19 de março de 2010

As Crianças e a Televisão



A televisão faz parte do mobiliário de casa. Em muitos lares existe mesmo mais que um televisor, ou um para cada membro da família. Este objecto faz parte do dia-a-dia e as pessoas chegam a moldar as suas vidas de acordo com a programação televisiva. Quantos encontros não terão sido desmarcados para ver um jogo de futebol transmitido na televisão ou para ver um episódio daquela telenovela ou série? Algumas vezes a curiosidade que um novo episódio nos suscita fala mais alto do que outras tarefas ou compromissos.

Será que as crianças já não estão também tão familiarizadas com a televisão ou determinado programa, que se torna difícil abandoná-lo? A verdade é que muitas crianças passam grande parte do dia em casa e é nesses momentos que a televisão, que está sempre por perto e com imagens animadas e sons atractivos, se torna uma verdadeira baby-sitter (Pinto, 2002)¹.

A televisão mantém as crianças em casa, afastadas dos perigos da rua, sossegadas e caladas o que, por vezes, para os pais é um verdadeiro alivio. A televisão tornou-se demasiado próxima, cria familiaridade e intimidade com os modelos televisivos, de facto, as crianças imitam-nos constantemente e esta influência quotidiana molda as suas atitudes e comportamentos.

É através da televisão que a criança descobre o mundo e as respostas chegam-lhe através do ecrã mesmo antes de existir a necessidade de formular as questões. Por exemplo, muitas das necessidades alimentares, de vestuário ou brinquedos nascem através da publicidade ou identificação com determinada personagem. 

De facto existe uma preocupação pública relativamente aos efeitos da televisão no desenvolvimento das crianças, nomeadamente no que respeita ao tempo que elas passam a ver televisão, fomentando atitudes e comportamentos de passividade e retirando tempo a outras actividades, como a leitura, tarefas escolares ou diálogo familiar, que poderão levar ao insucesso escolar, problemas de visão, obesidade, etc. 

Mas não são os programas de televisão os responsáveis pelos efeitos que possam ter nas crianças. Importante é sim o contexto em que a criança vê televisão e a relação que estabelece com ela. Cabe aos adultos, principalmente pais e educadores explicar às crianças o que estão a ver na televisão e prepará-los para ver televisão de modo a que não sejam tão vulneráveis aos seus efeitos nocivos.

A actividade televisiva das crianças deve ser controlada em termos de tempos e conteúdos. Os adultos devem fazer a mediação entre as crianças e a televisão, ajudando-as a traduzir e atribuir significado aos conteúdos transmitidos, assistindo aos programas em conjunto com o objectivo de os discutirem e interpretarem, proporcionando às crianças uma compreensão crítica e consciente da televisão. Esta intervenção dos adultos é essencial para reduzir os efeitos negativos da televisão e proporcionar o desenvolvimento das crianças 

A família pode servir-se da televisão para estarem juntos ou para se afastarem. O uso e funções da televisão dependem do contexto em que a actividade televisiva surge, ela pode ser um contributo para a interacção e comunicação, proporcionando novos temas de conversa familiar ou destruí-la, pode gerar conflitos acerca de que programas ver, quem fica com o comando, etc. 

É preciso não esquecer que se pode educar através da televisão, já que esta transmite conteúdos formativos e educativos podendo facilitar a sua compreensão, mas mais importante é educar as crianças para o uso da televisão, formando espectadores conscientes, críticos e activos e que saibam utilizar o que a televisão lhes oferece. 


¹ Pinto, M. (2002). Televisão, Família e Escola. Lisboa: Editorial Presença

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