 de julho de 2008

As Crianças e as suas Emoções…



“…antes que as crianças sejam crescidas demais para aprender sozinhas o que há para aprender, ensinemos-lhe ternamente a vida, a maior das sabedorias.” (Pedro Strecht – Quero-te Muito, Crónicas para Pais sobre Filhos, 2004, pág. 45)


As crianças durante o seu crescimento passam por várias fases do seu desenvolvimento e a cada uma dessas fases corresponde um nível de desenvolvimento cognitivo e físico. Do progresso da criança desde a mais tenra idade e até ao final da adolescência resultará a personalidade do jovem adulto, que por essa altura estará formada.

Para compreender as emoções da criança, é necessário aos pais, antes de mais, compreenderem as suas próprias emoções. Ao conseguirem identificar as suas emoções, os pais estarão mais disponíveis e sensíveis aos sentimentos dos filhos.

Naturalmente que homens e mulheres, apesar de não se manifestarem visivelmente sobre as suas emoções, e de forma a preservar os seus filhos, evitam expor alguns afectos negativos como a ira, temendo perder o controlo e por recearem que de alguma forma os seus filhos possam adquirir esses modelos na construção da sua personalidade. Optam por vezes, por omitir as emoções, e desta forma não criam a oportunidade de os seus filhos expressarem as suas, podendo estas crianças ou jovens no futuro não conseguir gerir ou enfrentar emoções negativas tornando-se mais incapacitante do que o seria se tivessem aprendido a exteriorizá-las de forma correcta.

Reconhecer e compreender as emoções dos filhos confere aos pais a possibilidade de estabelecer laços de intimidade com estes, e vice-versa. Quando a criança sente que é entendida nas suas emoções, encara os seus pais como aliados. Ora, se os pais perante uma situação que sabem que pode despoletar angústia ou nervosismo nos seus filhos dialogarem sobre o assunto perturbador no sentido de diminuir os seus medos e de os acalmar, estes quando expostos à situação poderão estar mais aptos para a enfrentar e não entrar em descontrolo.

Uma das dificuldades com que uma criança se pode deparar relativamente às suas emoções é de não as conseguir verbalizar. Quando se dá à criança a possibilidade de poder chamar as emoções pelos nomes, como o medo, a tristeza, verifica-se que tem um efeito tranquilizante. Os pais, e todos os demais educadores, podem certamente ajudar os seus educandos nesta aprendizagem.

Desta forma, sendo as emoções utilizadas diariamente, umas vezes com maior sucesso do que noutras, afirma-se daí a importância de promover desde muito cedo na infância o bom desenvolvimento e uso desta, cabendo naturalmente aos pais o papel principal e a outros familiares que partilhem de alguma forma da educação das crianças, evitando situações em que a criança se sinta sem qualquer poder e/ou sem qualquer controlo.

Diagnóstico Neuropsicológico Infantil – A sua especificidade clínica


“O cérebro não é uma ilha… é um continente que nos une e nos situa no universo total da pessoa, e isto não deve ser esquecido no exercício da neuropsicología”.
Ruano Hernández (1999)


A Neuropsicología Infantil, também denominada de Neuropsicología do Desenvolvimento, estuda as relações entre o comportamento e o cérebro em desenvolvimento. Quando nos centramos na Neuropsicología Infantil constatamos variáveis de suma transcendência que a diferenciam de ser apenas uma simples actividade estendida da do adulto. Se quisermos referir-nos a um cérebro adulto, fazemo-lo pensando numa estrutura madura e, no caso de um cérebro de criança, sabemos que se trata de um cérebro em vias de organização, onde os factores ambientais jogam um papel muito importante.

Durante a década de 1930, um inquestionável expoente da Psicologia Genética foi Piaget. Este autor investigou, entre outras funções cerebrais, as noções temporais, espaciais, a lateralidade e o desenvolvimento da escrita. A sua concepção sobre a evolução genética da criança estabelece a infância como uma etapa de crescimento vinculado ao tempo como um ciclo vital, descrevendo quatro factores responsáveis pela velocidade e duração do desenvolvimento: a maduração interna (associada à aprendizagem pela experiência); a experiência física (a acção dos objectos); a transmissão social (factor educativo que se produz pela assimilação); o equilíbrio (estabelece uma relação entre os três factores anteriormente citados num “jogo” de relações e composições para se alcançar a coerência). De facto, não podemos desconhecer o importante impulso que Piaget aporta ao conhecimento de diversos comportamentos cognitivos da criança, estudados hoje desde uma perspectiva da Neuropsicología Cognitiva.

Introduzirmo-nos na Neuropsicología Infantil comporta exigências de compreensão da organização cerebral prévia alterada, bem como das consequências posteriores trás a alteração do normal curso de desenvolvimento cerebral do sujeito com relação à sua idade. Cada criança é um caso peculiar em términos de capacidade cognitiva ou intelectual, onde avaliando-se as capacidades específicas, tanto qualitativa como quantitativamente, os resultados do perfil neuropsicológico são um caso único para cada criança avaliada.

A valoração neuropsicológica no campo infantil deve focar-se no estudo de habilidades cognoscitivas básicas identificando não só as dificuldades da criança, como também aquelas áreas em que sobressai. Na avaliação neuropsicológica infantil existem 4 áreas que diversos autores consideram como essenciais: a linguagem, a memória, a motricidade e a percepção. Contudo, a história clínica da criança é parte indispensável do processo de avaliação que proporciona dados relevantes para a correcta interpretação dos resultados obtidos através da aplicação de provas. A entrevista do neuropsicólogo com os pais e/ou com a própria criança, e a observação de outros relatórios médicos e/ou educativos, permite recolher um importante número de dados neuropsicológicos com vista à formulação de um diagnóstico e possível prognóstico (antecedentes pessoais, educativos e familiares).

De facto, podemos concluir que as considerações acerca do desenvolvimento das funções cognitivas, o processo de aquisição de competências, os fenómenos de reorganização de estruturas cerebrais através das capacidades plásticas corticais, nos proporcionam novas e interessantes interrogantes para o futuro da investigação científica neste âmbito.