13 de dezembro de 2012

Educar...


"A educação do homem começa no
momento do seu nascimento;
antes de falar, antes de entender, já se instrui."
Rousseau , Jean Jacques
Por vezes, nas nossas conversas com pais, educadores e colegas, surge uma questão que suscita diversas dúvidas e opiniões…
Educar é difícil?!
Todos nós ao nascer, somos um diamante em bruto, pronto a lapidar, que segundo diversos parâmetros se irá transformar até aos últimos dias da nossa vida. A família é o primeiro contato no desenvolvimento infantil, e é esta que determina as bases para uma estrutura com pilares culturais e tradicionais. Neste sentido, é determinante que os pais reflitam e procurem dar sempre o seu melhor, respeitando a individualidade sem esquecer a necessidade de realizar atividades que desenvolvam competências emocionais e sociais.
Deve manter, de igual forma, os laços afetivos entre todos, ajudando a interagirem com a sociedade e a melhorarem a sua auto-estima.
A resolução de problemas assume um papel preponderante na educação recebida pois dependemos desta habilidade para superar as diversas dificuldades com que nos deparamos diariamente. Os problemas diários que surgem nos mais novos, são ultrapassados com recursos cognitivos disponíveis transmitidos pelo núcleo familiar através de sentimentos de autonomia e segurança emocional.
Ao falarmos em educar, este assunto remete-nos necessariamente também para o papel da escola e respectivos profissionais na educação de jovens. Claramente esta é uma das fases essenciais na aquisição de conhecimentos, experiências, vivências…entre muitos outros aspetos que a escola proporcionar mas…educar é uma função de todos e não tem idade, local, forma ou contexto para se realizar.
O ser humano precisa de orientação e informação ao longo da sua vida. Estes conhecimentos são adquiridos na família, na escola, com amigos, no trabalho, ou mesmo pela curiosidade e capacidade de entender o mundo que nos rodeia.
À medida que vamos consolidando as bases da nossa educação, o processo de “auto-educação” assume um papel muito importante, através da necessidade de procura/descoberta do que está registado, sem nunca esquecer as experiências do dia-a-dia.
A arte de educar não tem objetivos pré-definidos, cabendo a cada um (educador e educando) adaptar-se e enquadrar-se nas necessidades emocionais, físicas e sociais presentes neste processo. Convém ainda salientar que a educação faz parte constantemente nas nossas rotinas e que a sua dificuldade é condicionada pela disponibilidade de cada um em receber ou transmitir informação.

6 de novembro de 2012

Principio Ético Como Filosofia de Vida





“Não darei veneno a ninguém ainda que me o peça,
nem lhe sugerirei tal possibilidade”
Hipócrates

Com a criação da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) como organismo regulador da profissão de psicólogo em Portugal, torna-se indiscutível a necessidade de existirem normas de conduta profissional e que essa mesma necessidade é hoje fundamental na ordenação do pensamento sobre as questões éticas e deontológicas essenciais ao exercício dessa profissão.
Como princípios importantes e imutáveis devemos salientar que o psicólogo deve estar sempre ao serviço do Homem e da sua saúde e bem-estar, sendo que as relações terapêuticas com os clientes devem assentar na confiança e na aceitação incondicional do carácter e escolhas pessoais dos mesmos, desde que estas sejam enquadradas num exercício de racionalidade e de respeito pelo outro. Através do Código Deontológico (CD) da Ordem dos Psicólogos Portugueses, temos acesso aos princípios orientadores e às regras de comportamento ideais que devem estar presentes em todas as circunstâncias nesta profissão. Contudo, existem casos reais extremamente delicados, para os quais nenhum C.D. consagra normas e orientações suficientes, sendo assim a consciência do psicólogo (bem formado eticamente) que encontra a solução mais adequada. Quanto mais científica e mais defensora da dignidade e do respeito pela identidade do ser humano, mais ética se tornará essa solução. O psicólogo, “possuidor” do poder interventivo terapêutico, deve tornar imperativo o objetivo de pautar as suas ações, não por uma ideologia teórica político-social, mas sim por uma pratica que efetive o Homem na essência do seu todo e da sua nobreza idiossincrática.
O poder seja de que origem for, deve intervir em favor da ética, sendo que o poder para servir ideologias ou satisfazer clientes está, na maioria das vezes, contra a ética. Quando tal realidade se apresenta ao psicólogo, este deve fazer uso do seu dever de integridade e inteireza moral. Nesta classe profissional, torna-se necessário que à coerência de personalidade se adicione uma fidelidade aos princípios de atuação da profissão e sentindo, todos os que dela fazem parte, como missão permanente a defesa dos mesmos quando ameaçados. Tal como está referido no C.D. da O.P.P., a integridade poderá ficar comprometida sempre que o profissional se deixar influenciar pelas suas próprias motivações ou crenças, preconceitos e juízos morais, nos casos em que surjam conflitos de interesse pessoal, profissional e institucional, dilemas centrados nas hierarquias, ou mesmo a partir de pedidos não razoáveis dos clientes. Quando confrontado com alguma destas situações, o psicólogo deverá promover a reflexão das diferentes perspetivas em equação com o objetivo de alcançar situações de compromisso que respeitem os princípios gerais, específicos e linhas de orientação da prática da Psicologia. 
De facto, os psicólogos devem sentir o peso da responsabilidade ética da sua profissão, tanto dentro como fora das consultas, das escolas, dos tribunais, das empresas, dos hospitais... Tornando-se assim não penas uma mera profissão mas toda uma filosofia de vida para quem, com mérito, a escolheu exercer. 

2 de agosto de 2012

A Depressão no Idoso




A depressão é uma doença mental que afecta pessoas de todas as idades. De um modo geral, a prevalência da depressão tende a aumentar com o avançar da idade e é, por isso, nas pessoas mais idosas que ela atinge os índices mais elevados de morbilidade e mortalidade. 
A depressão major, a mais frequente, define-se como uma perturbação mental que apresenta cinco sintomas principais com duração de pelo menos duas semanas. Estes sintomas englobam tristeza intensa e/ou profunda falta de interesse nas actividades que habitualmente dão prazer, dificuldades no sono, alterações do apetite/peso, fadiga ou perda de energia, lentificação/agitação, sentimentos de desvalorização ou culpa, dificuldade em tomar decisões e pensamentos de suicídio. Contudo, há que salientar que a depressão pode manifestar-se de modo diferente, de pessoa para pessoa. 
As suas causas podem ter vários factores, sendo eles: sociais, biológicos, físicos e/ou psicológicos. Os factores sociais podem estar ligados: à falta de suporte familiar que se intensifica pela perda de entes queridos, ao isolamento, a restrições financeiras e também à falta de ocupação de tempos livres. Já os factores biológicos podem estar relacionados com perdas sensoriais e cognitivas, com alterações do ritmo cardíaco, do sono, alterações da linguagem e memória. Os factores físicos podem estar ligados a: polimedicação, problemas de visão, audição, incapacidade para realizar as tarefas da vida diária e à existência de outras doenças. Por fim, os factores psicológicos podem encontrar-se associados a uma baixa auto-estima, à auto-percepção incorrecta do estado de saúde, às mudanças de vida percepcionadas como negativas, a alterações cognitivas e também à ansiedade ou frustração. 
Quando se fala da depressão no idoso torna-se muito importante estabelecer um correcto diagnóstico do problema, uma vez que coexistem outras patologias, nomeadamente, físicas ou psiquiátricas. Por exemplo, podem ocorrer casos em que a sintomatologia de um quadro de demência inicial é semelhante à da depressão. Deve também ser verificado se o idoso possui alguma doença clínica que esteja relacionada com depressão ou se utiliza algum medicamento que esteja a desencadear sintomas depressivos. Alguns idosos podem expressar a depressão através de sintomas físicos como, por exemplo, cefaleias ou dor crónica em vez de sintomas emocionais mais vulgares. Em consequência, existe alguma dificuldade em elaborar um correcto diagnóstico deste quadro clínico na medida em que assume formas incaracterísticas, muitas vezes, difíceis de diagnosticar e, consequentemente, de tratar. 
O tratamento da depressão tem como finalidade reduzir o sofrimento psíquico causado pela doença, diminuir o risco de suicídio, melhorar o estado geral do paciente e garantir-lhe uma melhor qualidade de vida dentro das suas capacidades. Uma das estratégias de intervenção utilizadas é a psicoterapia. É importante que se identifique o ou os factores que estão a desencadear o processo depressivo ou, em certos casos, até mesmo agravando a depressão. Além disso deve-se ainda orientar os familiares, os cuidadores e o próprio doente. Por vezes, torna-se necessária também uma intervenção ao nível da farmacologia. Esta é recorrida quando os sintomas de depressão colocam em risco a condição clínica do doente e quando o sofrimento psíquico é significativo. 
É de salientar que, em muitos casos, os idosos tendem a negar a sua depressão por não se quererem sentir “farrapos velhos” ou nem “um peso para os outros”. Não procuram tratamento por negarem estar deprimidos, apesar de se sentirem dessa forma, ou simplesmente por não reconhecerem ter um problema. A adaptação individual ao processo de envelhecimento pode tornar a pessoa mais vulnerável à depressão comprometendo toda a sua qualidade de vida. Além disso existe ainda um risco acrescido deste vir a desenvolver um processo demencial. 
As sociedades ditas civilizadas e modernas privilegiam a juventude em relação à velhice e os idosos acabam por ser excluídos da produção/actividade, muitas vezes contra a sua própria vontade, ficando isolados, com carências económicas e adoecendo por falta de recursos para a saúde. A situação torna-se ainda mais grave no caso dos residentes em instituições uma vez que se encontram afastados do seu ambiente familiar habitual e, por vezes, isolados da actualidade cultural, experimentando a sensação de abandono, de dependência e inutilidade. 
As queixas e os pequenos sinais dos idosos devem ser mais valorizadas pois, é muito frequente, aqueles que os rodeiam e com quem convivem associem o seu estado de melancolia e tristeza à sua idade avançada e a outros factores considerados comuns.

5 de junho de 2012

O impacto do divórcio nas crianças e a alienação parental




Há bastantes anos, o desafio que se colocava sobre os filhos dos pais divorciados era o receio de que a circunstância intrínseca de ter os pais separados os atirasse para uma espiral de infelicidade, de rebeldia e de falta de valores familiares. Hoje em dia, este mito foi ultrapassado e progressivamente assistiu-se a uma assimilação social e jurídica do divórcio, simplificando-o e desburocratizando o processo, eliminando até a noção de culpa das partes. No fundo, permitindo que quando o casamento não cumpre as funções pretendidas, os cônjuges se possam libertar e evitar conflitos desnecessários.
Nos casais com filhos a simplificação do divórcio não tem impacto pretendido porquanto a regulação das responsabilidades parentais acarreta a necessidade de um entendimento entre os pais, para benefício dos filhos, e esse acordo nem sempre é conseguido pela via extrajudicial.
Aquando da consumação da separação dos progenitores da criança, a lei portuguesa estabelece que se deve proceder à regulação das responsabilidades parentais. Entende-se por responsabilidades parentais a capacidade de partilhar as tarefas da parentalidade, bem como à definição da guarda de facto das crianças e a regulação do convívio com o progenitor com quem a criança não coabita.
A guarda conjunta ou a responsabilidade parental partilhada é, ainda hoje, residual. No início dos anos 80, nos Estados Unidos da América foi considerado sexista atribuir a guarda dos filhos à mãe. Na verdade, em Portugal, apesar de algumas tentativas, essa ainda é a tendência dominante, em caso de dúvida ou de igualdade de condições. Por outro lado, a noção de culpa no divórcio (só recentemente removida) foi permitindo que este se transformasse numa disputa com vencedor e vencido. Os filhos têm vindo a fazer parte das negociações e chantagens que se dão na divisão de bens, de forma sistemática. É geralmente nestes quadros pós-divórcio, em que os pais confundem o seu conflito com o papel parental que desempenham, que muitas das tarefas da parentalidade se vêm comprometidas.
 Steinemann (1983) divide os casais em fase de separação em 3 grupos: O grupo A diz respeito aos “pais com sucesso” que conseguem separar claramente o seu conflito conjugal do seu papel parental e que desejam proteger os filhos do sofrimento, não os imiscuindo no processo de separação. Os pais do grupo C são “pais que falham”, oriundos de famílias já bastante desorganizadas antes da separação, com confusão de papéis e que na sua maioria vão envolver completamente os filhos no processo de separação. O grupo B (onde se situam a maioria das situações) é o dos “pais desorientados e ambivalentes”, isto é aqueles que se encontram sob um nível de stress muito elevado e que, não sabendo exactamente as decisões que devem tomar, beneficiariam do apoio da família alargado e de profissionais.
Aquando do divórcio dos pais, as crianças tendem a manifestar alguma rejeição parental, considerada adaptativa face ao processo de reestruturação familiar e que geralmente é transitória. Alguns exemplos disso são ansiedade de separação, desagrado face aos novos companheiros dos pais e dos filhos destes, desagrado face às regras mais rígidas na casa de um dos progenitores, desagrado pela necessidade de alternar entre casas, entre outros. Todavia no caso de conflitualidade elevada entre os progenitores o risco psicológico torna-se maior, quer a curto quer a médio e longo prazo e é aqui que se inscreve, do ponto de vista fenomenológico, a Alienação Parental.
No âmbito dos divórcios conflituosos, a Alienação Parental surge como a criação de uma relação exclusiva entre o progenitor que tem a guarda e a criança no sentido de afastar o outro progenitor.  Este fenómeno foi descrito pela primeira vez por Gardner nos anos 80, mas parece existir desde que existem divórcios e/ou disputas pela guarda de filhos menores.
Nestas situações começamos por verificar uma recusa inicialmente por parte do progenitor quem tem a guarda em cumprir aquilo que foi combinado ao nível das visitas e dos contactos da a criança com o outro progenitor. Surge também uma campanha de descrédito e injúrias acerca desse progenitor junto da criança. São então utilizados todos os recursos legais para tentar adiar o processo de visitas e pernoitas junto do progenitor que não tem a guarda.
Com o evoluir da situação e se não for adequadamente a criança começa a interiorizar este processo e começa a ser ela própria a denegrir o progenitor e a não querer passar tempo com este.
Geralmente este processo atinge o seu expoente máximo quando surgem acusações falsas de abuso sexual e estas dão entrada em tribunal com o objectivo de suspender definitivamente as visitas.
Este processo levado a cabo por progenitores que instrumentalizam as suas crianças como forma de atacar o ex-cônjuge tem um forte impacto nas crianças. No curto prazo predomina a ansiedade de separação, a identificação patológica com o progenitor alienador, regressões no desenvolvimento, passando por um empobrecimento da vida social, com défices de auto-estima e no controlo dos impulsos e baixo nível de resistência à frustração. A longo prazo, os efeitos não foram ainda suficientemente estudados mas os relatos de adultos que foram vitimizados por este fenómeno quando crianças são, no mínimo, inquietantes.
Concluindo, e para impedir que estas situações se materializam e consolidem como conflitos permanentes, estes sim traumatizantes, será importante que muitos dos pais desorientados e ambivalentes procurem o apoio da mediação familiar, antes de tornarem patológico o processo de regulação das responsabilidades parentais. A intervenção atempada de técnicos com a formação adequada poderá reverter o processo e impedir que a alienação parental se concretize.
Como vimos inicialmente, existe uma linha ténue, entre aquelas famílias que perante a situação de crise conseguem organizar-se, com o aconselhamento profissional, na defesa da melhor situação para a criança, e aqueles que se envolvem num conflito que muitas vezes dura o resto das suas vidas, invertendo valores e princípios que até aí tinham sido defendidos para a educação da criança, numa lógica de “faz o que eu digo e não faças o que eu faço”.
Agora o desafio que nos colocamos tem um novo enfoque colocado na capacidade de gestão desse divórcio e da capacidade dos progenitores manterem uma ideia de educação e de princípios para os filhos que vão para além do seu próprio relacionamento enquanto casal. A evolução, do ponto de vista do amadurecimento do casal, para esse estádio pós-divórcio, é decisiva para a qualidade da infância e da juventude.


Promo // Documentário sobre a Alienação Parental em Portugal: http://vimeo.com/12489169


9 de abril de 2012

Violência no Namoro

Colaboração do NEIP com a CPCJ


Dizer “NÃO” – Manual de Sobrevivência para Pais



Podemos começar por imaginar como seria uma escola onde não existissem regras, exames, controlo dos alunos ou de professores. Ou como seria uma família em que não existisse qualquer tipo de orientação, em que ninguém se preocupasse com nada e cada um fizesse o que entendesse. Será fácil imaginar o caos, o desespero e até a injustiça presente nestas situações.
Na educação das crianças é crucial que este caos e este desespero não se instalem e para isso é essencial saber dizer “NÃO!”. Quem nunca se deparou com uma criança que chora e esperneia na hora do banho, só quer comer em frente à televisão, quando vê um brinquedo numa loja faz birra e só pára quando os pais decidem comprá-lo? Os pais do mundo moderno sentem-se muitas vezes sem tempo, sem espaço para os filhos, vivem numa tensão contínua com medo que os seus filhos os censurem por não lhes darem atenção, que estão sempre com pressa, que são um fracasso como pais. Estes pais, movidos por algum sentimento de “culpa” acabam por fazer cedências em relação aos pedidos e à vontade dos filhos que vão desfavorecer toda a aprendizagem de regras importantes.
Esta ausência de regras e limites na educação das crianças pode trazer sérios problemas ao relacionamento entre pais e filhos, além de produzir adolescentes e adultos com falhas no seu desenvolvimento pessoal e social, levando a uma baixa resistência às frustrações que vão enfrentar no dia-a-dia. Crianças que nunca são contrariadas acabam por se tornar adultos infelizes, agressivos, deprimidos, já que a sociedade e o mundo não dão o mesmo “SIM” incondicional dos pais.
O que fazer? Estabelecer limites e regras não é tarefa fácil, mas muito mais complicado é mantê-las. Ter de enfrentar as birras no supermercado, os esperneios, o choro interminável é muito mais difícil. Há algumas orientações que podem ajudar os pais a prevenir e ultrapassar estas situações e que não podem faltar na relação com as crianças, mas isso daria para um livro inteiro. Tentaremos resumir algumas, em jeito de “comprimido”.
 O primeiro passo é os pais sentirem-se seguros e passarem essa segurança para os filhos. Uma criança percebe quando um “NÃO” pode ser um talvez e nesse caso não irá cumprir o estipulado e irá tentar levar os pais ao limite para conseguir aquilo que quer. Os pais devem definir as regras que desejam estabelecer, o que podem e não podem fazer (hora de dormir, as refeições, o estudo, as actividades, o arrumar o quarto, …). É necessário explicá-las de forma clara e bastante objectiva de forma a evitar ambiguidades, evitando justificações. Os longos discursos costumam ser pouco úteis com os adultos. Com as crianças, mais do que inúteis, são muitas vezes contraproducentes.
Em segundo lugar devemos ser mais perseverantes do que as crianças. Neste aspecto as crianças levam anos de vantagem. São muito mais perseverantes que os adultos e mostram isso todos os dias. Devemos mentalizar-nos e sentir que não podemos falhar para que a criança possa sentir essa segurança, essa paciência e que assim facilita os objectivos propostos.
Mais e melhor do que punir o inadequado é reforçar o que é adequado. A criança deve ser elogiada, reforçada com atenção e afecto quando cumpre as regras e limites impostos. Os comportamentos que são reforçados tendem a ser repetidos. Estes reforços devem, no entanto ocorrer de forma natural e o menos planeado possível para não ganhar a forma de chantagem.
Procurar encontrar diariamente alguns momentos de qualidade com os filhos, nem que sejam poucos minutos, na hora do banho, antes de ir para a cama, etc., desde que a criança os sinta como momentos de prazer. São os momentos de partilha que constroem as relações positivas.
Falem com os vossos filhos sobre as emoções, traduzindo-as por palavras. Diga o quanto gosta do seu filho mesmo quando ele está zangado. Dê-lhe mimo porque eles precisam de beijinhos e abraços e nunca foi isso que “estragou” uma criança. Seja consistente e cumpra sempre o que prometeu. As crianças são justas e precisam de regras e limites para crescerem seguras.
Estas são apenas algumas das orientações que os pais podem adoptar. Muito mais poderá ser dito e feito. No entanto, torna-se necessária e urgente uma mudança de atitude dos pais. É um treino diário, um processo de aprendizagem mútuo que requer observação das necessidades da criança, que mudarão ao longo de seu desenvolvimento, provocando mudanças na árdua tarefa de educar. Porque para educar é preciso esforço, dedicação, persistência e paciência... muita paciência...

5 de março de 2012

"Onico...quê?" ... Ou o hábito de roer as unhas

A mãe do Francisco esperava ansiosa pela consulta de devolução com a psicóloga que tinha avaliado o filho. Tinha procurado um psicólogo a fim de perceber o que se estava a passar com o Francisco, desde os 5 anos que roía as unhas e parece que tinha piorado, agora já pouco restava das unhas e peles e além de ser inestético este comportamento era motivo de chamada de atenção constante por parte de terceiros e constituía um veículo de introdução de germes no organismo (através da boca) o que representa perigo para a saúde. Assim que entrou não se conteve e perguntou: - Então, o que se passa com o meu filho? A psicóloga responde que o Francisco é uma criança muito ansiosa e a onicofagia é uma das estratégias que assumiu para conseguir dominar um pouco a ansiedade. – Onico...quê? – Pergunta a mãe.
Onicofagia é o hábito de roer as unhas das mãos ou dos pés durante períodos de nervosismo, ansiedade, stress, fome ou tédio. Em geral, o hábito de roer unhas inicia-se por volta dos 4/5 anos (entrada na escola) e é comum prolongar-se pela vida adulta.
O que acontece é que a criança é confrontada com exigências da vida familiar e/ou escolar (por exemplo o ensino escolar demasiado precoce) para as quais a sua estrutura psicomotora ainda não se encontra devidamente preparada. A ansiedade que daí advêm, provoca na criança a necessidade de encontrar uma estratégia para lidar com ela. A onicofagia surge portanto como um sintoma reactivo de compensação da instabilidade, ou seja, a criança rói as unhas (ou toma qualquer outro hábito equivalente) para tentar dar atenção aos problemas que lhe são postos.
No geral a onicofagia desaparece ou diminui com a idade. No entanto há casos em que se prolonga devido às características do indivíduo ou circunstâncias externas que podem agravar (como por exemplo a utilização de algumas punições mais agressivas que aumentam a ansiedade).
Para deixar de roer as unhas ou alterar algum hábito é necessário que a pessoa em questão (criança ou adulto) perceba os motivos e esteja motivada para o combater. É importante conversar sobre o comportamento e definir as suas consequências, para que o indivíduo integre a necessidade de abandonar o hábito. Só a partir deste momento, em que o indivíduo reconhece a necessidade de abandonar o comportamento é que é possível avançar para a aplicação de estratégias.
As técnicas de dissuasão são várias e passam pelo tratamento da ansiedade que está subjacente ao comportamento indesejado, por técnicas de alteração de comportamento, por exemplo para um indivíduo do sexo feminino, pintar as unhas com uma cor visível que o faça recordar, no momento em que vai roer, que não o deve fazer pois irá desarranjar o visual; a colocação de unhas postiças pode também ajudar à inibição deste comportamento; são também utilizadas técnicas de aversão (colocar nas unhas um produto de sabor desagradável), técnicas de alteração de comportamento (a ser realizadas por psicólogos especializados) e até certos fármacos (apenas quando o quadro clínico assim indicar e por médicos especialistas).
Este comportamento, como outros que derivam da ansiedade, podem e devem ser alterados sempre tendo em conta as consequências e com acompanhamento de um técnico especializado. 


18 de janeiro de 2012

Sexualidades e Adolescências


A adolescência é frequentemente definida como sendo um tempo de transição no qual ocorrem mudanças no pensamento, identidade, autonomia e independência. De entre as mudanças mais destacadas encontram-se as corporais e sexuais. 
Durante a adolescência existem mudanças significativas no tamanho, forma e funcionamento do corpo, e é precisamente nesta fase que muitos sujeitos iniciam as suas experiências sexuais interpessoais. Estas mudanças podem contribuir para alterações no auto-conceito que incluem ênfase na sexualidade, alterando o seu comportamento sexual e adquirindo um novo sentido para si próprios e para os outros. 
Por estes motivos o estabelecimento durante a adolescência e jovem idade adulta de uma sexualidade satisfatória e coerente é uma das tarefas mais importantes do ciclo vital. 
Não obstante o anterior, o desenvolvimento sexual tal como as alterações físicas, comportamentais/interpessoais que estão associadas à puberdade e adolescência são frequentemente conceptualizadas de forma estrita. Mas na verdade, o surgimento da sexualidade deve ser visto como uma forma multidimensional de desenvolvimento. Por exemplo, é possível determinar quando começa a adolescência mas não quando termina. 
As hormonas sexuais intervêm ao nível dos correspondentes receptores periféricos das mesmas levando ao desenvolvimento do organismo adulto com a consequente maturidade. Já os esteróides sexuais têm uma função organizativa e outra activadora no comportamento sexual e agressivo. Antes da puberdade, estes efeitos activadores são muito reduzidos, mas, uma vez activados, os níveis hormonais aumentam pelo menos quatro vezes ao longo dos dez primeiros meses, alcançando em apenas dois anos os níveis de um adulto. 
O mais significativo é que os substratos neuronais que actuam na agressividade são os mesmos que actuam no sexo e as conexões neuronais dentro destas áreas parecem ter uma notável semelhança. Igualmente, os mesmos esteroides que activam a agressividade, por sua vez activam o comportamento sexual. E precisamente a puberdade e os primeiros anos da adolescência constituem o período mais significativo para a aprendizagem da expressão e canalização do sexo e, ao mesmo tempo, da agressividade. 
As modificações e alterações hormonais podem provocar alterações complexas no comportamento sexual e no comportamento agressivo que se traduzem num aumento na sua frequência. No entanto, o nível de hormonas sexuais não prognostica os comportamentos ou interesses sexuais. Os principais determinantes do comportamento são os factores de desenvolvimento e os ambientais, as hormonas somente contribuem para a sua expressão. 
Estas mudanças bio-fisiológicas vão acompanhadas por um aumento da capacidade para lidar com conceitos abstractos e operações mentais formais, bem como por um aumento da capacidade para colocar-se no lugar do outro e analisar os seus pensamentos. 
Como tal, “a adolescência é uma etapa ou período da vida que se inicia com o aparecimento da puberdade, mas que se diferencia dela porque a adolescência vai mais além do mero desenvolvimento fisiológico, implicando mudanças intelectuais, emocionais, sociais, etc., que têm características diferentes das da infância e da vida adulta”. De facto é mais adequado falar de adolescências devido às diferenças culturais, de geração, étnicas, familiares, pessoais... 
Os conteúdos eróticos estão presentes na publicidade e em todo o tipo de manifestações culturais fomentando as actividades sexuais entre adolescentes, mas a sua sexualidade não é reconhecida. 
O mais problemático é que na nossa sociedade a actividade sexual está reduzida à genitalidade, procriação, casamento, vida adulta, à heterossexualidade e ao homem. Tal reflecte a incomodidade referente às questões sexuais e à erotofobia. As atitudes sociais depreciativas face às mulheres e crianças podem contribuir para que os jovens de sexo masculino as “utilizem” para satisfazer os seus desejos. 
Acrescem as dificuldades que os pais apresentam em relação à educação sexual. A grande maioria detém escassa ou nenhuma informação acerca da sexualidade ou do abuso sexual. 
A vida sexual dos adolescentes é afectada pelo consumo de produtos directamente relacionados com a sexualidade e outros que se promovem através da manipulação de conteúdos sexuais. O mesmo acontece com a indústria da cosmética e da cirurgia. 
Igualmente a figura corporal é um dos elementos fundamentais da auto-estima, que por sua vez, é um elemento essencial para uma sexualidade saudável. Os complexos que tendem a aparecer têm a sua base em imaginados defeitos físicos e por vezes afectam as relações interpessoais e a estabilidade emocional. Além disso, os modelos de beleza que a sociedade propõe vão incrementar a consciência do significado do corpo. 
Um em cada quatro adolescentes tem dificuldades em aceitar a sua figura corporal. Mas na realidade existe uma relação entre o “atractivo físico” e a aceitação social (na família, entre colegas, etc.). 
Todavia os conflitos quanto à independência e separação da família também se poderão expressar de forma sexual quando o adolescente se serve das relações sexuais para criar uma certa forma de distância familiar. 
Por conseguinte, cabe dizer que o contexto social e cultural no qual ocorrem estas mudanças (evolutivas e sociais) afecta o conceito que o adolescente tem de si mesmo de acordo com dimensões relacionadas com a sexualidade.