6 de novembro de 2014

Mamã, eu (não) quero!


“As necessidades básicas do ser 
humano são comer e amar.”
Sigmund Freud

Na maior parte das vezes, os pais, com um grande desejo de que a criança esteja bem nutrida e saudável, fazem da hora das refeições o momento de maior tensão em casa, com ansiedades e reprovações ao comportamento da criança em relação ao alimento. Uma criança pode passar a ter “falta de apetite” se os pais forem pessoas autoritárias e ansiosas, que criam um ambiente tenso, com pressas e ameaças em vez de fazerem da hora da refeição um momento de encontro e diálogo, de tranquilidade e afetividade. Enquanto os pais obrigam e ameaçam, as crianças são capazes de continuar sentadas à mesa com a comida na boca horas a fio.
A resistência das crianças ao comer é normal. Faz parte do seu espírito de rebeldia às coisas que lhe são impostas. É nisso que consiste educá-las. Aprender que quase tudo tem um tempo e um lugar. E também maneiras. E para tal é necessário um método e um tempo de aprendizagem.
O que podemos então fazer para que as crianças tenham hábitos de alimentação corretos?
Estabelecer rotinas. As rotinas são essenciais para as crianças e as refeições devem ter um horário e um local fixo. A criança deve fazer quatro ou cinco refeições por dia e não lhe devemos permitir comer fora das horas estabelecidas. Evite totalmente os maus hábitos: nada de bolachas, nem doces para que deixem de chorar. A regularidade e a confiança são a base para criar o hábito de comer bem. Os pais devem transmitir a segurança necessária, com a repetição sempre das mesmas ações para que a criança entenda que comer o que lhe puseram no prato e no sítio adequado é a coisa mais natural do mundo. No primeiro dia é provável que não seja tudo assim, nem no segundo. Mas o importante é que os pais não hesitem nem alterem os procedimentos. A criança está a aprender e isso leva tempo.
As refeições devem ser agradáveis e feitas sempre em família, com todos os seus membros juntos e partilhar os acontecimentos do dia. Se as refeições são curtas demais as crianças podem não ter tempo suficiente para comer, principalmente quando ainda estão adquirindo as capacidades para comerem sozinhas e podem comer devagar. Por outro lado, ficar sentada por mais de 20 ou 30 minutos é, muitas vezes, difícil para a criança e a refeição pode se tornar aversiva. Devemos ter em conta que nestas idades a criança é um ser muito ativo e portanto devemos servir a comida rapidamente e motivar a criança para que não prolongue a hora da refeição. É preferível tirar-lhe o prato do que deixá-lo durante horas à sua frente.
Não entretenha as crianças com contos, brinquedos ou televisão enquanto lhe dá de comer colher a colher. A criança precisa se concentrar na atividade da refeição, sentir o sabor dos alimentos e entender a sensação de fome e de saciedade. Brincar com o alimento, mas não brincar com a alimentação. Isto é, não distrair, não enganar, não forçar, não castigar ou premiar. O aviãozinho, por exemplo, não é uma boa opção, pois é uma maneira de enganar e distrair a criança. 
As crianças gostam de ver e de tocar em tudo, por isso devemos permitir inicialmente que a criança toque na comida, brinque com a colher, suje a mesa, pois isto permite que aprenda rapidamente a comer sozinha.

Incentivando-a a fazer as coisas por si própria, estamos a conseguir aumentar o seu interesse e apetite pela comida.
As crianças precisam de tempo para aceitar um alimento novo, uma vez que todos os sabores são desconhecidos. Se recusa algo novo devemos voltar a dar-lho depois e sempre pouco a pouco, duas colheres, depois três, até que chegue o dia em que coma todo o prato.
Um erro no qual muitos pais caem é prepararem apenas alimentos que sabem que os filhos gostam ou evitar outros porque os pais também não gostam. Nenhum é pretexto para justificar os maus hábitos de alimentação nas crianças. 
No entanto, é importante que os pais que têm estas dificuldades e não conseguem gerir procurem ajuda profissional. Muitas vezes é necessário descartar se não existe alguma perturbação orgânica. Estas dificuldades na hora da refeição muitas vezes geram problemas em toda a dinâmica familiar. Educar os nossos filhos a comer bem é educar um corpo saudável e é pouco mais que uma questão de paciência. Desesperar é (a única) coisa que não costuma funcionar. 

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