18 de abril de 2017

Dar Voz à Voz: A Voz na Educação






“... através da voz, traduzimos quem somos, 
o que sentimos e como vemos o mundo” 
Mara Belau & Paulo Pontes

O profissional da voz é definido como “O individuo que depende de uma certa produção e/ou qualidade vocal específica para a sua sobrevivência” (Behlau et al. 2005).

Numa sociedade moderna, um terço dos trabalhadores inserem-se em profissões em que a voz é a sua principal ferramenta de trabalho. O aparecimento de patologias vocais é comum na generalidade, no entanto, são mais comuns em profissões com uma grande utilização vocal como é o caso de professores e educadores de infância. Este grupo de profissionais, utiliza a voz durante um longo período de tempo com uma grande projeção vocal pela dimensão das salas de aulas, e na sua maioria, em salas de aula com má acústica onde existe muito ruido de fundo.

A voz do professor tem como principal objetivo, transmitir conhecimentos aos alunos fazendo com que eles aprendam os conteúdos programáticos, mas a voz é utilizada também para controlar os alunos, assim como expressar sentimentos.

É através da voz que expressamos oralmente as nossas ideias e os nossos pensamentos mas para além disso a voz é também uma das extensões mais fortes da nossa personalidade e consegue espelhar o nosso estado emocional. É parte da identidade e atitude de cada um de nós enquanto falantes e comunicadores.

Os professores e educadores de infância representam uma profissão com uma pesada carga vocal. Este fator, aliado à falta de conhecimento técnico sobre o correto uso vocal, proporciona o aparecimento de patologias vocais. Na sua maioria o desgaste vocal aparece gradualmente, quase que impercetivelmente, em que os sintomas iniciais são desvalorizados por não produzirem modificações percetíveis e significantes.

As queixas vocais mais comuns entre professores e educadores de infância são a rouquidão, sensação de corpo estranho na garganta e de sequidão, cansaço durante a produção vocal, falhas na voz, e dor e/ou ardor na garganta.

Muitos professores apenas tomam consciência da importância da voz, como ferramenta de trabalho e na sua vida pessoal, quando começam a notar os primeiros sintomas como os referidos anteriormente (fadiga, rouquidão, cansaço vocal...), ou até mesmo depois de já terem instalada uma patologia vocal, como é o caso dos nódulos da prega vocal, a patologia mais comum do professor e educador de infância, que pode ser evitada seguindo alguns cuidados. Não só a má utilização da voz pode provocar patologia, outro fatores como o stress, alergias, condições de trabalho inadequadas, gripes e constipações, fumo, álcool, hábitos de falar muito alto e por um período de tempo prolongado, tem um impacto extremamente negativo na voz.

Uma vez que na maioria das vezes, as alterações vocais nos professores e educadores de infância, estão intimamente ligadas ao funcionamento vocal, é necessário que este grupo de profissionais receba formação e orientação sobre o uso e funcionamento vocal, assim como cuidados a ter durante a sua produção para manter uma voz saudável e prevenindo possíveis patologias.

A regra básica para um profissional da voz é a hidratação, é fundamental a ingestão de água ao longo do período de produção vocal. Os líquidos ingeridos devem estar preferencialmente a temperatura ambiente. Segundo Wyk et al. (2016) a hidratação melhora o desempenho vocal dos profissionais da voz. O aquecimento vocal é outro dos hábitos que deveria ser praticado pelos professores e educadores, assim como seria impensável para qualquer atleta iniciar a sua atividade física sem aquecer e alongar os músculos, os professores e educadores que irão estar a utilizar a voz durante um longo período de tempo também deveriam aquecer a voz através de técnicas específicas para esse efeito.

Alguns hábitos diários podem ajudar a melhorar a saúde vocal sendo eles: evitar alimentos muito gordurosos ou condimentados assim como bebidas muito quentes ou muito frias; ter consigo sempre uma garrafa de água à temperatura ambiente; alongar a musculatura da cintura escapular; evitar falar por longos períodos de tempo e com alta intensidade principalmente em ambientes muito secos e com ar condicionado; evitar o consumo de álcool e tabaco; proteger-se de correntes de ar e agasalhar-se adequadamente em dias de frio; evitar o consumo de chocolates, leite e seus derivados antes das aulas uma vez que estes alimentos aumentam as secreções no trato vocal, aumentando assim a necessidade de pigarreio e comprometendo a qualidade vocal.

É importante que o professor verifique quais as mudanças que pode aplicar no seu dia-a- dia e se necessário procurar um otorrinolaringologista e/ou um terapeuta da fala que são os profissionais capacitados para esclarecer as suas dúvidas e ajudá-lo a encontrar soluções para situações relacionadas com a voz, lembrando que a prevenção é sempre a melhor opção. 

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