6 de maio de 2013

O Desafio das Competências Parentais



“Se puderes olhar vê, se puderes ver repara”
Livro dos Conselhos - Saramago

No passado mês de Março realizou-se em Vila Real de Santo António, a 3ª edição do curso de desenvolvimento de competências parentais. Porquê desenvolver as competências parentais?
A psicologia tem vindo a compreender, ao longo do tempo, que muitas das problemáticas e necessidades das pessoas não alcançam uma resolução plena numa abordagem individual. Algumas das dificuldades que muitas crianças atravessam deve-se não só às suas características individuais mas devem ser entendidas num modelo ecológico. Este modelo assenta em três eixos, onde as necessidades das crianças se cruzam com as competências parentais e com outros fatores familiares e ecológicos.
Com frequência o olhar dos responsáveis educativos e técnico com intervenção na infância tende a focar-se apenas nas deficiências de desenvolvimento das crianças, ao nível da sua saúde física, da educação, do seu comportamento, do relacionamento com os outros e resumir a isso a sua avaliação da criança, propondo para tal intervenções individuais e planos de intervenção geralmente votados ao fracasso.
Abordar desde logo, as competências parentais e avaliá-las permitirá uma visão mais completa e uma identificação dos eventuais pontos a reforçar numa futura intervenção. As tarefas da parentalidade vão desde os cuidados básicos diários à capacidade de estabelecer regras e fornecer estabilidade à criança, bem como a estimulação e afetividade necessária ao seu desenvolvimento. O desafio para os pais é tanto maior, quanto maiores forem as necessidades das crianças. Vemos com frequência que pais que tiveram sucesso a educar os seus filhos mais velhos se vêm incapazes perante uma criança com uma perturbação de hiperatividade e défice de atenção, ou perante um filho com deficiência.
Naturalmente, quanto maior for o desafio a que os pais estão sujeitos, maiores serão as dificuldades que irão encontrar na tentativa de exercer uma parentalidade positiva.
Daqui surge a necessidade de capacitar os pais através de programas de desenvolvimento das suas competências, apoiando e orientando-os para que possam dar uma resposta adequada às necessidades das suas crianças. Por outro lado, o encontro de pais para debater as suas dificuldades e as estratégias que utilizam permite-lhes perceber que não estão sozinhos e que muitos outros pais atravessam as mesmas dificuldades e podem apoiar-se mutuamente.
Este ponto leva-nos ao terceiro eixo desta abordagem, os fatores familiares e ecológicos: este permite avaliar o sistema familiar e social em que a família se insere, que recursos comunitários existem. Muitos dos planos de intervenção realizados não tem em conta, por exemplo, que a rede de cuidados de saúde infantil é escassa, o que dificulta ou impede o acesso das famílias mais carenciadas aos cuidados e intervenções específicas que a criança necessita. Uma boa parte das crianças com necessidades especiais de saúde ou educação não encontra resposta especializada na sua área de residência ou região. Assim, muitos pais passam ao lado das necessidades dos seus filhos não só por “incompetência” parental ou negligência, mas muitas vezes por falta de recursos comunitários. Por isso, devemos ter em conta nas avaliações que realizamos e nas intervenções que planeamos, aquilo que estamos a exigir às famílias, e aquilo que realmente estará ao seu alcance executar.
    Cabe-nos, enquanto psicólogos, intervir com as crianças, capacitar e orientar os pais, para os recursos existente e possíveis respostas e alertar a comunidade para os obstáculos que existem  no acesso aos serviços de que necessitam