28 de março de 2017

Os Desafios de Ser Pai na Actualidade



“Não há amor que mais facilmente perdoe,

e mais benignamente interprete e dissimule defeitos,

que o amor de pai.”

Padre António Vieira


Nas últimas décadas, assistimos a uma mudança de paradigma quanto ao papel do pai. O pai, que outrora era percecionado como distante e símbolo de autoridade, deu lugar a um pai cada vez mais presente e motivado para participar em todo o processo que envolve o período gestacional, pós-parto e o desenvolvimento da criança.

Na década de oitenta, começou a estudar-se a importância da figura paterna na educação dos filhos. A relação pai-filho, até aqui negligenciada, começou, a partir desta altura, a assumir grande importância no estudo do desenvolvimento da criança. Foi então possível verificar que a ligação emocional entre o pai e o filho é determinante no processo de transição para a paternidade, assim como para o desenvolvimento do bebé. Este processo decorre num período durante o qual, um homem sem filhos, interioriza pouco a pouco a primeira gestação da mulher e o desenvolvimento fetal do seu primeiro filho. Este período de preparação, durante a gravidez, mais evidente no 3º trimestre, é um período de aprendizagem e adaptação para uma nova fase de desempenho do papel de pai. Neste sentido, é crucial estimular a vivencia de uma parentalidade positiva, a qual pode ser realizada mediante comportamentos que promovam o processo de vinculação.

Atualmente, a gravidez é uma fase da vida partilhada por ambos os progenitores. A maioria dos pais vivencia a gravidez passo a passo, acompanhando a mulher às consultas e aos exames, experienciando com ela todos os momentos importantes no decorrer dos nove meses e preparando, em conjunto, toda a logística necessária para receber o bebé em casa.

No decurso da gravidez é, também, essencial que o casal reflita sobre a presença do pai no momento do parto, cabendo esta decisão apenas ao casal. Se o homem achar que vai ficar demasiado ansioso, impressionado, ou até sentir-se mal (“a imagem clássica do pai a desmaiar na sala de partos”), não tem de culpabilizar-se se decidir não assistir ao parto. A mulher poderá ser acompanhada por um familiar ou alguém que lhe transmita confiança e serenidade. Não obstante, e pensando também naqueles pais que se sentem aptos para assistir ao momento do parto, salienta-se que os estudos realizados indicam que existem inúmeras vantagens para a tríade mãe-pai-filho com a presença do pai durante o parto. De acordo com esses estudos, as mulheres acompanhadas durante o parto estão tendencialmente menos ansiosas, manifestando mais prazer no primeiro contato com o seu filho recém-nascido. Neste sentido, pode dizer-se que o papel do pai, durante o parto, influencia positivamente o comportamento materno e o processo de vinculação mãe-filho. Contudo é necessário que os profissionais de saúde estejam atentos e recebam formação para proporcionar também ao pai uma experiência positiva e gratificante. É importante ter em conta que o pai, durante o parto, pode experienciar sentimentos de ansiedade, inutilidade e desamparo, devido à exigência de todo o processo que antecede o nascimento do bebé, necessitando também ele de apoio.

Após o nascimento do bebé, a tendência atual é de que mãe e pai tenham um papel ativo, partilhando as tarefas necessárias e envolvendo-se em todo o processo de educação e estimulação da criança.

De um modo geral, o pai é muito importante para que a criança tenha um desenvolvimento global adequado e saudável, podendo funcionar como um fator protetor para problemas psicológicos e/ou psicossomáticos da criança, caso esteja presente na vida do seu filho desde a gestação e desenvolva com ele uma relação baseada no afeto, amor, amparo e suporte. A relação pai-filho é assim um dos fatores determinantes para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, sendo também facilitadora da capacidade de aprendizagem e integração da criança na sociedade.

As funções do pai e da mãe são assim complementares. Ser pai e ser mãe são condições construídas numa relação afetiva a três, não sendo desejável que uma das partes seja excluída ou tenha uma participação secundária. É assim desejável que o filho seja uma prioridade na relação entre o pai e a mãe, os quais devem proporcionar, de forma partilhada e equitativa, amor, cuidados, educação, segurança física e afetiva à criança.

Neste sentido, salienta-se que, a função paterna, à semelhança da função materna, tem um papel central no desenvolvimento e estruturação do mundo emocional interno da criança e na formação da personalidade do adulto. É na família, mediadora entre individuo e sociedade, que a criança aprende a perceber o mundo que a rodeia e a situar-se nele. A família é a formadora da primeira identidade social da criança, e é no convívio com a família que a criança internaliza padrões de comportamento, normas e valores da sua realidade social. Isto acontece pela mediação do pai e mãe, que estabelecem vínculos básicos e essenciais entre a criança e o mundo social, situação a partir da qual ela passa a se reconhecer e a reconhecer o outro numa relação de reciprocidade.

Tendo em conta o exposto e na sequência do artigo anterior, quero convidar todos os pais a refletirem sobre a relação que têm com os seus filhos e sobre como a podem melhorar, caso assim o entendam. Aproveito para sugerir que celebrem sempre essa relação, através da partilha de momentos de afeto e amor, pois são cruciais para ter e manter uma relação de pai e filho adequada e saudável. E não se esqueçam também da importância da chamada “tríade mãe-pai-filho”, pois também ela necessita de ser cuidada e trabalhada, para que se mantenha sempre saudável. Só assim podemos contribuir para o bem-estar psico-emocional e saúde física das nossas crianças e dos seus pais e mães, e contribuir para uma sociedade e humanidade mais saudável e inclusiva.





Sem comentários: