“Se puderes olhar vê, se puderes ver repara”
No passado mês de Março realizou-se em Vila Real de Santo António, a 3ª edição do curso de desenvolvimento de competências parentais. Porquê desenvolver
as competências parentais?
A psicologia tem vindo a compreender, ao longo do tempo, que muitas
das problemáticas e necessidades das pessoas não alcançam uma resolução plena
numa abordagem individual. Algumas das dificuldades que muitas crianças
atravessam deve-se não só às suas características individuais mas devem ser
entendidas num modelo ecológico. Este modelo assenta em três eixos, onde as necessidades das crianças se cruzam com
as competências parentais e com
outros fatores familiares e ecológicos.
Com frequência o olhar dos responsáveis educativos e técnico com
intervenção na infância tende a focar-se apenas nas deficiências de
desenvolvimento das crianças, ao nível da sua saúde física, da educação, do seu
comportamento, do relacionamento com os outros e resumir a isso a sua avaliação
da criança, propondo para tal intervenções individuais e planos de intervenção
geralmente votados ao fracasso.
Abordar desde logo, as competências parentais e avaliá-las permitirá
uma visão mais completa e uma identificação dos eventuais pontos a reforçar
numa futura intervenção. As tarefas da parentalidade vão desde os cuidados
básicos diários à capacidade de estabelecer regras e fornecer estabilidade à
criança, bem como a estimulação e afetividade necessária ao seu
desenvolvimento. O desafio para os pais é tanto maior, quanto maiores forem as
necessidades das crianças. Vemos com frequência que pais que tiveram sucesso a
educar os seus filhos mais velhos se vêm incapazes perante uma criança com uma
perturbação de hiperatividade e défice de atenção, ou perante um filho com
deficiência.
Naturalmente, quanto maior for o desafio a que os pais estão sujeitos,
maiores serão as dificuldades que irão encontrar na tentativa de exercer uma
parentalidade positiva.
Daqui surge a necessidade de capacitar os pais através de programas de
desenvolvimento das suas competências, apoiando e orientando-os para que possam
dar uma resposta adequada às necessidades das suas crianças. Por outro lado, o
encontro de pais para debater as suas dificuldades e as estratégias que
utilizam permite-lhes perceber que não estão sozinhos e que muitos outros pais
atravessam as mesmas dificuldades e podem apoiar-se mutuamente.
Este ponto leva-nos ao terceiro eixo desta abordagem, os fatores
familiares e ecológicos: este permite avaliar o sistema familiar e social em
que a família se insere, que recursos comunitários existem. Muitos dos planos
de intervenção realizados não tem em conta, por exemplo, que a rede de cuidados
de saúde infantil é escassa, o que dificulta ou impede o acesso das famílias
mais carenciadas aos cuidados e intervenções específicas que a criança
necessita. Uma boa parte das crianças com necessidades especiais de saúde ou
educação não encontra resposta especializada na sua área de residência ou
região. Assim, muitos pais passam ao lado das necessidades dos seus filhos não
só por “incompetência” parental ou negligência, mas muitas vezes por falta de
recursos comunitários. Por isso, devemos ter em conta nas avaliações que
realizamos e nas intervenções que planeamos, aquilo que estamos a exigir às
famílias, e aquilo que realmente estará ao seu alcance executar.
Cabe-nos, enquanto
psicólogos, intervir com as crianças, capacitar e orientar os pais, para os
recursos existente e possíveis respostas e alertar a comunidade para os
obstáculos que existem no acesso aos
serviços de que necessitam