6 de agosto de 2015

Laços não são nós



“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; 
repugna-la-íamos se a tivéssemos. 
O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.”
Fernando Pessoa

Com o passar dos anos vamos sendo sujeitos a mudanças, estas são compreendidas pela sociedade através de alterações da cultura, da economia, da natureza e até da educação. O que de facto nos fica é a comparação com o antigamente e uma grande vontade de compor estas mudanças no sentido de as equilibrar e evoluir nesse processo. Por cá, em especial, na educação, o modelo que vigorou até às vésperas do 25 de Abril foi marcadamente rígido ao nível da disciplina, no entanto após esta data foram evidenciadas mudanças que abriram espaço para uma maior partilha e comunicação. Com este artigo pretendo trazer-vos um momento de reflexão acerca da modificação de paradigma comportamental dos pais e a sua implicação na relação existente com a escola. É com pesar que percebo uma enorme dificuldade nos pais dos dias de hoje em lidar com as aventuras e desventuras que os filhos experienciam dentro do território escolar. Nesta viragem de século tornou-se ainda mais expressiva uma postura parental dirigida para uma exagerada democracia. Muitos dos pais de hoje foram no passado filhos que viveram num “antigamente predominantemente autoritário”, e ao quererem distanciar-se dessa posição acabam por ter dificuldade em entender as diferenças entre o que é a autoridade e o autoritarismo. Deslizam, portanto, ao recear de forma amplificada uma recaída pelo lado do autoritarismo e acabam por se perder numa demarcada oferta de liberdade que a determinado ponto conduz as suas crianças num sentido descontrolado de domínio e de carência de limites. É neste momento que assistimos a crianças com uma voz de comando superior à voz dos pais e que acabam por também reflectir essa postura na escola. Não é à toa que antigamente os pais eram autoritários; hoje, são os filhos. Dantes, os professores eram heróis dos alunos; hoje, são vítimas deles. Diz-se que os jovens de hoje não sabem ser contrariados. No entanto, tal como afirma o colega Doutor Eduardo Sá: “Os pais, hoje, sabem mais da escola num ano lectivo do que alguns dos nossos pais em todo o nosso percurso educativo!”.  Esta  extrema preocupação e algum descontrolo paternal acaba por conduzir estes pais para uma postura extremamente rígida e crítica relativamente aos restantes agentes educativos. Os professores acabam, também, por ter imensa dificuldade em gerir estes comportamentos, tanto os provenientes dos alunos como o dos seus progenitores. Actualmente conquistámos uma flexibilidade sem limites no que se refere à acusação propriamente dita e este “apontar o dedo” surge nas duas direcções, tanto de pais para professores como o contrário. Porque sempre ouvimos que a escola não é só um local que nos transmite aprendizagens escolares mas é também um espaço que nos ajuda a crescer como cidadãos e nos educa e transmite formas de comportamento adequado e equilibrado. Portanto as famílias projectam nas escolas as suas apoquentações de medo, de falta de tempo, disponibilidade para amar, proteger e educar, e acreditam que estas preocupações devem ser do encargo da escola. Por vezes, e não querendo ser taxativo, o envolvimento de alguns professores também se encontra comprometido, pois hoje são uma classe social que sofre em excesso erros cometidos pelos “senhores do poder”, e portanto essa desmotivação empurra-os para preocupações que se estendem a horizontes afastados da sua profissão. Ora vejamos, a quantidade de alunos por turma hoje em dia é abismal, no entanto o professor, deve cumprir um enorme número de tarefas e para além disso ainda tem de vigiá-las, acaba por não conseguir fazer chegar a cada menino o mais importante, o amor. Porque não se ama aos pares e muito menos às dezenas! A atenção, apoio e o carinho essencial para uma adequada transmissão de valores diminui e estes alunos acabam por simpatizar cada vez menos com os seus professores e vice-versa. A relação deste alunos com a escola e a educação sai penalizada, a criação de laços com os seus agentes educativos dentro do recinto escolar também se torna reduzida e contraproducente no seu processo natural de aprendizagem.
Não existem dúvidas de que os pais são os primeiros educadores da criança, ao longo da sua escolaridade, continuam a ser os principais responsáveis pela sua educação e bem-estar. No entanto não nos podemos esquecer que os professores são parceiros fundamentais na assunção dessa responsabilidade. Como parceiros, a união de esforços, partilha de objectivos e reconhecimento da existência de um mesmo bem comum para os alunos tornasse elementar, e como é lógico uma rivalidade entre estes agentes é algo que impede a união de esforços e a partilha de objectivos, tendo graves prejuízos para o aluno. É fundamental que se perceba que uma relação pouco razoável entre pais, alunos e escola não irá fazer com que as crianças entendam a educação de forma positiva e se desenvolvam cognitiva e comportamentalmente de forma mais equilibrada. Hoje em dia existe cada vez mais a necessidade de a escola estar em perfeita sintonia com a família. A escola é uma instituição que vem complementar a família e dar sentido ao processo de aprendizagem do aluno. É, portanto, essencial que a família e escola se unam na criação de uma “aliança” com vista a conseguirem ajudar educandos e consequentemente alunos a tornarem-se cidadãos ativos, equilibrados e capazes de agir na sociedade dos nossos dias.
O simples facto de nos preocupar-mos e termos dúvidas são a base para nos considerar-mos bons pais, pois só o colocar dúvidas indica que se está a ponderar na melhor forma de resolver uma situação que pode vir a impedir uma adequada relação com o seu filho. O ser pai não é mais do que uma caminhada na qual só temos a certeza do ponto de partida, na qual queremos muito que os nossos filhos sejam felizes e nos amem. Não tem mal em ter dúvidas e pedir ajuda. Não se preocupe, ninguém se diploma na tarefa de educar. Não existe um protocolo de conduta adaptado a todas crianças, cada pessoa é um ser único e essa individualidade deve ser respeitada. No entanto não se encontra sozinho nesta caminhada, o trabalho em parceria com a escola é fundamental para um equilibrado desenvolvimento do seu filho. Preocupe-se, interesse-se mas reflita um pouco mais acerca da sua comunicação e diálogo com o seu filho bem como com os agentes que vivenciam experiências diárias com os mesmos. A criação de laços fortes com a escola apenas pode beneficiar o correto desenvolvimento do seu filho como aluno e futuramente como cidadão. Apesar de não existirem pais, professores ou filhos perfeitos sabemos que uma união entre os três aproxima-os a todos de um apropriado desenvolvimento pessoal.